Não é de hoje que comprar um produto tecnológico virou uma missão complicada. Nem tanto pela ampla variedade e oferta de produtos no mercado. A dificuldade muitas vezes está ligada ao preço elevado que os fabricantes cobram por smartphones, smartwatches e laptops.
Mas o que está por trás de preços tão proibitivos? Alta do dólar? "Custo Brasil"? A resposta pode não ser tão simples. O advogado tributarista Schubert Machado explica que o sistema de cobrança de impostos brasileiro eleva demais os preços dos produtos de tecnologia, tornando-os mais caros. Também frisa que o câmbio, com o real desvalorizado, também impacta na conta final.
Segundo o especialista, o chamado "Custo Brasil" aperta ainda mais o bolso do contribuinte. "Hoje, o fator que mais afeta o 'Custo Brasil' é a gravíssima insegurança jurídica que assola nosso País. Não temos a necessária previsibilidade para dar segurança ao investidor. As regras mudam a todo momento, seja com leis novas, que não param de surgir, seja com a mudança de orientação dos tribunais superiores. No fim do ano passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) passou a entender que o atraso no pagamento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) apurado e declarado pelo contribuinte constitui crime", disse.
Nesse cenário de incertezas e preços elevados é complicado encontrar soluções, mas há algumas formas de seguir consumindo produtos com novas tecnologias sem esvaziar o bolso.
Alternativas
Apesar do preço elevado, não dá para ficar sem produtos tecnológicos. O primeiro passo para fazer uma boa compra é pesquisar. Websites como Buscapé e Zoom oferecem levantamentos de preços diários e analisam a evolução dos valores de um determinado produto. O usuário pode até criar alertas de preços para um notebook, por exemplo, para comprá-lo quando for ofertado pelo valor almejado.
Outra forma de baratear é reduzir a configuração, na medida do possível. Por exemplo: se o objetivo é adquirir um notebook de 8GB de RAM, com placa de vídeo off board de 4GB, processador Intel i7 de 9ª geração e armazenamento interno com SSD, de 256GB, é provável que o preço fique em torno de R$ 5.900.
No entanto, se o usuário pretende usar o aparelho apenas para navegar e fazer trabalhos mais simples, pode substituir esta máquina por outra com mesmo processador, mas com 4GB de RAM e um SSD de 128GB, sem a placa de vídeo offboard, e pagar algo em torno R$ 2.500. Para economizar ainda mais, pode-se substituir pacotes pagos como o Office por outros gratuitos, como o do Google.
Uma outra forma de reduzir custos é, quando possível, comprar no exterior. Logicamente, a regra não se aplica a qualquer aparelho. Somente notebooks e smartphones que têm garantia mundial são interessantes, visto que o preço à vista (frente ao cobrado no Brasil) será menor.
Mas, é bom ficar atento. Sem garantia internacional, há sempre o risco de o produto vir com defeito de fábrica e o consumidor acabar gastando mais para consertar o aparelho do que gastaria para comprá-lo no Brasil.
Apple em vantagem
No quesito produtos com garantia internacional, a Apple leva vantagem. Seus relógios, computadores, tablets e celulares têm suporte para o cliente brasileiro, mesmo quando comprados em outros países.
Quem se interessa por iPads, iPhones, MacBooks, iMacs e iWatches geralmente faz boa economia ao comprar tais equipamentos fora do Brasil. Porém, é preciso ficar atento a algumas especificações. Desde as versões XR, XS e XS Max que os iPhones vendidos nos Estados Unidos não estão funcionando na nossa banda mais usada e mais rápida, a 28, de 700 MHz APT. Essa era a frequência analógica da nossa TV. Em breve, todo o espectro de sinal estará livre para a telefonia móvel. E se o consumidor quiser experimentar o que há de melhor, deve optar por um smartphone que aceite funcionar nesta banda.
Ano passado, os iPhones ofertados no Brasil eram compatíveis com esta frequência. Já neste ano, há uma dúvida: os iPhones 11, modelos europeu e asiático, são compatíveis com a banda 28 e serão os mesmos comercializados pela Apple e seus revendedores oficiais no Brasil futuramente - provavelmente em dezembro. Já os iPhones 11 Pro e 11 Pro Max, mesmo seguindo os modelos europeus e asiáticos, não serão compatíveis.
Pelo menos é o que mostra a página que exibe quais aparelhos funcionam com a rede LTE de cada país. Há aqui uma falha de comunicação por parte da empresa: a página brasileira da Apple sinaliza que todos os seus três novos celulares da Apple vão sim funcionar na banda 28. Porém, logo após essa informação, há um asterisco que leva a mesma página que nega que o 11 Pro e o 11 Pro Max irão funcionar.
A confusão poderia ser sanada pela própria Apple. Entramos em contato com eles e, até o fechamento desta edição, não esclareceram a questão. É provável que a empresa ainda esteja analisando o que vão conseguir ofertar. A situação é delicada e deixa o brasileiro sem condições de comprar o aparelho fora do Brasil, à exceção do 11 na Europa e China e Japão, onde o modelo funcionará na banda 28.
O mesmo problema foi notado por nós para os novos Apple Watch Series 5. Nenhum deles está apto a funcionar na nossa rede 4G de banda 28. Pelo menos os aparelhos que são só GPS deverão funcionar sem problema.
Mas se você está em busca de um notebook ou tablet e não abre mão de ser um Apple, os custos elevados lá fora não serão nem perto do valor exorbitante e proibitivo que são cobrados no Brasil.
Outras marcas
A Dell também dá garantia mundial para os notebooks dela. Há modelos mais avançados lá fora que podem oferecer ao consumidor mais qualidade e um bom desconto em comparação com os modelos existentes no Brasil. É preciso nacionalizar o computador ao chegar ao País para ter direito à garantia de um ano, tradição da Dell em solo nacional. As linhas Yoga e ThinkPad da Lenovo também têm garantia mundial. É preciso estar atento se o valor economizado será realmente interessante, visto que ainda há impostos para pagar.
Fora dos Estados Unidos
Dólar alto e marcas americanas com preços elevados. É hora de pensar em mudar a chave. Há alguns bons produtos de ótimas marcas orientais. Nem estamos falando da Samsung, pois os sul-coreanos também cobram caro pelos produtos que ofertam. Pode-se analisar a aquisição de produtos de marcas como Asus, Xiaomi e Huawei. As três já estão no Brasil e trazem opções de smart-phones com ótimas configurações e boa durabilidade. Já testamos aparelhos antigos da Xiaomi e vimos de perto colegas que mergulharam nesta marca e estão bastante satisfeitos. Uso celulares e relógios da Asus há alguns anos e posso afirmar que são muito bons, apesar de alguns aparelhos no passado já terem apresentado fragilidades acentuadas. Felizmente, este problema já foi corrigido.
Por fim, a Huawei, que entrou há pouco oficialmente no Brasil, mostrou aparelhos potentes. O que a desabona é só a briga com os EUA, que pode fechar as portas da marca para o Android (atual sistema operacional usado) bem como vários componentes vindos de fabricantes norte-americanos. Mesmo assim, essa novela está longe de acabar ou de declarar derrota total da gigante chinesa, por enquanto.
E aí?
Minha sugestão é sempre muita pesquisa antes de comprar qualquer coisa. Produtos tecnológicos demandam ainda mais perguntas a serem respondidas. O principal é saber que uso que se pretende dar a ele. É para o trabalho? Esta demanda cobra algo com configuração superior, intermediário, ou básico dá conta? E o celular? É só status ou há necessidade diária por um iPhone de última geração? É realmente necessário usar um relógio inteligente ou aquele analógico, bonito e barato, já resolve? É preciso analisar tudo isso antes de comprar para acertar o melhor custo benefício.