'Brasil perde espaço em infraestrutura'
O elevado custo do transporte e o tempo longo para entrega são obstáculos ao avanço do setor no País
Rio. O Brasil tem ficado para trás em infraestrutura e logística em comparação a outros países, afirmou ontem Mona Haddad, gerente de Práticas Comerciais e Competitividade em âmbito global do Banco Mundial. Além disso, o País tem se caracterizado por baixos investimentos neste quesito. "Se olharmos diferentes indicadores, você vê que o custo do Brasil é muito maior do que China e Malásia. Esse custo inclui documentação, controle técnico, brokers, etc. O Brasil está em desvantagem em termos de custo", afirmou.
Além disso, a especialista criticou o fato de o País, a despeito do crescimento da última década, ter permanecido relativamente fechado ao comércio internacional. "O Brasil permanece não muito conectado a outros países. E nós sabemos que o comércio é um mecanismo de crescimento para qualquer país", afirmou Mona, durante o 20º Fórum Internacional Supply Chain, promovido pelo instituto de logística ILOS, no Rio de Janeiro.
Custo do transporte
De acordo com Mona Haddad, o elevado custo do transporte (principalmente rodoviário, o maior modal empregado no País), o tempo longo para entrega, a burocracia na liberação das mercadorias, o congestionamento de portos e rodovias, o baixo investimento em infraestrutura e uma fraca ligação intermodal para logística são alguns dos obstáculos encontrados, atualmente, para o desenvolvimento do setor no Brasil.
"Algumas soluções envolvem melhora da cabotagem (transporte de cargas entre portos do mesmo país) para o comércio interno, investimento em novas rodovias e maior utilização da via aquática", listou Mona. "Sabemos que há um déficit em investimentos em transporte, os investimentos em infraestrutura não têm acompanhado o crescimento. São muito baixos, menor do que em países que estão crescendo rápido", destacou ainda a especialista durante o evento realizado no Rio.
Logística
A executiva do Banco Mundial ainda alertou para a necessidade de haver uma política mais descentralizada para o setor de logística, envolvendo diversas agências reguladoras. Hoje, o modelo brasileiro é muito concentrado e favorece a implementação de medidas unilaterais, observou a especialista. "Há necessidade de combinar infraestrutura com melhoras operacionais e olhando para toda a cadeia de suprimentos", disse Mona Haddad.
Expansão depende de investimento
Rio. O Brasil está atrasado em termos de infraestrutura, e a expansão dos investimentos nessa frente é crucial para acelerar o crescimento do País. Mas o sucesso de uma estratégia focada nessas melhorias depende de uma política macroeconômica de boa qualidade, de uma modernização da estrutura do Estado e de medidas práticas para reduzir a burocracia, enumeraram economistas em evento do setor de logística ontem, no Rio.
"Talvez estejamos subestimando a importância de uma política macroeconômica de boa qualidade. É importante melhorar a regulação, o planejamento e a qualidade dos projetos, mas não é suficiente. Temos de abrir espaço fiscal para os investimentos", disse o economista Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios. Segundo ele, ainda que a fatia do investimento privado cresça, há projetos que dependem dos recursos públicos, como é o caso das Parcerias Público-Privadas. "Se não tem espaço fiscal, não tem PPP", comentou.
Já o economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e professor da FGV, defendeu uma "revisão profunda" no papel do Estado na economia. "A modernização do Estado terá de ser implementada, ou sempre ficaremos atrasados em termos de investimentos", disse. A complexidade do Estado brasileiro, o alto grau de burocracia e os inúmeros processos de licenciamento limitam os investimentos em infraestrutura, enumerou.