As passagens aéreas ficaram 30,57% mais caras em outubro em Fortaleza - o item com maior aumento de preço no mês dentre os pesquisados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na sexta-feira (10).
No acumulado de 2023, as passagens ficaram 26,22% mais caras, o terceiro item que mais teve aumento de preço na Capital. Em primeiro lugar na lista do IPCA está a manga, com 46,45%, seguida da cenoura, com alta acumulada de 34,94%.
Já em relação a outubro de 2022, a variação acumulada no preço das passagens aéreas em doze meses é de 20,29%. Os tickets aéreos estão entre os cinco itens que mais encareceram no período na Região Metropolitana de Fortaleza.
A alta expressiva nas passagens ocorre devido à expectativa das empresas com a aproximação do verão e da alta estação, segundo Alessandro Oliveira, pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Nectar-ITA).
O especialista aponta que o modelo de precificação dinâmico adotado pelas companhias aéreas, que tem menores preços para passagens em baixa estação, está cada vez mais agressivo. “Faz parte de uma estratégia de extrair uma maior rentabilidade de um segmento de passageiros que são menos sensíveis a preços, como, por exemplo, passageiros corporativos”, explica.
As companhias aéreas observam no seu sistema de reserva, começam a ver que a ociosidade não está baixa. E esse é um grande momento de racionar a demanda onde faltam assentos e tentar encontrar brechas para canalizar essa demanda em outros períodos. Então você promoções para abril, que acabam desviando do verão aquele passageiro que é sensível a preço"
Companhias aéreas apresentarão plano para diminuir preços, diz ministro
O aumento, contudo, não é exclusividade de Fortaleza. Tanto que, nesta terça-feira (14), o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, anunciou que as companhias aéreas deverão apresentar um plano para diminuir os preços das passagens em até 10 dias.
Com relação aos preços altos, a Gol afirma que a curva de precificação praticada, considerando antecedência e ocupação das aeronaves, permite que diferentes perfis de clientes tenham acesso ao transporte aéreo. A Azul Linhas Aéreas, por outro lado, destaca a influência de fatores externos, como a variação do dólar e o preço do combustível.
Já a Latam aponta que preços mais atrativos podem ser encontrados por clientes que programam viagens com antecedência. “É possível encontrar as melhores tarifas domésticas no Brasil de 6 a 2 meses antes do voo pretendido. No caso de viagens ao exterior, esta antecedência gira em torno de 8 a 4 meses”, diz a empresa.
Alessandro Oliveira aponta que as empresas buscam aproveitar o momento de forte demanda para aumentar os lucros, à medida em que ainda se recuperam da baixa demanda da pandemia. “Os custos podem não estar subindo, e esse é um setor que a demanda e a concorrência ditam muito. A concorrência está 'congelada', porque não entra um concorrente forte. O que pode estar ditando esse movimento é a demanda, então as companhias ganham um grau de liberdade”, comenta.
Pouca oferta de voos
Outro fator que leva à alta dos preços é a diminuição da quantidade de voos ofertados, em meio à alta demanda. A professora de pós-graduação do ITA e doutora em Economia do Transporte Aéreo, Rogéria de Arantes, aponta que a baixa oferta intensifica o ônus da precificação dinâmica aos consumidores.
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), o número de assentos comercializados saindo de Fortaleza caiu praticamente pela metade de 2019 a 2023. Em agosto de 2019, foram 134 mil assentos comercializados. Já em agosto deste ano, a oferta foi de 76 mil assentos. Nesse mesmo período, o valor médio das tarifas aumentou 48,8%.
O preço médio dos tickets aéreas em Fortaleza ficou em R$ 785,57 em agosto de 2023, atualizado pelo IPCA, último período disponível para consulta. Já em agosto de 2019, a tarifa média era de R$ 527,78.
“Tem uma recuperação pós-pandemia em que a demanda aumenta bastante. Então você tem um cenário de menos assentos disponíveis e aumento da procura por passagens. Se você conversar com pessoas que estão viajando, vai ouvir que sempre viajam em aeronaves lotadas”, aponta Rogéria.
A especialista reitera que as companhias tentam se recuperar dos prejuízos acumulados nos anos de restrições de viagens, período em que a operação diminuiu, mas as empresas ainda precisaram arcar com custos fixos de aluguel e manutenção.
A previsão de Rogéria é de que os preços das passagens vão se estabilizar em níveis altos. A redução do preço do querosene de aviação (QAV) em 2,1% pela Petrobras em novembro, a primeira baixa em quatro meses, só poderá ser sentida a médio prazo, segundo a professora.
“Esse custo de combustível é uma transação feita em moeda estrangeira e as companhias aéreas firmam os contratos de definição dos preços com muitos meses de antecedência. Hoje, as companhias aéreas estão pagando pelo combustível um preço que elas negociaram quando os preços estavam mais alto. O efeito da eventual queda só vai ser sentido daqui a algum tempo”, explica.