Turistas devem esperar para comprar dólares

Clima de instabilidade deve permanecer até que se tenha mais informações quanto ao futuro do País

Quem está precisando adquirir dólares ou outras moedas estrangeiras para viajar deve aguardar mais um pouco até que o mercado financeiro se acalme. Mesmo que a cotação da moeda americana tenha sido encerrada na última sexta-feira (19) com a mais intensa depreciação desde 2010 (3,79%), caindo de R$ 3,39 a R$ 3,25, o ajuste compensou apenas parte da alta de mais de 8% da véspera, em reação às delações da JBS.

A recomendação é do economista Alex Araújo, que prevê grande volatilidade no curto prazo em função do nervosismo do mercado. "A crise política está se agravando muito e isso teve um impacto muito grande nos preços das moedas. Estava-se em um caminho para a estabilidade, que passa pela expectativa de aprovação das reformas, onde é fundamental o papel do governo. Quando há dúvida, gera pânico", explica.

Araújo avalia que esse nervosismo e instabilidade são movimentos típicos do curto prazo, quando ainda não se tem muitas informações sobre o que deve acontecer. À medida que a situação da administração do País fique mais clara, o economista espera que haja uma maior estabilidade no mercado. "Não vale a pena tomar decisões precipitadas nesse momento", alerta o economista.

Já quem não tem reservas e não pode deixar para adquirir a moeda depois, seja quem vai viajar logo ou uma empresa que precise pagar uma dívida nos próximos dias, o jeito é arcar com o prejuízo. "A menos que se tenha necessidade imediata, o recomendado é que não se faça operações (de câmbio) neste momento de instabilidade", recomenda Alex Araújo.

Efeito Trump

Paralelamente à crise política no Brasil, a instabilidade na administração do presidente americano Donald Trump também deveria estar afetando a cotação da moeda americana ante o real - mas com efeito contrário. Segundo Araújo, o dólar tem se desvalorizado ante outras moedas mundiais, assim como as commodities, em reflexo de supostas relações entre Trump e autoridades da Rússia.

"A situação de lá deveria servir para enfraquecer o dólar. Investidores fogem das economias em risco, e o dólar está perdendo valor em relação a outras moeda. Só que o efeito da crise política brasileira está tão crítico que o real fez foi perder valor ante o dólar. Era pra ter uma perspectiva de redução da cotação da moeda, o custo de investimento deveria estar mais barato, mas não vemos nada disso acontecendo no Brasil agora", pontua.

O economista destaca que a própria economia brasileira vislumbrava uma retomada do crescimento futura. "Estava prevista a vinda de capital estrangeiro, havia um ambiente favorável nessa direção. Mas essa nova enxurrada da crise política joga tudo isso por terra, e é crítica por isso, porque ainda pode piorar muito", aponta Araújo, destacando o adiamento da decisão do PSDB se desembarca ou não da base de apoio de Temer.

Resolução rápida

O economista avalia que quanto mais rápida a superação dessa crise, melhor para a economia. "Tem muito evento que ainda pode afetar o cenário econômico nos próximos dias. Independentemente de visão política, quanto mais tempo essa crise se arrastar, pior, porque o estrago na base de apoio (do governo Temer) já foi feito. Se ele resolve continuar e não tem mais base, mais difícil fica", aponta.

De acordo com Alex Araújo, o mercado está precificando os ativos a partir da substituição do governo e de uma ampla pactuação pela estabilidade.

"É a forma menos dramática de passar por esse momento e há muita resistência, além de ampla discussão jurídica que é necessária para definir os próximos passos. O dólar hoje reflete todo esse clima de incerteza", destaca o economista.