Transformações ou adequações? Vamos delimitar! Afinal de contas, reiteradamente, definimos coisas, efeitos e causas. Nesse contexto, como podemos caracterizar as adequações midiáticas que os conteúdos educacionais pós-modernos estão alcançando? Refiro-me a adequações, e não a novidades, porque, ao contrário do que o senso comum imagina, a educação já deixou de se restringir à sala de aula há muito tempo. Para desgosto de muitos, a ciência educacional ultrapassou corredores e muros, percorreu a cidade e, hoje, está presente também nas praças, demonstrando sua "evolução e adaptação" às novas realidades sociais.
Assim como o poema sinfônico Moldava, de Bedřich Smetana, é inegável que a educação também percorre o fluxo das mudanças e do movimento contínuo. Os "edutokers" e "edutubers" hodiernos eram conhecidos como "teleducadores" no início do século. Desse modo, a educação, na maioria das vezes, "molda seus métodos", porém o que mais me preocupa não são apenas as práticas, mas os propósitos.
Para ilustrar essa questão, Ernani Ferraz, professor adjunto da Faculdade de Comunicação da UFJF, já alertava, em 2001, sobre as necessidades que envolvem as mudanças sociais e econômicas, focando principalmente na interação entre dois agentes fundamentais: a comunicação e a educação. Na época, ele argumentou que, à medida que os modos de comunicação evoluem, a educação também precisa se adaptar. Todavia, o problema reside justamente nessa adequação meramente prática. Saímos de uma sociedade baseada no "vigiar e punir", onde o poder era exercido por meio da disciplina e dos compartimentos, e agora ingressamos em uma nova perspectiva líquida social: a modulação dos comportamentos.
Em resumo, superar o modelo “panóptico” na educação vai além de simplesmente adotar uma abordagem adaptativa, que apenas ajusta os comportamentos de alunos e professores com base em conteúdos que promovem alto engajamento. Qualquer modelo educacional prático deve transcender as necessidades subjetivas do ensino. Seja como “edutuber” ou “educator”, é essencial que sejamos independentes e críticos, livres de prisões compartimentadas ou comportamentais.
Davi Marreiro é consultor pedagógico