Cidade é substantivo feminino. Assim define qualquer dicionário da língua portuguesa. Porém, não é essa a razão pela qual é decisiva a participação das mulheres nos vários momentos da urbanização. Tal como as mulheres, as cidades são criativas e decisivas para a vida social.
Ainda nos primeiros arremedos de civilização, e nos momentos iniciais da sedentarização humana, as mulheres propiciaram uma sorte de inovações sociais a permitir a fixação dos grupos humanos no território. O historiador Lewis Munford, em A Cidade na História, é categórico ao descrever as atividades fundantes executadas pelas mulheres, sobremaneira, na criação de técnicas, no manuseio de artefatos e na organização social.
Milênios depois estavam as mulheres trabalhando 16 horas por dia nas fábricas inglesas nos primeiros anos da chamada Revolução Industrial. Foram responsáveis por muitos protestos, lutando, especialmente, por dignas condições de trabalho.
As ruas foram teatro das manifestações com objetivo de reinventar a vida nas cidades, dando aos trabalhadores e às trabalhadoras condições reais de existência.
Ainda no século XIX e nas primeiras décadas do XX, lá estavam corajosas a apontar as desigualdades de direitos. Era preeminente dar voz política às mulheres para a constituição de ambiente verdadeiramente democrático, ou seja, consagrar o direito de votar e, da mesma forma, colocar-se como cidadãs elegíveis.
Já no final do século passado, vislumbram-se novas formas sociais, condicionantes das transformações na cidade. Uma das principais: notamos a inserção cada vez mais qualificada das mulheres no mundo do trabalho e em diferentes áreas do conhecimento, quebrando barreiras e preconceitos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2019, as mulheres eram maioria com formação completa em cursos de nível superior.
Essas reivindicações não foram facilmente aceitas ou conquistadas. Nos dias atuais e, mais especificamente, nas cidades brasileiras, o IBGE registra a crescente quantidade de mulheres como únicas responsáveis econômicas por suas famílias. Muitas dessas, moradoras de espaços precários, desassistidas de políticas públicas e em condições de vulnerabilidade social.
Há ainda vergonhosa diferença salarial entre homens e mulheres, mesmo exercendo as mesmas funções.
Pior que tudo isso, nas ruas, nos transportes públicos ou mesmo nas suas residências, nossa sociedade não garante segurança e respeito às mulheres.
Se almejarmos cidades mais justas e a apresentar qualidade de vida, esse objetivo há de contar com a ação efetiva de professoras, políticas, pesquisadoras, arquitetas, advogadas, engenheiras, etc. Isso não é uma concessão de quem quer que seja, é uma necessidade histórica e geográfica.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.