A diretoria do Fortaleza planeja entrar em novo estágio nas categorias de base durante a temporada de 2021. Após triplicar o investimento na formação de atletas, clube busca a criação de um setor de análise de mercado específico para a captação de novos talentos.
O plano é uma das metas de Agnello Gonçalves, novo executivo das divisões tricolores de formação. Multicampeão no Corinthians e com passagem pela gestão profissional de times como Avaí e Joinville, o dirigente realiza um trabalho de diagnóstico do Pici.
As diretrizes envolvem fortalecer a integração com o time principal, executar um plano estratégico para a base e traçar um perfil do jogador que deve atuar no time. O processo histórico de identificação com o torcedor também será avaliado - tudo com participação de Roberto Moreira, diretor das categorias de base, modalidades amadoras e olímpicas.
A ideia central é elaborar um departamento de inteligência. Assim a equipe pode intensificar o processo de contratação de bons valores e melhorar o banco de dados para scouts e estatísticas. A função de Agnello perpassa unificar esses mecanismos a fim de criar uma metodologia para o clube.
Vale ressaltar que a experiência do executivo tem papel chave no projeto das categorias de base. No time paulista de 2010 até 2015, o dirigente atuou na transição de jogadores ao profissional ao lado do gerente Edu Gaspar e da comissão técnica de Tite, hoje na Seleção Brasileira.
Dentre os nomes beneficiados nessa integração estão exemplos como o zagueiro Marquinhos (PSG, da França), o lateral esquerdo Arana (Atlético-MG) e o atacante Malcom (Zenit, da Rússia). Logo, faz parte do planejamento também internacionalizar mais a marca e a atuação da base do Fortaleza.
Confira entrevista com Agnello Gonçalves
Carreira
"Tentei jogar futebol, mas as coisas não ocorreram. Em 2000, segui o caminho do estudo. Entrei em educação física, minha ideia era ser técnico, mas passei por muitas etapas, fui de preparador físico para área de scout. Em 2009, seguindo convite do Zico, deixei o Rio no meu primeiro contato fora do Estado e fui para Santa Catarina, onde coordenei a base de um clube profissional. Depois tive oportunidade de estágio no Paraguai, com Arce e Gamarra. Tinha um contrato fechado para ficar lá, mas recebi um convite do Avaí. No mesmo ano surge o Corinthians, então tomei a decisão de focar na gestão. Fiz cursos de MBA, da FIFA. Trabalhei no Corinthians, depois no Avaí em 2016 e 2017. Em 2018, próximo do acesso, vou para Joinville montar a estrutura de profissional e base. Estou muito feliz no Fortaleza. Espero contribuir e deixar um legado aqui".
Função no Fortaleza
“A função do diretor executivo na pirâmide organizacional é estar na ponta e montar o planejamento estratégico macro. Não é diretamente no campo, mas de montar o plano e melhorar os setores. São pilares importantes para mim a gestão de processos, de tempo e de informações. E, na minha função, estou nessa ponta para criar a dinâmica, a ideia de investir no departamento de inteligência, e por onde passei, eu consegui. Fiz isso no Avaí, Corinthians e Joinville. Que eu consiga deixar funcionando com um braço na análise de mercado e outro nos scouts do jogo. O outro passo é o de performance humana, olhando para o atleta. A partir de então, extrair o melhor possível deles”.
Diagnóstico da base
"A gente conhece o Fortaleza, tem notoriedade no mercado. Já tive contato com o Marcelo Paz, convites do próprio presidente para vir em 2015, mas tudo tem a sua vez. Levantei informações do clube, do departamento atual, e estou tentando seguir o passo a passo. Neste momento estou em análise, a fim de entender a cultura do clube e da cidade. Pra mim é incoerente chegar com algo pronto, preciso saber que tipo de jogador o time espera, que tipo de time a torcida do Fortaleza quer, para depois ir para elaboração do projeto, implementação. Se faz necessário isso para, na minha experiência, montar algo que atenda as expectativas do clube”.
Metas para 2021
“A primeira é competir em alta performance, elevar o nível de exigência. Quero que, quanto mais estivermos presentes em torneios nacionais e internacionais, vamos ter essa performance. Em paralelo, investir em informação para captar os atletas que atendam as expectativas do clube, que sejam atletas com força, com entrega, como diz o hino ‘aguerridos’, é uma cultura presente, a torcida quer. Penso que seja isso para captar e encontrar os talentos e promover uma adaptação melhor no profissional, dar tempo. Esse é um segundo passo, faz parte da absorção, mas se captar bem, ter esses processos, o clube tem muito o que conquistar. É ter retorno técnico e econômico”.
Base e profissional
“Está em pauta, o presidente já comentou sobre isso, de planejar (para início de 2021). O Sub-23, é evidente que se faz necessária a participação total do time principal. É totalmente incoerente contratar jogadores sem o olhar do principal, essa participação tem que existir. Temos que focar em algumas competições, priorizar as nacionais. Para a experiência dos atletas, jogar com uma escola diferente é enriquecedor. Na época do Corinthians, muitos que passaram (para o profissional), a gente viu a evolução e o crescimento. São culturas diferentes e amadurecem muito. No momento oportuno, vamos planejar o melhor possível (da integração base e profissional)".
Experiência no Corinthians
"Tiveram algumas (grandes revelações). Na verdade, somos eternos formadores, e peço na base para olhar para a formação do cidadão, tem que ter cobrança comportamental, para ele seguir no profissional com visão de caráter e valores. Marquinhos, Malcolm, Maycon e Arana são jogadores que passaram por esse processo, que começaram comigo no Sub-15, tive o privilégio. O próprio Marquinhos, da Seleção, eu fui levá-lo na Granja pessoalmente e me chamava atenção o comprometimento dele, de se resguardar antes do treino. Foi muito marcante (o Corinthians), não só pelos títulos, mas pelos jogadores que conseguimos no profissional. Foram 33 títulos no total de 2010 até 2015, com bicampeonato do Mundial de Clubes e quatro finais de Taça São Paulo”.