A "falta de prestígio" e a "subserviência" política cearense em relação ao governo federal são apontados pelo cientista político e professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Uribam Xavier, como prováveis motivos do insucesso do Ceará em relação à consolidação de projetos de grande porte.
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Numa economia que não tem capacidade de administrar projetos de alto valor, avalia o cientista político, é essencial o apoio do governo federal para que empreendimentos como a tão sonhada refinaria de petróleo Premium II se consolidem.
Sem retorno
"Mas, nossa classe política não teve prestígio suficiente para que um investimento dessa monta viesse a se concretizar. Outra coisa é a nossa subserviência. Mesmo com o apoio da classe política cearense aos governos do PT (Partido dos Trabalhadores) e à reeleição da presidente Dilma Rousseff, não tivermos um retorno à altura", declara.
Para Uribam, não se justifica a sinalização da refinaria de Abreu Lima para Pernambuco, onde a resposta política foi bem menor do que no Ceará. A refinaria, localizada em Suape, iniciou a fase teste de operação em setembro do ano passado. Iniciada em 2006, a obra foi orçada em US$ 2,5 bilhões, mas o custo final ficou em US$ 18,5 bilhões.
Movimento
Vale lembrar que, em âmbito estadual, houve um forte movimento político a favor da construção da Premiu II. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Zezinho Albuquerque, coordenou uma ação que abrangeu a Capital e o Interior, no sentido de mobilizar a população cearense sobre a importância da obra para a economia estadual, regional e nacional.
"A refinaria vem, ela tá prometida. Não desconfiamos que venha, a questão é o dia. A relevância dela é indiscutível. Se tivéssemos uma refinaria funcionando, estaríamos com uma balança comercial favorável", disse Zezinho ao Diário do Nordeste, ainda em julho de 2013.
Reação
Uribam Xavier questiona, ainda, a reação dos políticos cearenses no que se refere à mudança de planos da Petrobras. "Há um descompasso na reação de alguns políticos que demonstram terem sido pegos de surpresa. Alguns são do mesmo partido da presidente Dilma ou de partidos aliados e não sabiam? E a vontade política de estar lá fazendo pressão?", questiona.
Para ele, a atual situação em que se encontra a Petrobras, de fato, torna o projeto da usina inviável. "Além dos problemas que atingem internamente a empresa, do ponto de vista econômico de ordem internacional, com a alta no preço do petróleo, esse projeto seria, hoje, tecnicamente impossível", acrescenta. (AC)