Será que estou falando grego? Dicas para se comunicar melhor com filhos

Quem nunca falou que "parece estar falando grego" em refência ao filho "desobediente"? Muitos pais e mães se queixam, de que, tudo que elas falam para os filhos, soam como outra língua. Reclamam que precisam repetir várias vezes, a mesma ordem, para que seja obedecida. E isso não acontece apenas com as crianças, mas também com os adolescentes.

Mas por que eles não ouvem? Onde essa comunicação falha? Em que momento eles “desligam”?

Saber se comunicar com os filhos é essencial para a saúde psíquica de toda a família. Uma comunicação clara, garante crianças e pais menos estressados. Um detalhe importante que os responsáveis precisam saber, é que na maioria dos casos, nem sempre os filhos são os responsáveis por essa falha na comunicação.

Communicare, no latim significa, compartilhar, tornar comum, gerar conexão. Mas para gerar essa conexão, os pais precisam estar atentos ao seu tom de voz, expressões corporal e facial. Pois os ditos e “não ditos”, são importantes para se estabelecer uma boa comunicação com os filhos.

Sabemos que a paciência é essencial, mas existem atitudes simples que se seguidas corretamente, ajudam muito nessa conexão. Claro que cada caso tem suas peculiaridades, que devem ser observadas. Porém, seguem algumas dicas que facilitam a comunicação e que podem ser utilizadas e adaptadas para várias situações. Tentem utilizá-las e vejam o efeito no relacionamento com seus filhos.

Olhar nos olhos
Baixar o tom da voz.
Abraçar
Ser direto e assertivo

Essas são algumas ações que ajudam a traduzir com clareza o que você espera da criança/adolescente. Mas como fazer? Pois bem vamos lá.

Olhar nos olhos:

Pesquisas mostram que o olhar molda a percepção que temos do outro. No dito popular “pessoas que não nos olham nos olhos não são dignas de confiança”, por isso se você quer ganhar a confiança do seu filho, fale com ele olhando nos olhos. No caso das crianças, desça a altura dos olhos deles e passe a sua mensagem.

Evite falar com seus filhos quando você estiver com raiva, pois sua expressão facial fala tanto quanto, ou mais que as palavras. Olhos esbugalhados indicam ameaça, e nosso “cérebro reptiliano”, absorve essa expressão como se fosse de um predador, ativando a região da amigdala, que é a responsável pela raiva e o medo. Nesse caso, o cérebro emite a ordem de lutar ou fugir, o que destrói completamente qualquer possibilidade de conexão.

Em qualquer situação, o seu olhar precisa ser brando e amoroso, devendo passar sua mensagem com transparência e firmeza.

Baixar o tom da voz:

Imagine você adulto em seu trabalho, seu chefe, por alguma razão está estressado, e chega gritando ordens. Qual a sua reação? Pois bem, é assim que seu filho se sente quando você fala com ele gritando.

Fale compassada e calmamente, em um tom de voz que seja audível, sem excessos. Quando você grita, hormônios como adrenalina e cortisol, são liberados no sangue, do seu filho, bloqueando qualquer processo de aprendizagem. Além de que essa experiência negativa, pode transformar-se em estresse e angústia e com a repetição desse tipo de experiencia seu filho pode desenvolver uma ansiedade.

A escolha das palavras é também muito importante, procure usar palavras que melhorem a autoestima dos seus filhos. Primeiro reconheça e valide os sentimentos dele e depois fale sobre o que você espera que seu filho faça. Evite julgamentos, críticas ou o reforço do erro cometido.

Abraçar:

O abraço é acolhimento, é apego, intimidade, gera confiança, representa proteção e aumenta a sensação de pertencimento. Muitas vezes o simples ato de abraçar seu filho, faz com que ele se acalme e fique mais receptivo ao aprendizado.

Em muitos casos, nos momentos de conflito, é necessário primeiramente um abraço, calmo e acolhedor para que a comunicação flua. Porém, o grande desafio é que os pais estejam emocionalmente equilibrados, para que o “abraço terapêutico” funcione. É impossível oferecer um abraço amoroso, quando você não está no pleno controle de suas emoções.

Lembre-se, uma vez que você esteja calmo, e consiga fazer seu filho se acalmar, a receptividade surgirá e permitirá que ele compreenda o que você está tentando lhe dizer, muito mais rapidamente.

Ser direto e assertivo:

Ser assertivo é ser direto e objetivo, é ter a capacidade de ser firme e transparente, de comunicar o que você espera do seu filho, sem causar ou sentir constrangimentos.

No lugar de dar um castigo imediato por algo que seu filho tenha feito de errado, inicie um diálogo sobre o erro cometido, fazendo com que ele reflita sobre a ação cometida e as consequências dessa atitude, sempre mostrando o que você espera dele.

Os acordos e os combinados devem ser claros e podem ser construídos junto com seus filhos, dando a eles espaço de fala. Quando você constrói junto com seu filho as regras de convivência, você o está ajudando a treinar as funções executivas, um constructo complexo que envolve várias habilidades cognitivas necessárias para o planejamento e execução de atividades. Ou seja, você está dando ao seu filho a independência, a capacidade de questionar, de pensar, o tornando mais maduro.

Reduza as palavras. Seja breve! Longos discursos são cansativos e seus filhos não irão escutar. Ao invés de sermões, faça perguntas, escute atentamente as respostas, e a partir delas vá alinhando a rota do diálogo.

Por meio das respostas, identifique, nomeie e trate os sentimentos por trás do comportamento. Oriente seu filho no caminho da atitude adequada.

Aqui vale explorar a criatividade e recorrer ao lúdico também. Você pode se utilizar de encenações, de brincadeiras, colocar o bonequinho (a) para dialogar. No caso de adolescentes, lembrar de como você se sentia na sua adolescência, e conversar sobre essas experiencias com eles. Tente adequar o discurso e as ferramentas que você utilizará à faixa etária do seu filho.

Por fim, todo e qualquer ensinamento deve vir carregado de amor e compreensão, embora as técnicas sejam de grande valia, o que vai realmente apresentar um resultado positivo é a quantidade de amor envolvido nas suas atitudes com seus filhos.

E você? Em qual língua se comunica com seu filho?

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora