Na semana em que a quantidade de etanol na gasolina vendida no Brasil subiu de 25% para 27%, a coloração do combustível vem assustando os consumidores de Fortaleza. Antes amarelada, a gasolina encontrada nos postos BR da Capital está incolor e, para o condutor desatento, aparenta ser somente etanol. A polêmica, inclusive, tomou proporções gigantescas quando um vídeo do chamado teste da proveta - que comprova a qualidade do combustível nas bombas - foi postado nas redes sociais.
Compartilhado por 6.220 outros internautas - até a noite de ontem -, a gravação postada por um internauta foi feita no Posto BR da Avenida Bezerra de Menezes (em frente ao North Shopping) e provocou ainda comentários cujos sentimentos expressados iam do pavor até o ódio ao posto e à Petrobras.
O internauta responsável pela postagem foi procurado para comentar o teste que gravou no celular, mas não retornou às mensagens da reportagem.
Testes na cidade
O Diário do Nordeste, então, resolveu, por conta própria e sem identificação jornalística, fazer o teste da proveta em postos de combustível pela cidade. O primeiro local visitado foi o posto de bandeira Shell da Avenida Barão de Studart (quase em frente à AABB), onde o teste comprovou a boa qualidade da gasolina, assim como a coloração amarelada do líquido comercializado lá.
O segundo estabelecimento foi, propositalmente, o posto BR da Avenida Bezerra de Menezes, onde foi feito o vídeo. Ao chegar ao local, o teste foi solicitado e, instantaneamente, a responsável por operar o equipamento comentou da gravação compartilhada nas redes sociais.
Segundo ela contou informalmente, o próprio posto estranhou a cor do combustível quando realizou o teste, na chegada do caminhão da BR Distribuidora. Porém, todos os procedimentos foram feitos e a qualidade da gasolina foi classificada como boa pelo gerente do estabelecimento. Ainda de acordo com ela, "todo posto BR vende gasolina dessa cor". Por conta desta afirmação, a reportagem foi a mais outros dois postos da mesma bandeira: o BR da Avenida Augusto dos Anjos, na Parangaba (próximo ao terminal da Lagoa), e o posto Guararapes da Avenida Silas Munguba (antiga Dedé Brasil). Teste feito, não deu outra: a gasolina é incolor. Porém, o teste distinguiu a água da gasolina, como se espera.
Os frentistas e gerentes dos dois locais também jogaram para a distribuidora a responsabilidade da nova coloração da gasolina e ainda disseram que veio diferente porque o combustível era produzido fora do Brasil, "e não tinha mais corante". O mesmo foi informado pelo presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE), Vilanildo Fernandes, que contou da vinda de combustível da Venezuela para ser vendido nas cidades cearenses.
Cor deve-se à origem
Procurada pela reportagem, a Petrobras Distribuidora, que abastece os postos de bandeira BR, confirmou que "essa variação de cor se deve às diferentes origens das gasolinas importadas". Sobre o país de onde vem o combustível, a assessoria afirmou que não dá para precisar, pois a compra é estabelecida pelo preço mais baixo, o que pode variar de tempos em tempos.
Sobre a questão do corante, a Petrobras Distribuidora explicou que "não se coloca corante na gasolina comum". "Só se coloca aditivo (com corante) na gasolina Petrobras Grid, que assume então a cor verde. Assim, a informação de que estavam pondo menos corante na gasolina não procede", detalhou.
Prejudica o motor?
No entanto, o temor dos condutores brasileiros de que mais etanol na gasolina deve causar mal funcionamento dos motores dos carros e motocicletas, é rechaçada pela Petrobras Distribuidora.
Enquanto a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) considera que os veículos feitos no País não estão preparados para a mudança, a Distribuidora afirma: "Não interfere. Todas as características se enquadram na especificação exigida pela Resolução ANP, nº 40, de 25/10/2013, inclusive a coloração".
Onde não foi feito
Realizadas na última terça-feira (17), as idas da reportagem aos postos tiveram, a partir das 18h, dificuldade para a realização do teste da proveta. No posto de bandeira Ipiranga da Avenida Osório de Paiva (em frente ao cemitério da Parangaba), o frentista alegou que "o equipamento está dentro da sala da gerente e ela já tinha ido embora".
Justificativa semelhante foi dada pelo posto Multi da Avenida Silas Munguba. Às 18h15, a frentista abordada pelo carro descaracterizado do Diário do Nordeste usado para a matéria disse que "a pessoa que faz o teste não está e ele (o procedimento que comprova a qualidade do combustível) só é feito durante o dia". Outro posto de bandeira Ipiranga - localizado na Rua Paulino Rocha (em frente ao Castelão) - também não fez o teste. Chamado por um dos frentistas, o responsável por comprovar a validade da gasolina disse que "naquele horário (18h50) de pico não dá certo, mas qualquer outra hora que chegar aqui (no posto), é feito".
Procurado, o presidente do Sindipostos-CE informou que, pelas regras estabelecidas pela ANP e endossadas pelo sindicato patronal junto aos postos, "tem que ter pelo menos uma pessoa apta a fazer o teste da proveta por turno". Sobre a ausência, Vilanildo disse que a responsabilidade da fiscalização é da ANP e ainda informou que o Sindipostos-CE realiza frequentemente cursos ensinando os funcionários dos associados a fazer o teste da proveta corretamente.
Armando de Oliveira Lima
Repórter