Várias são as formas de abuso psicológico. No entanto, temos um tipo de abuso que é muito característico por ser, de certa forma, “invisível”, que não deixa marcas físicas, sendo, portanto, difícil de ser analisado e penalizado.
É o Gaslighting, tipo de abuso no qual a vítima quase nunca tem consciência de estar sendo abusada. Ou pelo menos, não como se entende geralmente o termo, já que não há uma agressão clara. Mas sim, a agressão existe, acontece muito e vem disfarçada de ações que podem camuflar a perversidade do processo.
A melhor definição seria de uma manipulação sutil, na qual o abusador enfraquece a autoestima, o amor-próprio e a confiança da vítima, fazendo com que ela se coloque cada vez mais submissa, dependente e, se anulando a tal ponto que, não consegue ter a clareza destes atos, colocando em dúvida suas próprias emoções e seus medos.
A dinâmica mostra que, na cabeça da vítima, o abuso não está acontecendo, e ela acaba achando que ela é realmente culpada. Em grande parte das situações, ela deixa de ter voz, pois é menosprezada em seus pontos de vista, chegando até a se fechar de tal forma que vai se anulando cada vez mais.
A dificuldade em se identificar ou denunciar este tipo de abuso psicológico está exatamente no fato de que a vítima quase nunca tem consciência de estar sendo abusada.
Uma das características deste processo é que o agressor usa de estratégias perversas para fazer com que a vítima tenha dúvidas sobre os fatos e acredite que tudo não passa de invenção, paranoia ou uma histeria de sua cabeça. Faz com que ela pense estar sempre equivocada e exagerando em suas proposições.
E no meio desta confusão de sentimentos, muitas vezes se fecha ou se cala, por acreditar que está mesmo errada e que o abusador está com a razão. E, de forma a reparar suas “falhas”, ela pode acabar entregando a ele sua capacidade de discernimento sobre os fatos e sobre sua vida de forma geral.
Insultos, agressões verbais, diminuições claras, depreciação, também são ingredientes que podem ser encontrados nessa rede do Gaslighting. E é aqui que começam os problemas e possíveis transtornos psicológicos.
Andréa Ladislau
Psicanalista