É impossível não ficar impactada pelas tragédias urbanas que temos presenciado, especialmente nesta época do ano. O Dia do Urbanismo, comemorado mundialmente em 8 de novembro, é uma data que deveria ser um marco de reflexão sobre como construímos nossas cidades e como elas se adaptam às mudanças do clima. Recentemente, a Europa viveu um pesadelo com enchentes repentinas que resultaram na perda de mais de 64 vidas (até o momento). Imagens de cidades submersas em água lamacenta e destruição nos fazem questionar: o que estamos fazendo para evitar que isso continue ocorrendo?
Em contraste, Viena, na Áustria, enfrentou também condições climáticas extremas, com chuvas que superaram duas a cinco vezes a média mensal em apenas cinco dias. No entanto, os danos foram mínimos: 10 feridos e 15 casas evacuadas. A diferença entre essas duas realidades não é mera sorte; é resultado de décadas de investimento em um robusto sistema de gestão de enchentes. Com um investimento anual de cerca de 60 milhões de euros em medidas de proteção, a Áustria desenvolveu estratégias que se mostraram eficazes em situações adversas, como ilhas artificiais e canais de controle de cheias.
Esses investimentos não são apenas gastos, mas sim uma forma de garantir a segurança e a qualidade de vida de toda uma população. As paredes móveis, que retêm grandes volumes de água, e um sistema de previsão do tempo mais preciso são exemplos de como o urbanismo pode ser proativo, e não reativo. As vidas e os recursos que são economizados ao prevenir desastres são, sem dúvida, muito maiores do que os investimentos feitos em proteção.
Como arquiteta, vejo que é nosso dever aprender com casos de sucesso como o da Áustria e aplicar essas lições globalmente. A construção de cidades resilientes deve ser uma prioridade, e isso só será possível com um planejamento urbano que leve em consideração as mudanças climáticas. Urbanismo climático não é apenas uma tendência; é uma necessidade. Chegou o momento de parar de ver o urbanismo apenas como a arte de construir, mas como a ciência de preservar vidas e garantir um futuro mais sustentável.
Bia Sales é arquiteta residencial e corporativa