Criado pela perspectiva de se ter uma moeda que não dependesse do sistema bancário mundial, o Bit-coin ainda desperta a curiosidade de muitos e, no Brasil, deverá começar a ter todas as transações declaradas à Receita Federal a partir deste mês de agosto. A medida também vale para todas as criptomoedas - termo de classificação par moedas digitais - e criptoativos.
O caráter de descentralização do Bitcoin também o eleva à categoria de alto risco entre as opções de investimento disponíveis hoje no mercado financeiro, segundo avaliação de especialistas.
"Tirando o risco de volatilidade da moeda, eu vejo como principal fator de risco o Bit-coin não ter nada que regulamente as transações. Elas são muito descentralizadas, com a responsabilidade ficando apenas para os usuários. A parte jurídica também é muito frágil e ainda existe o risco da própria demanda. Se ninguém quiser comprar a moeda, ela perde o valor", explicou Thomaz Bianchi, assessor de investimentos.
Histórico
A análise de Bianchi se baseia no modelo adotado pelo Bit-coin que, além de revolucionar o modelo adotado por bancos, ameaçou enfraquecer as estruturas tradicionais do mercado financeiro em que apenas as instituições poderiam validar transações e controlar a relação dos consumidores com uma moeda.
O Bitcoin foi criado por um programador japonês que utilizou o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, em 2008, focado em um sistema econômico alternativo e baseado na relação de pessoa para pessoa, ou P2P (peer to peer, na expressão em inglês).
Diferentemente das transações convencionais efetuadas pelos bancos, as operações com Bitcoin são validadas pelos próprios usuários e postos em uma sequência de blocos para que todas as pessoas possam acessar as informações. O sistema recebeu o nome de blockchain, e o que garante a segurança das operações é o fato de que todas as informações são criptografadas para dificultar a ação de hackers.
Mas para que o sistema funcione, é preciso garantir a participação orgânica de um grupo de pessoas independentes, uma vez que a sequência de blocos precisa ser atualizada a cada dez minutos com as últimas transações realizadas no mundo. Para isso, o sistema recompensa quem conseguir realizar as complicadas operações matemáticas necessárias para a validação dos blocos com um valor em Bitcoins.
Esse é o famoso processo de mineração dessa criptomoeda. Contudo, apesar de teoricamente qualquer pessoa poder realizar essa mineração de dados, o processo requer um potencial de processamento computacional muito elevado. A dinâmica faz com que pessoas e empresas acabem investindo em "fazendas mineradoras" de Bitcoin pelo mundo.
Fator interessante é que a recompensa pela mineração é reduzida pela metade a cada quatro anos, fazendo com que exista um limite de cerca de 21 milhões de Bitcoins no mercado. Assim, a moeda acaba tendo um caráter deflacionário e independente de governos.
Valores
Com isso, o que define o valor do Bitcoin é a lei da oferta e demanda mundial. Quanto mais pessoas estiverem adquirindo frações da criptomoeda, maior é a valorização corrente. Essa dinâmica chegou a impulsionar o valor de um Bitcoin ao patamar de R$ 64 mil em 15 de dezembro de 2017.
Outra diferença entre o Bit-coin e as moedas tradicionais é que a criptomoeda pode ser adquirida em frações decimais. A menor parcela que pode ser comprada é de 0,00000001 BTC, equivalente ao chamado 1 Satoshi.
E é justamente o caráter especulativo que acaba influenciando a análise de especialistas na área. "Eu não considero o Bitcoin uma fonte de investimento, que é algo que dá retorno em fluxo de caixa. Hoje, é comprar e esperar para ver se vai ter demanda para vender", afirmou Bianchi. Para comprar Bitcoins, pode-se procurar uma corretora especializada ou realizar o processo de forma individual.