Economia ambulante na RMF: a cada quatro, um é autônomo

Representantes autênticos do empreendedorismo do Nordeste, que é feito a partir das adversidades impostas por condições maiores a eles, comerciantes de ruas movimentam dinheiro e perpetuam o modo de vida típico da Região

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Ao longo das calçadas e praças, ou instalados em uma esquina, é quase rotineiro cruzar com um vendedor de tapioca ou de milho verde, alguém oferecendo flanelas para carros, relógios despertadores ou suportes para GPS veicular. As bancadas e carrinhos de vendedores ambulantes são elementos característicos não apenas da paisagem de Fortaleza, mas de boa parte das metrópoles do País.

Mais do que contribuir para movimentar a economia, ainda que por vezes sem registros oficiais, os ambulantes incorporam também aspectos históricos e culturais da cidade.

As discussões sobre a ocupação dos espaços públicos, motivada pela presença dos ambulantes nas ruas da cidade, segundo o coordenador de Estudos e Análise de Mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, aparecem desde os anos 1930.

"A gente tem mania de andar na rua, e não na calçada", observa Mesquita, revelando como esse tipo de trabalho ajudou a moldar alguns hábitos urbanos. O surgimento da atividade, principalmente no Nordeste, explica o analista, tem relação com o desenvolvimento econômico tardio e o baixo número de postos de trabalho. "Essa mão de obra tinha que se virar, então as pessoas foram se engajando em outras atividades", explica.

Avesso a patrão

De trabalho alternativo à fonte de renda suficiente para sustentar a casa, o ambulante incorporou, inclusive, certo aspecto vantajoso, principalmente para quem é adepto da ideia de não ter patrão. Essa presença dos autônomos se reflete no modo como as relações econômicas e empregatícias são estabelecidas na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

De acordo com a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada pelo IDT, do total de 1,75 milhão de pessoas ocupadas na RMF, 640 mil são autônomos ou não possuem emprego de carteira assinada.

"Para cada quatro pessoas ocupadas, uma é autônoma. É a maior proporção nas sete regiões onde da PED", compara Erle Mesquita.

'Algo estrutural'

"Houve crescimento grande da formalização, mas boa parte da força de trabalho está na informalidade. A gente viu que, contrariando o que a literatura dizia, a informalidade não é fruto da falta de trabalho formal, é algo estrutural da economia brasileira", defende o especialista.

O próprio aumento do emprego formal e a valorização do salário mínimo contribuem para o crescimento da demanda dos autônomos, segundo Mesquita. "São categorias que prestam serviços à população, em ocupações como pedreiros, diaristas, taxistas e os próprios ambulantes, que têm a produtividade impulsionada pelo aumento da massa salarial", expõe.

Apesar dessa dinamicidade, garantias básicas, como aposentadoria e outros benefícios da Previdência Social, são uma realidade distante para muitos desses autônomos, que, por falta de informação ou mesmo de tempo, não buscaram a formalização. Mas prosseguem transformando, com criatividade, uma realidade de poucas oportunidades em meio de vida.

Jéssica Colaço
Repórter

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