Mesmo que o ritmo de recuperação econômica observado após a reabertura de atividades impedidas de operar durante a quarentena seja maior que o previsto inicialmente por economistas, o desequilíbrio fiscal provocado pelo aumento de gastos públicos e queda da arrecadação nesse período trará desafios para a economia já nos próximos meses, sobretudo com o fim de auxílios governamentais. É o que avalia o economista Fernando Ulrich, conselheiro da Casa da Moeda do Brasil.
“O pacote de ajuda do governo, tanto por meio do auxílio emergencial como de crédito subsidiado, ajudou a manter empregos e pode ter evitado um caos social por perda de renda durante a pandemia. Mas isso está gerando um desafio fiscal para os próximos meses e anos”, disse Ulrich, que participou na tarde de ontem (25) do evento do Lide Ceará, com o tema “Panorama da realidade brasileira na economia e nos negócios”.
Para o economista, os impactos econômicos gerados pela quarentena deverão ser sentidos nos próximos trimestres, quando as linhas de auxílios foram encerradas. “É preciso ficar atento para ver o que irá acontecer quando acabar o auxílio emergencial e o crédito subsidiado. Essa recessão foi muito profunda no segundo trimestre, com a cadeia parando de produzir, e desde então houve uma forte recuperação. Mas a inflação está aumentando, então vamos ver o que vai acontecer no ano que vem, com a retirada desses estímulos”, disse Ulrich.
Desemprego
Quanto ao desemprego, o economista acredita que a taxa tende a diminuir nos próximos meses, devido à forte demanda reprimida, acompanhando a retomada das atividades. “Acredito que a taxa de desemprego deverá cair em todas as atividades”, disse. “A recuperação em setores como o aéreo, do turismo ou de hotelaria ainda está prejudicada, mas outros setores, como o da construção civil, estão se recuperando muito bem”.
Sobre possíveis medidas que poderiam ser adotadas para buscar o equilíbrio fiscal, Ulrich apontou o aumento de impostos como o “pior dos mundos”. “Fazer um ajuste fiscal com aumento de tributos empobrece o País. O ajuste fiscal deverá ser feito por meio de redução de despesas, mesmo sendo muito difícil politicamente. Se o governo não reduz o seu gasto, daqui a alguns anos a gente vai ter que imprimir moeda para cobrir esses gastos”, disse.
Encontros presenciais
O evento de ontem foi o primeiro realizado pelo Lide Ceará de forma presencial desde o início da quarentena, no fim de março. No encontro, Emília Buarque, presidente do Lide Ceará destacou a melhora das expectativas para o País desde o início da pandemia. “Nesses meses, muita coisa mudou e mudou para melhor. Agora vamos focar no setor produtivo”, disse Emília.