Queda da economia cearense no 2º tri deve seguir média nacional

Com tombo de 9,7% no País, impacto da paralisação da atividade econômica no ápice da pandemia ainda pode ser um pouco maior sobre o Estado, segundo economistas, devido à predominância do setor de serviços no PIB cearense

O tombo recorde de 9,7% na economia brasileira no segundo trimestre deste ano, em meio ao auge da pandemia e das medidas de isolamento social no País, deve se replicar no Ceará, avalia o economista Alisson Martins. Ele ainda pondera que a retração da atividade ainda pode ter sido um pouco maior no Ceará por conta da composição do Produto Interno Bruto (PIB) estadual.

"O PIB do Ceará tem forte influência do setor de serviços, que foi o que mais sofreu durante este período. Já o PIB brasileiro tem maior participação do agronegócio. Mesmo assim, essa diferença dos números não deve ser tão grande", indica o especialista.

Período mais intenso dos efeitos da pandemia sobre a economia, Alisson considera resultado "um pouco pior do que as expectativas mostravam", mas que já era previsível. "O mercado já vinha trabalhando com um número próximo a esse, uma queda de 9,2% ou 9,3%, então, dentro do universo econômico, de oscilações, o número não está muito distante. O Estado é altamente relacionado à economia brasileira, então deve ser (um resultado) muito próximo", explica.

A expectativa é que a economia tenha voltado a crescer no terceiro trimestre, mas há dúvidas sobre o ritmo de recuperação, principalmente por causa das sequelas no mercado de trabalho e da situação fiscal do País.

Em relação ao mesmo período de 2019, o PIB nacional caiu 11,4%. Ambas taxas foram as quedas mais intensas da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996, mas, segundo cálculos de pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV), não há registro de um trimestre com desempenho pior desde 1980.

Recessão técnica

Foi também o segundo trimestre de retração - a queda do primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2019 foi revisada para 2,5%, ante o 1,5% inicialmente informado -, primeira vez que isso ocorre desde 2016. As duas retrações seguidas caracterizam uma "recessão técnica", classificação comumente usada no mercado financeiro, embora o comitê independente da FGV dedicado a analisar os ciclos econômicos já tivesse marcado o início da recessão no primeiro trimestre.

Com a paralisação quase total da indústria automobilística e cortes na produção de artigos considerados supérfluos, a indústria brasileira recuou 12,3% no segundo trimestre. Foi o maior recuo entre os setores pesquisados para o cálculo do PIB.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou a queda do PIB ao "barulho de um raio" que caiu em abril passado. "Isso é lá atrás. Isso é um impacto de lá atrás. Nós estamos decolando em V", disse.

Guedes ainda afirmou que o crescimento da economia no próximo ano pode surpreender. Segundo a estimativa que consta da proposta de Orçamento do próximo ano, encaminhada na segunda-feira ao Congresso, o PIB deverá ter uma alta de 3,2% em 2021.

"Ano que vem podemos ser surpreendidos com crescimento de 3%, 3,5%, 4% a 4,5%. Só depende de aprovarmos as reformas".

Reformas

O cenário político é determinante para guiar os resultados nos próximos trimestres. Para Alisson, a aprovação das reformas (administrativa e tributária) pode acelerar o processo de retomada econômica.

"As reformas estruturais são pontos que ajudam a catalisar o processo de recuperação econômica. Temos mais dois resultados para saber como começamos o ano de 2021", diz Martins.