Reduflação afeta de sabonetes a biscoitos; confira itens que diminuíram de tamanho

A informação sobre a redução no peso ou volume do produto deve ser especificada na embalagem de forma clara ao consumidor

Preços cada vez mais altos e produtos cada vez menores. Diante da pressão inflacionária, uma estratégia utilizada pelas indústrias para não repassar diretamente o aumento dos custos tem sido reduzir o tamanho das embalagens.  

A redução do volume ou peso dos produtos, fenômeno conhecido como reduflação, não é uma estratégia nova, mas se tornou mais frequente nos últimos anos de crise econômica. O efeito real para o consumidor, apesar da falsa impressão de preços estáveis, é a principal consequência da inflação: menor poder de compra. 

Apesar de o consumidor levar menor quantidade para casa, normalmente não ocorre um reajuste negativo no preço. Para reduzir o produto, a empresa deve destacar de forma clara na embalagem quantas gramas ou mililitros foram subtraídos e o quanto isso representa percentualmente no volume total.  

Em volta por supermercados, o Diário do Nordeste encontrou dezenas de marcas que adotaram a estratégia. A lista de produtos que encolheram vai do sabonete ao pão, do biscoito ao lava-roupas. 

Esta é a segunda de uma série de reportagens sobre o fenômeno da reduflação e como ela vem se assentando no mercado e moldando os hábitos de consumo do brasileiro.

Estratégia antiga 

O coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, Vladimir Fernandes Maciel, explica que a reduflação não é um fenômeno novo, mas que foi acentuado nos últimos 10 anos devido a repetidos períodos de recessão.  

Ele explica que essa é uma estratégia utilizada principalmente em produtos mais “supérfluos”, que caso tenham um aumento acentuado no preço podem simplesmente parar de ser consumidos em épocas de pressão inflacionária. 

“A gente encontra mais em molhos e temperos, biscoito recheado, geleia, itens que a gente cortaria do nosso consumo. A gente começa a observar em bens de consumos que não são necessariamente de primeira necessidade. A gente encontra isso principalmente nas marcas mais valorizadas, mais famosas”, relaciona. 

A redução de embalagens também é uma opção adotada por empresas para manter a fidelização, evitando que o consumidor troque a marca por outra menos conhecida, mas mais barata. 

“É psicológico de não mudar a marca do produto, às vezes com a inflação se muda de marca. Para não perder o consumidor, não ajusta o preço, mas dá menos produto. É uma forma de preservar o que a empresa chama de marketshare”, pontua. 

Para economista, essa estratégia continuará sendo utilizada pelas empresas enquanto houver períodos de pressão inflacionária acentuada. Ele prevê que é possível ocorrer inclusive um movimento inverso da reduflação, com produtos aumentando de tamanho nas prateleiras, à medida que o país passe a apresentar um crescimento positivo e constante. 

“A tendência é voltar ao caminho antigo, ter produtos de marcas melhores. Porque nesses produtos em geral as empresas têm mais margem de lucro, são neles que as marcas tendem a ganhar mais. As empresas fazem essa estratégia, mas não ficam felizes, queriam estar vendendo produto de linha premium e muito, mas hoje não tem para quem vender”, diz. 

Ele projeta que é necessário um crescimento constante na economia por pelo menos mais três anos para que a situação nos supermercados volte para algo próximo do que era em 2015

Confira itens que sofreram reduflação 

A reduflação chegou a várias áreas do supermercado. Confira após a lista a posição das empresas sobre o assunto. 

1. Biscoito

A embalagem do biscoito Amori, marca da Richester, da M. Dias Branco, teve redução na embalagem. O peso passou de 140g para 125g, uma redução de 15g (11%).

2. Salgadinho

O salgadinho Torcida, da Pepsico, foi outra vítima da reduflação. O peso foi reduzido de 45g para 38g, uma subtração de 7g ou 15,56%.

3. Pão

O pão integral Plusvita, da Bimbo, teve redução de 4% no peso, passando de 500g para 480g.

4. Iogurte

A reduflação foi percebida em duas linhas diferentes de iogurte da Vigor. No caso do Vigor Grego, a embalagem diminuiu em 10%, de 100g para 90g. O Vigor Viv diminuiu 100g (11%), de 900g para 800g.

5. Cereal matinal

O cereal matinal Moça Flakes, da Nestlé, foi o produto com maior redução percentual. A embalagem, que tinha 330g, passou a ter 230g, 100g a menos (30,3%). Outra marca da Nestlé, o Corn Flakes foi reduzido em 20,8%, de 240g para 190g.

6. Lava-roupas líquido

O refil do lava-roupas líquido da Brilhante teve redução de 10%, passando de 1l para 900ml.

7. Sabão em barra

Também no corredor de produtos de limpeza, o sabão em barra da Ypê teve reduflação. A embalagem de 1kg foi reduzida em 10%, reduzida a 900g.

8. Molho de tomate

O molho de tomate Heinz teve redução de 40g do produto, o equivalente a 11,8%. O peso passou de 340g para 300g.

9. Achocolatado em pó

O peso do achocolatado Toddy, da Pepsico, caiu 80g, o equivalente a 14,29%. De 560g, a embalagem atual tem 480g.

10. Achocolatado líquido

O achocolatado líquido Nescau, da Nestlé, conhecido popularmente como Nescauzinho, ficou ainda mais "inho". A embalagem teve redução de 10%, de 200ml para 180ml.

11. Barra de chocolate

A barra de chocolate Nescau, da Nestlé, ficou menor. Foram subtraídas 10g, equivalente a 11,1%, com a embalagem passando de 90g para 80g.

12. Guloseima

A Fini, marca de guloseimas de gelatina, reduziu o peso de diversos sabores, inclusive das Denturas. De 100g, as embalagens passaram a ter 90g, uma redução de 10%.

13. Suco em pó

A embalagem do suco em pó Mid, da Ajinomoto, está 20% menor. O peso diminuiu de 25g para 20g.

14. Sabonete

Por fim, a reduflação também chegou ao corredor de higiene pessoal. O sabonete Protex teve redução de 5,8%, com mudança no peso de 85g para 80g.

O que dizem as empresas

Nestlé (Moça Flakes, Corn Flakes e Nescau)

A Nestlé® esclarece que a adoção de novos formatos e tamanhos dos produtos, tem como objetivo acompanhar as tendências de mercado, garantir a adequação a inovações tecnológicas, a fim de manter a competitividade entre as marcas. As alterações estão em conformidade com a legislação vigente, respeitando os princípios do Código de Defesa do Consumidor, e seguem comunicadas de forma clara no painel frontal da embalagem, com o alerta de novo peso e a especificação da quantidade reduzida, para que o consumidor possa identificar facilmente a mudança. 

Ajinomoto (Mid)

A formulação dos refrescos em pó MID® passou, em outubro de 2020, por uma revisão, que levou a um aumento na sua concentração para proporcionar ainda mais praticidade na diluição. O peso do produto passou de 25 a 20 gramas, porém com o mesmo rendimento: 1 sachê de MID de 20g é suficiente para preparar 1L de refresco. A informação sobre a redução no peso esteve presente na embalagem do produto no tempo exigido pelas normas brasileiras: 3 meses, e não houve impacto no sabor e no rendimento dos refrescos.  

Em relação ao valor do produto, se manteve o mesmo, dado que este continua a ser entregue com o mesmo rendimento de antes. Vale ressaltar, a Ajinomoto do Brasil mantém com seus consumidores uma relação de transparência, comunicando claramente todas as mudanças acerca dos produtos. 

Pepsico (Torcida e Toddy)

A PepsiCo oferece uma ampla gama de produtos em diferentes tamanhos de embalagens para atender às diversas necessidades e ocasiões de consumo. A PepsiCo comunica alterações de gramatura de forma clara e evidente nas embalagens, atuando sempre em total cumprimento à legislação aplicável e buscando manter os nossos produtos acessíveis para a população brasileira, mesmo quando vivemos um cenário de pressão inflacionária como o atual. A companhia reitera o seu compromisso e o respeito com seus consumidores e clientes, e esclarece que não determina, nem fixa o preço praticado pelo estabelecimento comercial. 

Bimbo (Plusvita)

A Plusvita, marca tradicional de pão da Bimbo Brasil, está em constante aprimoramento para garantir a qualidade de seus produtos e atender as demandas dos consumidores. Ao adotar tamanhos de embalagens diferentes ou novos formatos, a marca acompanha as tendências de mercado com foco em não repassar valores e, mantendo a proposta mais atrativa ao consumidor. 

Estamos acompanhando o cenário econômico mundial, que está passando por um período de grande instabilidade, ocasionando assim o aumento dos custos de matéria-prima, sobretudo o trigo e o plástico, nossos principais insumos que cresceram a patamares bem superiores à inflação acumulada no período, que foi acima de 10%. Como consequência, tornou-se inevitável a redução de tamanho para que esse repasse não chegasse às gôndolas. Vale ressaltar que todas as alterações estão de acordo com a legislação vigente. 

Heinz

A Heinz trabalha e oferece aos consumidores embalagens de diferentes tamanhos, desde as menores até as maiores (de 1 kg), gerando uma boa relação de custo-benefício, onde o acumulado de descontos pode compensar no resultado das compras. A tendência de propiciar várias opções ao consumidor vem sendo adotada pelo mercado e nós estamos atentos a isso também. 

Dois de nossos grandes pilares são qualidade e superioridade, isso inclui a matéria prima dos nossos produtos, que é a melhor possível. Qualquer evolução que tenha sido realizada em nossos produtos segue todos os padrões e normas exigidos pela legislação do nosso país, sempre priorizando a transparência com nossos consumidores em nossas comunicações e peças publicitárias. É importante frisar que, apesar do cenário econômico inconsistente, nós estamos garantindo o menor repasse possível para o nosso consumidor. 

Fini

A Fini faz parte de uma categoria de indulgência e impulso e a adoção de novos formatos e tamanhos de embalagens tem como objetivo acompanhar as tendências de mercado, garantir inovações e também para padronizar a gramatura de apresentação esperada pelo consumidor, lembrando que os produtos podem ser encontrados em porções diferentes (com maior ou menor gramatura), mantendo sua competitividade. Os valores se adequaram aos de mercado e as embalagens seguiram à risca a orientação do Ministério da Justiça de informar, claramente, as alterações quantitativas nos seus painéis frontais, pelo prazo obrigatório. 

Brilhante

Brilhante esclarece que hoje comercializa lava-roupas líquidos no formato garrafa de 3 litros e refil doypack de 900 ml. Além disso, trouxe ao mercado o formato 500ml concentrado para diluir, rendendo 3 litros na casa do consumidor, passando a ter um formato mais econômico e sustentável. A embalagem doypack do refil líquido foi modificada em 2019 (de 1l para 900ml), oferecendo assim diferentes opções de formatos e preços, seguindo todas as normas estabelecidas pela legislação vigente, conforme determinava a Portaria 81 do Ministério da Justiça, vigente na época da mudança, reforçando a política de transparência, respeito e comprometimento com o consumidor na comunicação de suas mudanças. 

Vigor

Devido ao aumento da inflação no país e, consequentemente, ao aumento dos preços de insumos que vem afetando a indústria como um todo, a Vigor fez um ajuste pontual no peso dos produtos da linha de Vigor Grego e no 3 grãos líquido da linha de Vigor Viv.

A mudança está sendo comunicada na embalagem do produto e tem como principal objetivo manter a transparência junto aos consumidores.

A Vigor reforça que esse ajuste não é uma prática recorrente e visa evitar o repasse total do aumento de custo de toda a cadeia produtiva para os consumidores. Com a adaptação do peso, a marca também se adequa competitivamente em relação a outras marcas do mercado.

Demais marcas

O Diário do Nordeste entrou em contato com as assessorias de imprensa da Protex, M. Dias Branco e Ypê para questionar sobre a redução dos itens, mas não recebeu retorno até o fechamento da reportagem. 

Na próxima quinta-feira (27), a terceira reportagem da série falará de como a barra de chocolate diminuiu ao longo dos anos.