Mulheres com ensino superior são maioria entre os que permanecem em home office no Ceará

Segundo especialistas, o modelo de teletrabalho alcança profissionais com maior qualificação

Mais de 275 mil cearenses ainda estão trabalhando de home office, mesmo com a reabertura da maior parte das atividades econômicas no Estado. Trabalhar de casa é, portanto, a realidade de 9% da população ocupada no Estado, sendo que a maior parte, 60%, são mulheres com ensino superior, aponta levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com dados da Pnad Covid, do IBGE.

A proporção é semelhante em nível nacional, já que dos 8,4 milhões que estão em home office, 56% são mulheres formadas com ganho superior a três salários mínimos. Para o professor David Oliveira, da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (Feaac) da Universidade Federal do Ceará (UFC), esse cenário reflete o fato de que as mulheres estão se qualificando mais para o mercado, mesmo que ainda haja muitas desigualdades nesse caminho.

"As mulheres estão muito mais qualificadas que os homens, geralmente se há uma dedicação maior por parte delas, mas ainda não há um reflexo disso no mercado de trabalho, em serem pagas com o valor devido que é merecido", comenta. 

Desde o início das medidas de isolamento social no Estado, em março, a analista de implantação da área de tecnologia da informação (TI), Brenna Sales, está em regime de home office. Até agora, não há previsão de retorno das atividades presenciais no trabalho dela.

"Estou de home office desde o início da quarentena. Na primeira semana de liberação, voltaram algumas pessoas, mas somente por duas semanas, pois houve uma suspeita de Covid", diz.

Adaptação

Brenna conta que a adaptação ao home office foi um pouco difícil, mas que se tornou uma experiência positiva com o passar do tempo. Ela conta que precisou adquirir alguns móveis para uma melhorar o novo ambiente de trabalho.

"No início, sempre é um pouco difícil de se adaptar, mas com o tempo tem sido positiva (a experiência) e até aprovaria se fosse sempre remoto agora, por conta dos custos de deslocamentos, pontualidades nos horários. Como trabalho em uma empresa de TI, podemos fazer nosso trabalho pelo o próprio notebook, eu só precisei comprar uma escrivaninha e uma cadeira um pouco mais confortável".

Além do investimento que Brenna fez ao comprar uma escrivaninha e cadeira, ela ainda precisou de outros materiais da empresa, como teclado e mouse. 

O superintendente regional do Dieese, Reginaldo Aguiar, aponta que este modelo de trabalho era uma "demanda patronal antiga" e que por questões sanitárias, as pessoas foram forçadas a adotar, mesmo sem as condições adequadas para isso.

"Nem todo mundo tem espaço para trabalhar em casa, tem pessoas que moram com pessoas idosas, com crianças pequenas em casa. A gente teve que superar isso por conta da pandemia, fazer adaptações, forçar a barra para conseguir continuar trabalhando de casa", comenta.

Mesmo sendo uma alternativa para continuar trabalhando durante a pandemia, o professor da Feeac pontua que o home office não é um modelo que se adequa a realidade de trabalho da maioria dos cearenses.

"Tem muita gente falando que isso veio pra ficar, o acesso de trabalho remoto, mas ele funciona para uma categoria pontual. Me parece que a falta de acesso é um grande entrave pra isso, você coloca o Brasil em um mundo ideal, em qual ele não está. Nem todo mundo tem os recursos necessários como uma internet boa, por exemplo", comenta.

Ele ainda ressalta que é preciso analisar as questões de produtividade dos colaboradores, já que em situações presenciais muitas questões são resolvidas com mais facilidade e menos gasto de tempo, como as reuniões.

Perfil 

A pesquisa detalha que 69% dos trabalhadores em regime de home office no Ceará têm ensino superior. Além disso,  76% possuem casa própria e cerca de 30% ganham até três salários mínimos. Em relação a cor/raça,  61% são trabalhadores negros e 39% são não negros. 

Proporção do salário de pessoas em home office:

  • + 3 salários mínimos: 30%
  • + 2 a 3 salários mínimos: 24%
  • + 1 a 2 salários mínimos: 11%
  • Até 1 salário mínimo: 5%

O superintendente regional do Dieese aponta que as pessoas que estão em home office normalmente são as que possuem uma renda maior e detém um maior conhecimento em questões do uso de recursos tecnológicos.

"Quando você vai ver a população de pessoas que estão no home office são as que ganham mais, são os que são os mais tecnologicamente avançados e pode utilizar equipamentos, aplicativos e coisas desse tipo. A medida que você vai colocando tecnologia e qualificação, a renda dessas pessoas vai subindo", diz.