Mesmo convivendo com extensa e profunda crise hídrica, que vem gradualmente reduzindo os valores de exportação dos principais itens do setor, o agronegócio cearense fechou o ano de 2018 liderando – tanto no Nordeste quanto no Brasil – diversas categorias de produtos comercializados para fora do País.
Os principais destaques foram a castanha de caju, que gerou R$ 94,17 milhões para a soma da balança comercial do Estado, as frutas frescas (R$ 85,84 milhões), e os pescados (R$ 62,44 milhões). Apesar do resultado positivo, o Ceará apresentou uma queda de 31,45% na soma dos artigos mais relevantes relacionados à produção agrícola de 2014 até 2018. A involução, no entanto, não impediu que o Estado liderasse as exportações no País de itens como castanha de caju, cera de carnaúba, água de coco, lagosta e melancia. Quando a comparação é feita na região Nordeste, o Ceará fica no topo do ranking para castanha de caju, pescados, sucos de frutas, cera de carnaúba, água de coco, lagosta, peixes, melancia, banana, extrato vegetal, peixes ornamentais e peixes.
Os números levam em consideração a base de dados da Secretaria de Comércio Exterior do novo Ministério da Economia e faz parte de um relatório de análise da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece). O levantamento ainda traz dados que apontam para um cenário mais favorável neste ano, considerando alguns produtos, diz Silvio Carlos Ribeiro, diretor de Agronegócio da Adece.
Recursos
Entre 2017 e 2018, quatro itens apresentaram avanços nos valores exportados: peixes (84,3%), mel de abelha (50,7%), frutas (17,6%) e castanha de caju (2,8%). De acordo com Silvio Carlos, esses resultados são importantes pois demonstram tendências importantes para o futuro e ressaltam as estratégias de otimização de recursos do setor, impulsionadas por iniciativas do Governo do Estado.
Para se adaptar ao nível baixo e irregular de oferta de água, os produtores, segundo o diretor de agronegócio da Adece, têm se preparado para investir mais em culturas que exigem menos dos recursos hídricos para dar resultado. E essa mudança de perfil pode acabar sendo potencializada caso as obras da transposição do rio São Francisco sejam concluídas em 2019.
“A gente cresceu um pouco, mas não foi o esperado por conta da crise hídrica, pois continuamos com a limitação de água e isso restringe os produtores. E além disso estamos percebendo uma melhor eficiência no uso de água, então até as culturas estão mudando, com as culturas que precisam de menos água e que têm valor agregado alto sendo priorizadas”, explica Ribeiro. “O Estado está incentivando essa mudança de perfil porque isso garante emprego e renda”, acrescenta.
Demanda
Outro ponto importante ressaltado por ele é que a chegada do verão na Europa, em 2019, poderá acabar gerando um aumento na demanda de alguns produtos exportados pelo Ceará ainda neste ano, como as frutas.
“A demanda por frutas deve crescer muito por conta do verão europeu, mas nós também tivemos uma organização maior da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados), que tem coordenado as exposições de produtores de frutas em feiras internacionais”, comentou.
Articulação
Mas não são apenas as questões climáticas que estão trazendo impactos diretos à exportação de produtos do agronegócio cearense. A articulação do Governo do Estado para viabilizar os hubs portuário (Porto do Pecém) e aéreo (grupo Air France/KLM e Gol) também tem sido fundamental para o desenvolvimento do setor, possibilitando novas rotas para a Europa e para a Ásia, por exemplo.
“Estamos em um ponto estratégico próximo à Europa e isso facilita muito a importação via aérea e marítima. Com o hub aéreo é possível levar frutas de maior valor agregado, peixes ornamentais”, disse Ribeiro.
Essa abertura de mercado também já deverá trazer resultados diretos, com os principais produtores de flores do Estado dobrando a área para plantio dos itens. “Estávamos no lançamento do novo Mercado das Flores e a principal empresa da rede de flores daqui do Ceará já está projetando um crescimento para o segundo semestre, levando flores para a Holanda, pela KLM, porque agora eles têm um canal muito bom. E isso deve trazer resultados muito positivos”, explicou Ribeiro.
Apoio
A partir dessas articulações, a expectativa é que o agronegócio, assim como o restante do setor produtivo no Estado, apresente resultados ainda mais interessantes já a partir do segundo semestre deste ano. É o que defende Maia Júnior, novo secretário do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho do Estado do Ceará.
“O Governo do Estado tem procurado promover diversas ações que possam amenizar as perdas sofridas pelos produtores. Entre elas está a trinca de hubs (aéreo, portuário e tecnológico). A expectativa é que, com esses e outros conjuntos de ações que estão sendo realizadas pelo Estado, já no segundo semestre deste ano, o nosso mercado volte a vivenciar um aquecimento”, projetou Maia.
PAÍSES QUE MAIS IMPORTAM FRUTAS DO CEARÁ:
1. Holanda (38,5%)
2. Reino Unido (33,9%)
3. Espanha (16,4%)
4. Emirados Árabes Unidos (2,4%)
5. Itália (1,8%)
6. Irlanda (1,2%)
7. Suécia (1%)
8. Rússia (0,9%)
9. EUA (0,5%)
10. Canadá (0,5%)
PAÍSES QUE MAIS IMPORTAM CASTANHAS DO CEARÁ:
1. EUA (53,1%)
2. Holanda (9,5%)
3. Canadá (8,2%)
4. México (4,3%)
5. Argentina (4%)
6. França (2,8%)
7. Alemanha (2,5%)
8. Itália (2,3%)
9. Chile (2,1%)
10. Austrália (1,7%)