Muito tem se falado - e com toda razão - das consequências físicas do atentado sofrido pela delegação do Fortaleza. Vários jogadores sem machucaram e o Tricolor irá a campo no domingo (3), para enfrentar o Fluminense/PI ainda sem peças importantes. Mas é preciso jogar luz sobre a saúde mental e os traumas que vão além das feridas.
E o afastamento de Thiago Galhardo é uma demonstração clara de como estas cicatrizes são muito mais profundas que as vistas na pele. Galhardo foi liberado pelo Fortaleza para cuidar da saúde mental.
O camisa 91 relatou crises de pânico e ficará sete dias longe das atividades. Ele foi, acima de tudo, corajoso. Para reconhecer o momento, abrir publicamente e pedir ajuda. E, também, por falar sobre um tema que é um grande tabu em um meio tão preconceituoso como é o futebol.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população. Há também um enorme alerta sobre a saúde mental dos brasileiros, já que uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida.
Outro levantamento, feito pela Vittude, (plataforma online voltada para a saúde mental e trabalho), aponta que 37% das pessoas estão com estresse extremamente severo, enquanto 59% se encontram em estado máximo de depressão e a ansiedade atinge níveis mais altos, chegando a 63%.
Jogador de futebol também é humano! São submetidos a enorme pressão diariamente e, embora não falem muito sobre o assunto, também sofrem dos mesmos problemas e fazem parte desta estatística.
Estamos chegando a uma semana da barbárie e ninguém foi preso. Nenhuma solução prática foi posta em debate. Não houve nenhuma mobilização coletiva dos agentes do futebol (jogadores, dirigentes, clubes e entidades) para ecoar o absurdo que aconteceu no Recife. Muitos seguiram a vida como se nada tivesse acontecido.
Mas aconteceu. E foi muito grave. E se o Brasil fosse um país sério, não deveria nem ser cogitado o Fortaleza entrar em campo nesta situação.
Mas, enquanto isso, os funcionários e dirigentes que terão que recuperar os atletas não apenas fisicamente, mas, sobretudo, psicologicamente. Os traumas vão muito além das feridas.