O bacalhau é, tradicionalmente, o alimento que mais encarece os almoços da Semana Santa da classe média brasileira, mas, neste ano, quem assume esse papel de vilão é o azeite de oliva. Atualmente, o frasco de 500 ml do óleo vegetal é vendido por cerca de R$ 40, nos supermercados de Fortaleza. Contudo, ainda pode chegar a R$ 50 e até R$ 60. Há cinco meses, o valor médio era de R$ 30, conforme pesquisa realizada pelo Diário do Nordeste, em outubro último. As estatísticas atestam a escalada do custo: segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo15 (IPCA-15), a prévia da inflação, o azeite de oliva acumula alta de 46,4%, nos últimos 12 meses, conforme aferição feita em meados de março, no País. [render name="INFO" contentId="1.3494578"] O item ficou mais caro devido às secas na Europa, sobretudo na Espanha, o maior produtor mundial. Como há poucos olivais no Brasil, há dependência do mercado externo para o abastecimento local. De acordo com o professor universitário e conselheiro regional de economia (Corecon), Wandemberg Almeida, a produção nacional, localizada no Sul do País, também foi atingida pela crise climática, com as fortes chuvas, aumentando ainda mais a demanda para o comércio europeu. [citacao tipo="aspas" autor="Wandemberg Almeida" descricao="Economista, professor universitário e conselheiro regional de economia (Corecon)" ][citacao tipo="texto" ]“Além desses fatores para pressionar, temos as variações da cotação do dólar. Na composição do valor final, também são acrescentados o custo logístico, lucro da indústria e o repasse dos supermercados”, enumera.[/citacao][/citacao] Reduflação e multiplicação de similares cercam os consumidores Diante da elevação do preço do azeite de oliva, a indústria encontrou formas de manter o consumidor na seção de óleos. Uma delas foi a reduflação (quando o tamanho diminui, mas o valor não), uma estratégia antiga — e considerada legal — usada para reduzir o custo dos fabricantes em momentos de crise. No entanto, nem sempre é fácil para o leigo identificar a prática. O Diário do Nordeste observou reduções de tamanhos para 450 ml (antes, eram 500 ml), com valores na faixa de R$ 40. Nesses casos, o comprador pode acreditar ter levado o azeite mais barato, mas é, na verdade, menor. [render name="azeite 2" contentId="1.3463840"] Por isso, é indicado redobrar a atenção para o tamanho e especificações apresentadas no rótulo, já que a prática da reduflação não é proibida quando segue as normas, incluindo esclarecimentos sobre as alterações especificadas na embalagem. Caso o produto tenha encolhido, não há muita saída para a população, mas vale recorrer à tradicional pesquisa, avaliar a troca de marca, colocar os cálculos na ponta do lápis e ficar atento. As empresas devem inserir as informações de mudanças de embalagens em locais legíveis e com os seguintes requisitos de formatação: caixa alta, negrito, cor contrastante com o fundo do rótulo e altura mínima de 2 mm, conforme Portaria n.º 392/2021, de 29/09/2021, do Ministério da Justiça. A segunda tática é a produção similares. Não à toa, os consumidores se deparam, cada vez mais, com óleos compostos nas prateleiras como “alternativas” ao azeite de oliva. [render name="COMPOSTO" contentId="1.3494560"] Muitas marcas estão em conformidade com a lei por enquadrarem esses produtos em opções regulamentadas, mas o problema é confusão gerada, já que a embalagem, design e os nomes são semelhantes, além do posicionamento nas gôndolas. [citacao tipo="texto" ]Em caso de descumprimento de ambas as regras, deve-se denunciar o caso aos órgãos de defesa do consumidor.[/citacao] Como substituir o azeite sem prejudicar a saúde A nutricionista Viviane Araújo explica que a população deve se informar sobre o alimento a ser consumido e buscar fontes confiáveis antes da tomada de decisão. [citacao tipo="aspas" autor="Viviane Araújo" descricao="Nutricionista " ] “Criou-se um mito de que vários tipos de óleos eram prejudiciais para a saúde, quando, na verdade, não são, mas é preciso saber escolher o tipo certo. As gorduras insaturadas são fontes de gordura boa para a nossa saúde”, esclarece. [/citacao] “As gorduras insaturadas compreendem dois tipos: as monoinsaturadas, como a do azeite, abacate, canola e gergelim, e as poliinsaturadas, as quais são a do óleo de soja, milho, girassol e semente de algodão. Então, essas opções são consideradas boas para a saúde e uma alimentação melhor”, complementa. Conforme a nutricionista, portanto, o melhor custo benefício é óleo de soja, mas há diversas opções viáveis. O ideal, destaca, é optar pela versão orgânica e livres de transgênicos. São alternativas: Óleo de girassol; Óleo de canola; Óleo de milho; Óleo de semente de algodão; Óleo de abacate. [citacao tipo="texto" ]Recomenda-se a orientação de um profissional da saúde antes de decidir pela substituição para definir qual alternativa consoante às necessidades de cada pessoa.[/citacao] Quais os riscos de comprar similares e como escolher o melhor azeite? Conforme Viviane Araújo, alguns produtos similares são transgênicos, ou seja, modificados geneticamente com a alteração do código genético (DNA). Por esse motivo, não são a melhor escolha para a saúde. “Se for um óleo transgênico, certamente trará prejuízos ao longo do tempo. No entanto, os orgânicos (livres de transgênico e sem nenhum outro produto adicionado) não têm problema nenhum”, aponta a nutricionista. [render name="Transgênicos" contentId="1.3494557"] Quem não quiser abrir mão do azeite de oliva, pode otimizar o consumo para mantê-lo na dieta. “Uma boa estratégia para economizar na quantidade de qualquer tipo de óleo é investir em panelas de cerâmicas, que têm ótima antiaderência e não precisam de grandes quantitativos. Outra opção é colocar o alimento em um borrifador”, orienta. Veja 5 dicas da nutricionista para escolher o melhor azeite: O ideal é uma embalagem de vidro e escura. Evite frascos transparentes e de plásticos em razão da oxidação; Veja a acidez no rótulo. Se possível, compre o aziete com acidez de até 0,5%; Na parte dos ingredientes, deve constar apenas azeite de oliva na composição; Opte pelo azeite de oliva prensado a frio; Quanto mais jovem, melhor. Por isso, verifique a data de fabricação. [render name="video" contentId="1.3494610"] Consumidores estão parcelando compras de alimentos Nas redes sociais, os memes são um termômetro da percepção dos consumidores por estabelecerem uma linguagem irônica e popular para falar dos acontecimentos cotidianos. No início deste mês, por exemplo, repercutiu uma publicação sobre a possibilidade de pagar um vidro azeite em até quatro prestações. [render name="TUÍTE" contentId="1.3494528"] Nas lojas de Fortaleza, a reportagem não identificou anúncios especificamente sobre o parcelamento do item, mas é comum encontrar, em atacarejos e supermercados, a prática para toda a feira mensal. Segundo a diretora Institucional da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecormécio-CE), Cláudia Brilhante, a última pesquisa da entidade aponta que 69,5% dos residentes no Ceará estão assumindo dívidas para se alimentar. “O dado inclui supermercado e alimentação fora do lar, mas a feira corresponde a quase 72% do endividamento. É preocupante porque a pessoa compra parcelado numa semana, mas precisa reabastecer na seguinte”, observa. “Quando junta essas compras com os pedidos de delivery, fica mais difícil conseguir honrar a dívida e acaba pagando o mínimo do cartão de crédito”, completa. O que esperar do preço do azeite para os próximos meses A presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva), Rita Bassi, não projeta redução do custo, no momento. “A colheita de 2024 não está muito diferente da de 2022 e 2023, que foi afetada pelo período de seca, porque vem sofrendo reflexos da anterior”, avalia. [citacao tipo="aspas" autor="Rita Bassi" descricao="Presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva)" ]“Não vemos uma redução do preço. Lembrando que isso não ocorre somente no Brasil, mas em todo o mundo. Então, aqui, será difícil um cenário de valor visto em anos anteriores”, diz. [/citacao] Para o economista Wandemberg Almeida, todavia, há tendência de estabilidade, a partir do segundo trimestre deste ano. “O clima deve normalizar e poderemos ter uma produção maior. Apesar de uma queda no horizonte, não significa dizer que voltaremos aos antigos patamares de preço do alimento”, pondera.