Educação e o autofagismo político

Sem surpresas! O relatório conclusivo da Conferência Nacional de Educação (Conae 2024) seguirá as diretrizes já delineadas em seu documento de referência, propondo a suspensão do modelo do Novo Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Simultaneamente, defenderá a revisão e ampliação dos propósitos estabelecidos no anterior Plano Nacional de Educação (PNE). Em resumo, diante da não consecução dos objetivos em uma década, a sugestão é prorrogar o prazo e alargar as metas, embora essa engenhosidade seja denominada como o Novo PNE.

Conforme o documento de referência, página 58, o Novo Ensino Médio (NEM) e a BNCC são reformas educacionais que cedem “a pressões reducionistas de interesses privados, e oriundas de um modelo que enxuga o papel do Estado, como as agendas neoliberais que cresceram nos últimos anos no campo educacional.” Em outra parte do texto lemos: “Em suma, é preciso contraposição a todas as formas de desqualificação da educação…”

Resumindo, expresso críticas que exploram aspectos políticos e pedagógicos, tanto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) quanto da implementação do Novo Ensino Médio (NEM). No entanto, a tentativa da Conae 2024 de depreciar essas políticas educacionais unicamente através de posicionamentos sectários, infelizmente demonstra apenas que o nosso sistema político, com suas divisões, continua operando de maneira esdrúxula e reativa na maioria das circunstâncias.

Anteriormente, tanto instituições quanto personalidades públicas, apesar de algumas reservas pedagógicas, “endossaram” a BNCC e o NEM. No entanto, o recente documento referencial da Conae critica essas mesmas políticas, rotulando-as como instrumentos para a "desqualificação da educação". É lamentável observar como as instituições e decisões políticas brasileiras são dominadas por figuras e profissionais do espetáculo que servem exclusivamente aos interesses do poder dominante. Isso caracteriza um autofagismo político, parafraseando Debord, uma mazela que prejudica gravemente a educação nacional. Infelizmente, encontramo-nos em uma situação de desamparo, à mercê dos ventos de interesses meramente partidários.

Davi Marreiro é consultor pedagógico