Novo benefício trabalhista?

Apesar desse crescimento relevante ao longo dos últimos anos, os custos para a preservação da fertilidade feminina ainda são fatores limitantes para a demanda reprimida

O perfil reprodutivo feminino está mudando em todo mundo. A idade da mulher ao alcançar a maternidade pela primeira vez vem aumentando em decorrência de vários fatores, especialmente a inclusão no mercado de trabalho e a realização profissional. Assim, o número crescente de mulheres com dificuldade para engravidar já é uma realidade. A necessidade de planejar a vida reprodutiva alavancou a busca por centros de reprodução assistida para congelamento de óvulos. Dados nacionais e internacionais revelam que em 2021, comparado ao ano anterior, houve um aumento em torno de 50% no número de ciclos de tratamento iniciados para preservação social da fertilidade.

Apesar desse crescimento relevante ao longo dos últimos anos, os custos para a preservação da fertilidade feminina ainda são fatores limitantes para a demanda reprimida. Nesse sentido, grandes empresas americanas passaram a incluir a “preservação corporativa da fertilidade” na lista de benefícios trabalhistas e, a partir daí, outras empresas aderiram a esse movimento. No Brasil, algumas oferecem benefícios trabalhistas relacionados ao planejamento reprodutivo.

Entretanto, o que inicialmente pode ser uma excelente política de incentivo profissional e de saúde reprodutiva oferecida pelo empregador, é preciso avaliar o viés de outros interesses comerciais envolvidos. Um estudo, publicado em janeiro deste ano pelo Journal of Applied Psychology, observou que o custeio do congelamento de óvulos pode demonstrar um sinal negativo para a empresa, sugerindo que a corporação estimula a troca da maternidade, a criação dos filhos, e a experiência de um bom convívio familiar pela extrema dedicação ao trabalho.

Além disso, é preciso alertar as mulheres que optam pela preservação social da fertilidade que o congelamento dos óvulos não é garantia de ter um filho em casa quando desejar. Ter um “estoque de óvulos” em um centro de medicina reprodutiva permite à mulher tentar engravidar futuramente. Uma maternidade bem sucedida no futuro depende de fatores como a idade da mulher no momento do congelamento e o número de óvulos maduros preservados.