O Réveillon de Fortaleza, para além da festa de música e cores, traz uma série de oportunidades de emprego para quem busca uma renda extra ou até mesmo o sustento das suas famílias neste fim de ano. São ambulantes, técnicos de som, palco, socorristas, seguranças, entre tantas outras profissões que veem suas demandas aumentadas em até 150% no período.
No evento que terá três dias e ocorre no aterro da Praia de Iracema, serão disponibilizadas, ao todo, 740 vagas para ambulantes que venderão bebidas e comidas (lanches rápidos), e vão trabalhar de forma fixa ou itinerante na área de atuação do comércio designada pela gestão municipal.
Em nota, a Secretaria Executiva Regional 2 (SER 2), que organiza os trabalhos, explica que, deste total, 85 ambulantes já são permanentes no local, ou seja, têm autorização para trabalhar naquela área, independentemente de evento.
Outros 100 serão sorteados do banco de dados de ambulantes da SER 2, organizado com pessoas que já se cadastraram e participaram das capacitações, o que as tornam aptas a atuarem nos eventos que ocorrem na Beira-Mar.
Esses 185 ambulantes fixos, dentre os permanentes e os sorteados, podem indicar até três itinerantes, cada um, alcançando, dessa forma, o total de 740 ambulantes (185 fixos com 555 itinerantes).
Para integrar o banco de dados de vendedores ambulantes da Regional 2, os empreendedores precisam participar de capacitação sobre boas práticas de higienização e alimentação, promovida pela Vigilância Sanitária de Fortaleza. A capacitação tem validade de um ano e, durante esse período, os vendedores estão aptos para trabalharem em eventos, conforme orientação da pasta.
Durante o ano, o ordenamento do comércio da Beira-Mar e do trecho do Aterro da Praia de Iracema pertencente ao território da SER 2 possui 1.309 empreendedores cadastrados, sendo que destes, 202 são lotados no aterro.
A festa da família é no trabalho
Há 10 anos participando das festas de Réveillon na Praia de Iracema, a ambulante Juliana Vieira de Sousa, 43 anos, afirma que a expectativa de venda para a festa "é a melhor possível". Nas suas bancas fixas, os consumidores encontrarão espetinhos, bebidas e o carro-chefe, o pratinho. O aumento de consumo, de um dia normal para um de festa de fim de ano chega a ser de 500%.
"Em um dia normal vendo uns 100 pratinhos e em um dia de Réveillon, chega a sair 500."
Com valores acessíveis, que variam de R$ 7 a R$ 10, o faturamento de uma noite fica em torno de R$ 7 mil. "Como a gente já tem uma certa experiência, sabemos como funciona, a quantidade, então não deixamos faltar nada. Vamos bem abastecidos para dar a noite toda."
Juliana exemplifica a sua programação, afirmando que só de arroz são cerca de 20 quilos diários. "Ao todo dá uns 200 quilos de comida, porque além do arroz tem farofa, misturas, salada e farofa de cuscuz. Só de carne a gente compra em torno de uns 50 kg variados, gado, frango, linguiça e porco. Isso é por dia, como esse ano são três, vamos multiplicar, e se Deus quiser, no segundo dia vamos botar mais do que no primeiro."
Já nas bebidas, Juliana explica que a venda é bem menor, pela programação das famílias, que acaba carregando sua própria caixa refrigerada. Com duas barracas neste ano, ela ainda conta que a montagem do espaço ocorre pela manhã e que a logística dos produtos inicia duas horas antes do evento.
"Coloco uma lá embaixo e uma aqui no Pagode da Mocinha. Assim a gente pega o pessoal subindo e o pessoal descendo."
A organização da ambulante faz com que ela consiga também empregar de três a 15 pessoas, incluindo os integrantes da família que também trabalham na ação. "As equipes se revezam porque temos trabalho o dia inteiro. É na preparação das comidas, nas montagens e na venda."
Questionada se vale a pena abrir mão de uma passagem de ano em casa para estar trabalhando, Juliana é rápida ao dizer que sim.
"Até porque essa acaba sendo a nossa festa também. Trabalho o ano todo como ambulante, de sexta a domingo. A minha renda vem da barraca."
Ela revela que, além disso, é líder comunitária e faz parte dos programas Nossas Guerreiras e Meu Carrinho Empreendedor da Prefeitura. A mãe de família avalia ainda ter sido "uma virada de chave no meu negócio".
"Antes eu não tinha noção de preço, se estava ganhando ou perdendo. A capacitação fez toda a diferença para que hoje eu tivesse esses dois pontos e uma pessoa de carteira assinada trabalhando comigo."
Injeção na economia local
Com base nos números do ano passado, a Prefeitura de Fortaleza espera que mais de 180 mil empregos, entre formais e informais, sejam gerados no período do Réveillon, não só nas festividades propriamente ditas, como também no comércio e setor de turismo.
"Não queremos criar uma euforia desmedida, mas como teremos um dia a mais, com certeza deve passar dos 200 mil empregos. O número também será histórico, como a festa que faremos, que é a maior da cidade", diz o secretário de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Nogueira.
O faturamento esperado é entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões. "Esse é dinheiro novo injetado na economia, que vai desde o ambulante até o dono de hotel, ou seja, tem uma capilaridade muito grande. Tanto a festa como o recurso que vem são democráticos, já que o último chega em outras cidades do estado também."
O secretário do Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, reforça que o setor tem contribuído para a economia da cidade e a geração de empregos. "Os hotéis estão com ocupação máxima, Fortaleza é a primeira cidade mais procurada neste período no Airbnb, ou seja, serão 600 mil turistas que injetarão valores na casa dos bilhões, movimentando mais de 50 setores da economia."
Serviços de cuidado tem demanda aumentada em 3 vezes
Neste período do ano, o Centro de Resgate e Emergência Pré-Hospitalar (Creph) vê sua demanda aumentar em 150%. A empresa é responsável pelo cuidado da vida das pessoas que participam de eventos. Assim, são disponibilizados bombeiros civis e salva-vidas, equipes de emergências médicas (que contam com médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e socorrista) e a estrutura de postos médicos avançados para receber o público.
Desde 2012, o Creph atua no Réveillon da prefeitura, no Aterro da Praia de Iracema, como também em festas particulares não só em Fortaleza, como também no litoral Oeste. Segundo o diretor do centro, comandante Sérgio Lépine, por ser um grupo pioneiro nesse serviço de cuidado com a vida em eventos, a demanda entre os dias 28 de dezembro e 2 de janeiro aumenta fortemente entre os já clientes da empresa.
Neste ano, ele afirma que cerca de 200 pessoas estarão atuando em pelo menos 14 eventos de Ano Novo. Lépine relata que 70% do efetivo da empresa atua especificamente na virada do ano e que caso sejam necessários outros profissionais, esses são recrutados e acabam ficando em um cadastro de freelancers, principalmente para períodos de muitos eventos como, por exemplo, além do Réveillon, o Carnaval.
Diferente de outros grupos de trabalhadores, que têm recesso para ficar com os familiares nas festas, quem trabalha com resgate acaba querendo estar de plantão nesse período. Para todos os colaboradores do Creph, estar de serviço nesta data é optativo.
"Então, essa é uma oportunidade de ter uma renda extra bacana para finalizar o ano ou começar o próximo. Além disso, o Réveillon é uma oportunidade de estarmos recrutando novos profissionais para o calendário de 2024."
Segurança é parte fundamental da festa
Atualmente, a segurança é fundamental para que se tenha um evento de sucesso e tranquilo. Para auxiliar nesse quesito, a empresa Caiçara Segurança trabalhará no aterro da Praia de Iracema com um grupo de cerca de 200 pessoas.
Conforme a supervisora Maria Thairles Nascimento, a época do ano traz um aumento de procura do serviço em torno de 40%. Desta vez, a equipe trabalhará apenas nos eventos oficiais da Prefeitura de Fortaleza.
"Nossa atuação ostensiva pode evitar diversos problemas e coibir pessoas mal intencionadas, deixando assim o público mais à vontade para curtir o evento e se sentindo mais seguro."
Além disso, ela comenta que acredita que a maioria das pessoas tem vontade de passar essas datas festivas com familiares e amigos. "Porém, neste momento econômico de pós-pandemia, onde nossa categoria também foi bastante prejudicada, estamos vendo a alegria e o brilho das pessoas por poder voltar a trabalhar nessas datas, garantindo uma renda extra e começando o ano com dinheiro no bolso."
Questionada sobre ter dificuldades em recrutar profissionais nesta época do ano, Maria afirma que "da mesma maneira que tem a demanda de eventos também tem a procura por emprego, seja para gerar uma renda extra, seja para garantir a renda de final de ano".