'Trabalho no Brasil precisa acompanhar tecnologia', diz Marinho

Secretário especial de Previdência e Trabalho mencionou a mudança do emprego no Brasil e no mundo catapultada pela inovação. Crescimento da informalidade vem sendo tratado com outro olhar pelas instituições

Os avanços tecnológicos têm causado muitas transformações nos processos humanos, entre eles, na geração de empregos. Segundo o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, as inovações, que são observadas no mundo inteiro, têm impulsionado o aumento no número de vagas de trabalho sem vínculo empregatício e uma mudança no perfil de todo o mercado de trabalho.

"Essas mudanças são resultado do que está acontecendo no mundo inteiro. A mudança do perfil do mercado de trabalho se dá com a própria inovação tecnológica. Basta andar pelas ruas para ver, por exemplo, que os táxis estão sendo paulatinamente substituídos pelos aplicativos de transporte", afirma Marinho. Ele ressalta que o trabalho home office, com horários e jornadas completamente diferentes dos tradicionais, ganha cada vez mais espaço.

Diante disso, o titular da Pasta avalia como necessárias novas mudanças referentes ao trabalho no Brasil, que devem ser apresentadas no início do próximo ano. "Designamos grupos de trabalho e vamos aguardar os resultados para fazer as propostas do que precisa ser adequado", revela.

Informais

Exemplificando essas transformações, o pesquisador e economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP), Hélio Zylberstajn, aponta significativa movimentação de renda por meio dos trabalhadores informais.

"Segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), em agosto havia cerca de 19,4 milhões de trabalhadores por conta própria sem CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) no Brasil. A renda média mensal deles (R$ 1.310) durante um ano gera um impacto sete vezes maior que o da liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)", ressalta Zylberstajn.

No Ceará, no fim do primeiro semestre, os trabalhadores por conta própria sem CNPJ somavam mais de 1 milhão de pessoas, cujos rendimentos movimentaram R$ 9,6 bilhões em um ano. O montante é 10 vezes maior que os R$ 894 milhões que devem ser sacados pelos 2,8 milhões de cearenses beneficiados com o saque imediato do FGTS, segundo a Caixa Econômica Federal.

O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar, explica que o avanço da informalidade foi intensificado pela crise. "A economia tem crescido a taxas medíocres. Não tem como haver geração de emprego formal com esse cenário".

Adaptação

As instituições e legislações brasileiras já estão se adaptando às transformações pelas quais o mercado vem passando. O secretário executivo do Trabalho e Empreendedorismo da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará (Sedet), Kennedy Montenegro Vasconcelos, avalia que o processo de virtualização dos serviços é um deles. "A carteira de trabalho digital e a oferta de serviços através do site do Sine (Sistema Nacional de Emprego) indicam isso".

Além disso, Vasconcelos cita aplicativo desenvolvido pela Sedet e operacionalizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) que conecta o autônomo ao mercado de demandas do serviço informal. O recurso irá complementar o Emprega Mais Brasil, sistema de intermediação do Governo Federal para mão de obra. A previsão da Pasta é que o aplicativo inicie a operação já no mês que vem.

*A jornalista viajou a convite da Abrapp