Como ficam os negócios de energia da AES no Ceará se a empresa sair do Brasil?

A companhia não confirmou que irá deixar o País

O mercado de energia renovável no Ceará não deve sofrer efeitos expressivos caso se concretize a saída da companhia AES do País, conforme análise de fontes especializadas do setor. No Estado, a empresa opera o Complexo Eólico Mandacaru, nos municípios de Trairi e Amontada, além de ter assinado pré-contrato para instalar uma usina de hidrogênio verde (H2V) no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).

No entanto, segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, a geradora de energia teria contratado os bancos Itaú e Goldman Sachs para vender os seus ativos e deixar o Brasil. Questionada sobre essa possibilidade, a AES Brasil disse apenas ter sido informada por sua controladora, a AES Corp, “que esta avalia alternativas para financiar o crescimento da companhia e melhorar sua estrutura de capital”.

Para o consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Jurandir Picanço, se a saída for confirmada, a tendência é que os ativos da AES sejam repassados para outro investidor.

“Seria preocupante a saída de uma empresa desse porte do Brasil, mas, especificamente para o Ceará, não haveria impactos, pois já foram desenvolvidos vários estudos e feita a reserva da área”, ponderou.

“Não acredito que perderiam esse investimento, mas poderiam transferir para algumas das 36 companhias com memorandos de entendimento assinados com o Estado”, completou. 
Jurandir Picanço
Consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiec)

Com aporte estimado em U$S 2 bilhões, o projeto previa estudo de viabilidade técnica e comercial para a construção de uma unidade fabril, com capacidade instalada de eletrólise de até 2 GW para produção de hidrogênio e amônia verdes. Para a instalação da planta, a AES já começou a pagar aluguel de uma área de 80 hectares na Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE).

Já o parque eólico possui 108,1 megawatts de capacidade instalada e conta com cerca de 20 funcionários, entre técnicos de manutenção e planejamento, engenheiros e outras funções. 

Valorização dos empreendimentos

Nesse cenário, o secretário executivo de Energia e Telecomunicações da Secretaria da Infraestrutura do Estado (Seinfra), Adão Linhares, analisa que os empreendimentos “estariam mais valorizados” em razão do estágio avançado dos negócios. 

“Não haveria impacto nenhum para o Ceará. O comprador iria continuar operando, não iriam desligar os equipamentos e ir embora, são investimentos de longo prazo e têm contratos a serem cumpridos”, destacou. Esse movimento também ocorreria com a planta de H2V, que já tem estudos e área reservada. 

O diretor de regulação do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado (Sindienergia), Bernardo Viana, observou haver o risco de fuga desse investimento, mas reiterou a possibilidade de negociação do projeto e do ativo mais valorizados. 

“Perde-se um player mundial gigante, mas, nesse ponto, o Ceará não tem grande perda”, avaliou. Como a AES Brasil está com endividamento elevado, aponta, a tendência é fechar o capital e colocar as operações à venda. 

As três fontes ouvidas pela reportagem frisaram, no entanto, ainda ser necessário aguardar a confirmação da saída da empresa.  

Em nota, o CIPP afirmou “conversar quase que diariamente com a AES, mas esse assunto não é tratado pelos executivos no Brasil”.

“A AES vem construindo solidamente o seu projeto de hidrogênio verde no Pecém. Esse projeto é um ativo valioso para a AES e estará pronto para ser implementado de forma competitiva, seja pela própria AES ou por qualquer outra empresa que negocie com ela”, enfatizou. 
Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp)

AES Brasil

A empresa norte-americana está no Brasil há 27 anos, desde 1997. Além do Ceará, a AES investe em outros estados do Nordeste, com dois projetos de parques eólicos no Rio Grande do Norte e na Bahia.