O fomento ao desenvolvimento industrial no Ceará está cada dia mais perto de ganhar um grande reforço. O Polo Industrial e Tecnológico da Saúde (Pits), no Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), está com parte das obras concluídas. O prédio que abrigará a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por exemplo, já está pronto, faltando apenas a aquisição de equipamentos e outros itens. Resta ao Estado, em paralelo ao término das obras, a conquista da preferência de empresas para utilizarem o espaço.
O investimento inicial destinado pelo Ministério da Saúde à Fiocruz no Polo Industrial da Saúde é de R$ 180 milhões. Conforme o Decreto nº 30.012, de 30 de dezembro de 2009, as indústrias selecionadas para o Polo serão beneficiadas com incentivos diferenciados de até 99% do ICMS gerado em função da produção, na forma prevista na legislação do FDI, com retorno de até 1% e prazo de fruição de até 10 (dez) anos.
O diretor da Fiocruz no Ceará, Carlile Lavor, se mostrou empolgado com a proximidade da mudança das atividades da Fundação, atualmente no bairro Papicu, na Capital, para o Polo. "Estamos comprando equipamentos. O prédio, está pronto. A estrada deverá ficar completa até junho, assim como a energia elétrica. A informação que temos é que, no fim de junho, faremos os testes. Entre agosto e outubro deveremos inaugurar", afirmou Lavor. A previsão é a mesma dada pelo governador Camilo Santana, em abril, que hoje (26) visita a unidade.
Fases
Lavor explicou que, a princípio, serão realocadas as áreas da administração e pesquisas. "Neste primeiro momento, irão para lá a parte administrativa e oito pesquisadores, que estão nas universidades. São concursados que trabalham em parceria com os laboratórios, até que construamos o nosso, que já funcionará agora", indicou.
Num segundo momento, conforme o diretor da Fiocruz, haverá o processo industrial propriamente dito, com a produção, por exemplo, de vacinas. "No prédio vizinho ao nosso ficará o Centro Tecnológico de Plataformas Vegetais (Bio-manguinhos), a primeira fábrica de vacinas da Fiocruz fora do Rio de Janeiro. O Brasil só produz remédios novos depois das pesquisas se desenvolverem lá fora. O pesquisador ainda está longe da indústria. Queremos mudar isso. Transformar o resultado da pesquisa em algo que se possa comprar, produzir", destacou.
Já se sabe que, no Polo, está prevista a produção de antígenos vacinais em plantas como a vacina para febre amarela, que está em desenvolvimento e o medicamento alfataliglicerase para a doença de Gaucher. "Hoje, a vacina da febre amarela é produzida em ovo, ela é segura, porém não é indicada por exemplo para pessoas com alergia a ovo. Com a produção em plataforma vegetal, isto não acontecerá. No caso da doença de Gaucher, ela afeta em torno de 600 pessoas no Brasil, a produção nacional deste medicamento em plataforma vegetal permitirá economia para o governo federal. A implantação destas plataformas de desenvolvimento e produção trará também ganhos tecnológicos para o país".Conforme a Fiocruz, o Polo cearense "vai ajudar a fortalecer a indústria nacional, gerar empregos e formar novos profissionais. A produção local ainda servirá para baratear os custos da saúde pública, ao ampliar o rol de produtos nacionais de ponta. Com isso, vai diminuir a dependência nacional a produtos estrangeiros, ampliando o fornecimento de medicamentos gratuitos pelo SUS. Além da Fiocruz, outras âncoras devem ocupar o parque, que vai também servir como incubadora de empresas, ao abrigar projetos inovadores da área de saúde na região".
Fomento
A Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), que desenvolve o projeto do Pits em parceria com a Prefeitura do Eusébio e Secretaria da Infraestrutura do Estado do Ceará (Seinfra), reuniu profissionais da área da Saúde para estimular o desenvolvimento industrial.
A presidente da Agência, Nicolle Barbosa, destacou que há um grupo em formação que buscará atrair novos empresários.
"A diretoria de Inovação, Tecnologia e Saúde terá a missão de contribuir para o fortalecimento do segmento no Estado do Ceará, que passará a viver um novo momento a partir do Polo Industrial e Tecnológico da Saúde. Ela será responsável ainda por articular o diálogo entre instituições públicas, privadas, representações de classe, organizações sociais, visando as demandas do setor produtivo.
A presidente da Adece acrescentou que "projetos, estudos e pesquisas também serão atribuições da nova diretoria. A prospecção de novos empreendimentos para complementar cada vez mais a cadeia produtiva do setor será outra missão de suma importância a ser desempenhada pela nova equipe. Também no mesmo âmbito, a Adece está reestruturando a Câmara Setorial da Saúde (CS Saúde) e aproximando-se dos atores essenciais para promover o desenvolvimento sustentável da indústria da saúde no Ceará".
A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), através do projeto "Rotas estratégicas", desenvolveu visões de futuro e planos setoriais para os seguimentos econômicos considerados estratégicos para o desenvolvimento do Estado. Dentre eles, destaca-se a Saúde.
Potencial
Conforme o economista Guilherme Muchale, gestor do projeto, o setor da saúde, em si, tem "potencial imenso". "É o segmento com maior número de grupos de pesquisa relacionados a ele na academia local, com três polos específicos em termos de pesquisa, graduação e pós-graduação. Acaba gerando grande quantidade de ativos, pois são pesquisas que podem se transformar em novos negócios e, com a presença de uma indústria local, temos a perspectiva positiva para o desenvolvimento", apontou.
Muchale destacou que a Federação das Indústrias tem atuado também na tentativa de auxiliar no crescimento do segmento. "O trabalho inicial da Fiec tem sido em fomentar a interação entre esses atores. Fazer com que a Fiocruz e Bio-maguinhos tenham interação maior com a academia, desenvolver o ambiente de inovação do Polo. A Fiec tem estreitado as relações dos atores para fomentar o apoio aos investidores, de modo a não só atrair empresas mas também incentivar o desenvolvimento de start-ups, indústrias farmacêuticas, novos cursos de saúde. Além de desenvolver a indústria local, para que ela possa ganhar mercados e gerar mais empregos".