País dividido entre a Europa e a Ásia e com a maior área territorial do planeta - cerca de 17,07 milhões de Km² -, a Rússia sempre teve como característica de sua diplomacia uma hora pender para o ocidente e em outra para o Oriente. E isto ficou claro com os eventos ocorridos recentemente na Ucrânia e o consequente resfriamento das relações com o lado de cá, notadamente os países centrais europeus e os Estados Unidos, o que lhe rendeu sérias sanções econômicas nos últimos meses.
Não é à toa, o quadro de vulnerabilidade a que se submeteu a economia russa em termos da influência de fatores externos, evidenciado ainda mais com essa crise, como chegou bem a afirmar, recentemente, seu vice-ministro de Desenvolvimento Econômico, Andrei Klepach. Uma das consequências, disse, teria sido uma fuga de capitais estrangeiros do país. No primeiro trimestre, essas saídas ficaram próximas dos US$ 60 mil milhões, o equivalente a quase o contabilizado em todo o ano de 2013 (US$ 62,7 milhões). Tanto que, a expectativa é de que, neste ano, a economia da Rússia deverá crescer abaixo dos 1,3%, com indícios de estagnação daqui para frente, se as tendências atuais persistirem e não forem tomadas medidas estruturais.
Análise
Esse desempenho é influenciado, também, destaca Carlo Patti, professor do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e pesquisador do Brics Policy Center- entidade dedicada ao estudo dos emergentes -, pela alta dependência do país às commodities, cujos preços são fortemente impactados pela dinâmica mundial, como ocorre, por exemplo, com o petróleo. Outras riquezas locais são as grandes reservas de gás e ferro. "Este (dependência dos preços das commodities no mercado internacional) é, portanto, um ponto fraco de sua economia", afirma.
O fato é que, segundo apontam os especialistas, quase duas décadas após o colapso da União Soviética, em 1991, a Rússia continua a tentar estabelecer uma economia de mercado moderna, e de fato vinha conseguindo altas taxas de crescimento econômico. "Nesse contexto a forte liderança interna alcançada pelo seu atual presidente Vladimir Putin, e, consequentemente, o papel das instituições do país, também tem colaborado nessa trajetória", avalia Patti.
Ao longo da década passada, a economia russa chegou a registrar índices acima de 7% - em 2000 (10%), 2001, 2002, 2003, 2004 e 2007 (8,1%). Em 2005 avançou 6,4% e, em 2006, 6,8%. Já em 2008,o país cresceu 6% alcançando a posição de 9ª economia do mundo.
No entanto, diante da crise global e da queda dos preços do petróleo, uma de suas principais commodities, as perspectivas diminuiram. No ano seguinte, a economia russa, ao invés de crescer, recuou -7,9%, voltando a avançar em 2010 e 2011 - 4% e 4,3%, respectivamente.
Porém, de lá para cá, entrou em ritmo de abrandamento, com seu Produto Interno Bruto (PIB) registrando acréscimo de apenas 3,4% em 2012, na comparação com 2011; e de 1,3% em 2013, ante o ano anterior, provando que o seu modelo de crescimento, que se baseia no preço alto dos hidrocarbonetos (petróleo e gás natural), não atravessa um bom momento. Está longe dos 7% anuais registrados na década passada.
Gás natural
"Entretanto, um fato recente parece dar novo ânimo à economia da Rússia diante das atuais sanções econômicas que ela vem sofrendo. Depois de quase dez anos de negociação, o país conseguiu fechar um acordo de fornecimento de gás natural para a China, neste momento em que não consegue parcerias com a Europa, por exemplo", argumenta Carlo Patti.
Mas, ao mesmo tempo, o alívio veio acompanhado de um agravante: o rebaixamento da nota da Rússia, pela agência Standard & Poor, para um nível que pode dificultar seu acesso aos mercados financeiros, e a Fitch poderá fazer o mesmo, se forem impostas novas sanções a Moscou. (ADJ)
Commodities
External factors weaken the Russian economy
A country divided between Europe and Asia that has the largest territory on the planet, about 17.07 million sq km, Russia has always characterized its diplomacy of leaning to the West one time and the East the next time. This is clear from the events that recently occurred in Ukraine and the subsequent cooling of relations and serious economic sanctions from the West, notably the central European countries and the United States.
The vulnerability of the Russian economy caused by external factors is further demonstrated by this crisis, says Deputy Minister of Economic Development, Andrei Klepach. One result, he said, would be capital flight. In the first quarter, these outflows were close to US $ 60 million, almost equal to the amount for the entire year of 2013 (US $ 62.7 million). The amounts are so great that Russia's economy is expected to grow by less than 1.3%. There are indications of stagnation, from this point on, if the current trends persist and structural measures are not taken.
Carlo Patti, professor at the Institute of International Relations at the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (PUC-Rio) and researcher at the BRICS Policy Center, an organization dedicated to the study of emerging countries, highlights that economic performance is influenced by the country's great dependence on commodities, whose prices are heavily impacted by global dynamics, as occurs, for example, with oil. Other local resources of wealth are the large reserves of gas and iron. "This (dependence on commodity prices in the international market) is therefore a weakness of its economy," he says.
According to experts, nearly two decades after the collapse of the Soviet Union in 1991, Russia continues to try to establish a modern market economy, and in fact has achieved high rates of economic growth. "In this context, the strong internal leadership achieved by its current president Vladimir Putin, and hence the role of institutions in the country, has also contributed to this trend," says Patti.
Growth
Throughout the last decade, the Russian economy has reached levels above 7% - 2000 (10%), 2001, 2002, 2003, 2004 and 2007 (8.1%). In 2005, it advanced 6.4% and in 2006, 6.8%. In 2008, the country grew by 6% to the 9th position in the ranking of world economies. However, before the global crisis and the fall in oil prices, one of its main commodities, prospects diminished. The following year, the Russian economy, instead of growing, dropped -7.9%, and returned to growth in 2010 and 2011 - 4% and 4.3%, respectively.
Since that time, Russia entered into a rhythmic slowdown in its Gross Domestic Product (GDP). It recorded an increase of only 3.4% in 2012 compared to 2011; and 1.3% in 2013 compared to the previous year, proving that its growth model, which is based on high hydrocarbon (oil and natural gas) prices, is going through a difficult time. This is far from the 7% per year recorded in the past decade.
"However, a recent fact seems to give new momentum to the Russian economy before the suffering from the current economic sanctions. After almost ten years of negotiations, the country managed to reach an agreement to supply natural gas to China, at a time when it did not conclude any European partnerships, for example," argues Patti.
Yet, at the same time relief came, it was accompanied by a disturbing factor, a downgrade by Standard & Poor's rating service to a level that can hamper its access to financial markets. Fitch can do the same if new sanctions are imposed on Moscow.