Um desejo de ano novo para o Cariri

Em 2022, o Museu de Artes Vicente Leite vai completar meio século. A comemoração seria certa, se ele não estivesse fechado há 14 anos. O espaço, inaugurado em 1972, ocupava o piso superior do sobrado localizado numa esquina da praça da Sé, o miolo da cidade do Crato. O imóvel do século XVIII já foi a antiga Casa de Câmara e Cadeia. É tombado e, para onde se olha, parece necessária a restauração. Mas a parte superior interna do prédio histórico é ainda mais deteriorada. Da última vez que entrei, a madeira se desmanchava. Não suporta as obras. Infelizmente, a reconstrução nunca foi concluída. 

O museu foi criado num esforço de artistas que se reuniram e montaram um acervo com doações para homenagear Vicente Leite, desenhista e pintor que nasceu no Crato em 1900 e morreu jovem, aos 41 anos, no Rio de Janeiro. A ideia de ter um museu expondo pinturas e esculturas foi de Bruno Pedrosa, artista plástico de Lavras da Mangabeira, criado no Crato, que estudou no Rio e mora em Asolo, no norte da Itália. Conversei com Pedrosa esta semana. Ele tem esperança de ver o museu reaberto, apesar do desgosto com a situação. 
"Obras desapareceram", afirma Pedrosa. A denúncia é grave. O Ministério Público investiga. Pedrosa guarda documento cartorial que permite ter de volta as obras, mas não pretende usar. Há uma expectativa promissora para 2022. 

O Instituto Cultural do Cariri tem feito campanha pela reabertura. O secretário de Cultura do Crato, Amadeu de Freitas, afirma que, neste janeiro, será publicado mais um edital de licitação para contratar empresa que se responsabilize pela obra, já que não apareceram concorrentes em duas ocasiões.

Memória da infância

O museu é uma lembrança da minha juventude. Morava em Porto Alegre, no Sul, mas, quando vinha ao Crato, visitar o museu era um programa certo, mesmo sem entender o que era a arte e a importância dela para a vida. E essa era a intenção de Pedrosa: dar às crianças e aos adolescentes a oportunidade de conhecer o trabalho dos artistas da terra.

O acervo do Vicente Leite reúne nomes como Celita Vaccani, José Reis de Carvalho, Pedro Américo e Sinhá d'Amora. São muitas obras raras, como a vista panorâmica da cidade do Crato, retratada por Carvalho, um horizonte apagado pelo progresso, mas eternizado na tela graças ao talento do artista. Hoje, as obras estão guardadas num local que a prefeitura mantém em segredo por questão de segurança, longe dos olhos e do coração do povo do Cariri. Que em 2022 o nosso desejo se realize: possamos apreciar de novo o acervo do Museu de Arte do Crato.

Paulo Henrique Rodrigues é jornalista