Governo vai assinar renegociação de dívidas do Finor e do FNE dia 16

Refinanciamento de débitos contraídos há décadas será autorizado na próxima semana, anunciou o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante. Federação lançou ontem Plataforma para o Desenvolvimento Industrial

O Governo Federal vai assinar, no próximo dia 16, medida para regularizar dívidas relativas ao Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) e Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Demanda antiga da indústria cearense, a iniciativa foi anunciada na noite de ontem pelo presidente da Federação da Indústria do Estado do Ceará, Ricardo Cavalcante. A medida também inclui dívidas do Fundo de Investimentos da Amazônia (Finam) e Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO).

“É um prêmio que a indústria do Nordeste e do Norte está recebendo. São brigas de mais de 25, 30 anos, que não se chegava a um acordo”, aponta. De acordo com Cavalcante, que recebeu a notícia ontem do ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), as dívidas representam um passivo de cerca de R$ 15 bilhões e o Governo Federal espera receber cerca de R$ 1,5 bilhão. “Com certeza, o Governo está fazendo para o empresário receber. A empresa que renegociar já pode trabalhar novamente com o banco. Já abre a porta para novos negócios”, destacou ele em cerimônia de lançamento da Plataforma para o Desenvolvimento Industrial Cearense. 

A iniciativa foi realizada por um grupo de trabalho da entidade sob coordenação do PhD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e assessor econômico da Fiec, Lauro Chaves Neto. O estudo é uma espécie de guia para o setor industrial, resultado de três meses de pesquisa envolvendo mais de 120 indústrias de pequeno, médio e grande porte no Ceará. 

Tornar a indústria cearense protagonista do próprio desenvolvimento é o foco da pesquisa, segundo o coordenador. “A plataforma é a elaboração de uma visão da indústria cearense para o futuro, mostra onde queremos chegar: numa indústria competitiva, sustentável e inovadora, integrada às cadeias globais de valor e buscando equilíbrio territorial e as boas práticas de governança”, sintetiza Chaves.

Estratégias

O documento se baseia em linhas estratégicas: internacionalização; inovação; atração de fundos de investimentos; melhoramento da governança corporativa; equilíbrio territorial; e infraestrutura. 

Quando fala em internacionalizar, o professor frisa que o trabalho precisa ser mais do que aumentar as exportações, mas, também, abrir os horizontes trazendo sócios e parcerias para que os negócios locais atinjam um padrão de competitividade global. 

“Precisamos também de insumos de melhor qualidade, máquinas e equipamentos mais modernos, parcerias com concorrentes, fornecedores – aí você vai pra outro pilar do desenvolvimento industrial. Historicamente, o desenvolvimento industrial cearense esteve muito ligado à Sudene, ao BNB. Não vai deixar de ter isso, o BNB é fundamental, mas não podemos ter só isso. Temos que atrair recursos de fundos de investimentos estrangeiros, sócios com capital disponível”, defende. 

O incentivo à inovação atrelado à pesquisa acadêmica também é um dos pilares do planejamento. “Desenvolvimento baseado nos incentivos ficais continuam sendo importantes, mas não pode ser a única válvula de incentivo para a alavancagem da indústria. É mais importante ter centros de pesquisas e desenvolvimento ligados à academia, formação de mão de obra para alta tecnologia. Aqui entra um papel fundamental da integração entre a academia, o setor produtivo e o poder público”, diz Chaves. 

O coordenador ressalta, ainda, a importância da gestão. “Somente tendo mais compliance, tendo gestão de melhor qualidade, vamos conseguir atrair sócios estrangeiros, e isso não só é o financiamento, como também é parte da internacionalização”, amplia. 

Sobre a busca do equilíbrio territorial, Lauro Chaves chama atenção para a concentração de indústrias na Região Metropolitana, Porto do Pecém e algumas cadeias produtivas na Região de Sobral e do Cariri. Uma melhor distribuição do setor resultaria em um desenvolvimento integrado, garante o estudioso.

Implantação

A ideia é iniciar a implantação da plataforma imediatamente, avaliando o andamento por meio de indicadores de desempenhos, medidos a médio e longo prazo, de acordo com Lauro Chaves. 

“A Plataforma é dinâmica, se adapta à mudança do cenário ano a ano, agregando novas ideias, avaliando o que vai ser feito. Não tem aquele modelo tradicional de planejamento com data fixa futura, porque a plataforma vai avançar com a indústria cearense no seu ritmo, vai ser um catalisador para todo o desenvolvimento industrial cearense”. 

Durante o trabalho de construção do documento, o grupo formado por dez economistas interagiu com os 40 sindicatos da Fiec. “A Plataforma é resultado de uma construção coletiva, não é um pensamento único de um grupo de trabalho. O grupo teve a energia pra consolidar e articular a opinião de toda a indústria cearense, de todos os atores”, aponta. O estudo vai ficar disponível para download no site da Federação e virar livro.