Interdição de via é alvo de críticas de moradores

Na estrada fechada à espera das obras da refinaria, residentes e comerciantes relatam novos problemas

Dois meses após a Petrobras anunciar ter cancelado o projeto da refinaria Premium II, a interdição da estrada, que foi fechada para dar espaço às obras do empreendimento, ainda incomoda os moradores da comunidade de Bolso, a cerca de dez quilômetros do centro de Pecém. Devido à interdição, há cerca de três meses, as linhas de ônibus que passavam na estrada deixaram de circular no local, obrigando os moradores a caminhar entre 2,5 e 3 quilômetros para ir até a parada mais próxima.

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"Pra uma pessoa de idade ou pra quem tenha uma criança é um sofrimento. Fora que você tem que andar essa distância com medo, porque hoje ninguém sabe mais quem é que tá perto de você", lamenta a dona de casa Dionísia Sampaio. Ela acrescenta que outra dificuldade é atravessar a estrada por onde os ônibus agora passam.

Queda no fluxo

A interdição também impactou na movimentação nos comércios localizados na via. Embora estrada esteja localizada a poucos quilômetros da obra da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), poucos potenciais clientes passam pela estrada.

"A gente atendia tanto o pessoal que trabalha nas empresas aqui perto quanto as pessoas que passavam por aqui e procuravam um restaurante", comenta o comerciante Juscelino Soares, que possui uma pousada na mesma estrada.

Do fluxo diário médio de 400 clientes no local, antes da interdição, relata, a movimentação caiu para cerca de 200 pessoas. Segundo Soares, os comerciantes da região ainda não sabem exatamente o que fazer diante da queda da movimentação e da falta de definições sobre a situação da via, agora que a refinaria foi descartada pela Petrobras.

"Por enquanto, o que a gente tem feito é só aguardar mesmo", comenta, acrescentando que outros empresários que atuam na região também têm sido fortemente afetados.

Sem uso

"Se já não vai vir mais a refinaria, eles (o poder público) poderiam pelo menos abrir de novo a estrada. O pior é a gente ter a estrada boa, pronta pra usar, e ela ficar fechada", acrescenta a comerciante Raimunda Andrade, esposa de Juscelino.

Conforme a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Gonçalo do Amarante, já houve, em fevereiro último, uma reunião entre o prefeito Claudio Pinho e os moradores da comunidade Bolso. Na ocasião, informou a assessoria, as reivindicações foram ouvidas e o gestor se comprometeu em marcar uma segunda reunião para apresentar os resultados dos pedidos feitos pelos moradores. A prefeitura não informou, entretanto, quando será o novo encontro nem quando será retomado o transporte público na via interditada.

Devolução

Na última semana, o gerente-executivo de programas de investimento da área de Abastecimento da Petrobras, Wilson Guilherme Ramalho da Silva, afirmou que os terrenos destinados à construção das refinarias Premium seriam devolvidos para os governos estaduais (do Ceará e do Maranhão) "e tomar todas as medidas para encerrar os projetos". A declaração foi feita em reunião da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, que acompanha os impactos do cancelamento dos projetos, no Ceará e no Maranhão. Ainda segundo Silva, a desistência da Petrobras pelas duas usinas de refino teria ocorrido por falta de condições de financiamento da companhia e pela dificuldade de obtenção de um parceiro para os projetos. Os cancelamentos foram feitos em janeiro último, sem aviso prévio. (JM)

Porto e CSP ainda aquecem mercado

Embora as vagas de trabalho anteriormente imaginadas para este início de ano não tenham sido de fato criadas, as intervenções no Porto do Pecém e a construção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) têm empregado um número considerável de pessoas nas últimas semanas.

Conforme o gerente da unidade do Sine no Pecém, Francisco Carlos, os dois empreendimentos têm absorvido vagas principalmente no campo da construção civil, a exemplo de carpinteiros, pedreiros, ferreiros e ajudantes de obras. O setor de serviços, acrescenta, também permanece aquecido com a demanda atual, sobretudo as áreas de vestuário, alimentação e equipamentos. De todo modo, muitos trabalhadores ainda procuram diariamente a unidade, mesmo após o cancelamento das 90 mil vagas esperadas com a usina. "Faz dois meses que eu venho aqui todo dia, mas até agora não achei nada", lamenta o pintor industrial José da Silva Macedo.

Neste ano, informa Francisco, foram cadastrados 992 novos trabalhadores, nas unidades do Pecém e de São Gonçalo. De janeiro até a última sexta-feira, acrescenta, foram feitas 358 colocações, a partir de 2.442 encaminhamentos. Conforme o gerente, em torno de 65% dos trabalhadores que chegam ao Sine são de outras cidades ou de outros estados.

Oportunidade

Esse fluxo intenso de pessoas que vão ao distrito em busca de oportunidades possibilitou à vendedora Elizanete Lima complementar a renda da família. Há cinco anos no Pecém, ela se mudou de Maracanaú para São Gonçalo, junto com o marido, influenciada pela irmã. "Ela dizia que tinha muita oportunidade aqui. Sempre me dizia que era melhor do que onde a gente estava", conta.

Após mudar-se, a vendedora conseguiu uma vaga em uma loja de móveis e eletrodomésticos, atendendo diversos clientes de outras cidades. Já o marido trabalha como cabeleireiro em um ponto alugado no centro do distrito. Recentemente, relata, ele se formalizou microempreendedor individual.

Embora os pontos comerciais sejam mais caros, pondera, a qualidade de vida do casal "melhorou 100% com a mudança". A expectativa agora é montar um novo estabelecimento, no qual Elizanete possa trabalhar com costura. (JM)