A possível privatização dos Correios deve atender uma necessidade premente de modernizar o segmento de entregas e definir com maior precisão o que é monopólio ou não da empresa, apontam especialistas. Na última quarta-feira (24), o presidente Jair Bolsonaro levou pessoalmente o projeto de lei que trata da privatização da estatal à Câmara dos Deputados, resgatando o tema.
O modelo ideal de privatização ainda está sob estudo, mas há três possibilidades: vender a empresa inteira, separar por tipo de serviço ou por regiões. O projeto também prevê a transformação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em Agência Reguladora dos serviços postais, absorvendo a fiscalização das atividades.
“Quando o serviço foi estabelecido como monopólio do Estado, o principal item transportado eram as correspondências. Tínhamos o desafio gigantesco por ser um país continental, com muitos municípios pequenos e pontos de difícil acesso. Foi a forma de viabilizar que alguém prestasse esse serviço social, que, em muitos casos, as pessoas não teriam alternativa se não fosse o serviço público”, contextualiza o economista Alex Araújo.
“A atividade dos Correios mudou e o próprio modelo de negócios mudou muito. Hoje, é muito mais relevante a postagem de mercadorias, encomendas, do que o próprio modelo de correspondência. No entanto, esse monopólio se mantém, isso cria um conflito. Existem várias empresas que trabalham com entrega e discutem na Justiça se podem ou não executar”, completa.
Com a transformação dessas atividades, impulsionadas pelo desenvolvimento do comércio eletrônico, a qualidade do serviço passou a ser mais questionada.
Qualidade do serviço questionada
“Já havia um questionamento sobre a qualidade do serviço prestado e isso foi potencializado pelo cenário atual de incremento na demanda dos serviços postais puxado pela força do e-commerce, em função da pandemia”, registra Randal Mesquita, professor especialista em Finanças.
Estímulo à concorrência
Os especialistas acreditam no movimento positivo do mercado caso se consolide a privatização, gerando competitividade e levando à diminuição dos custos para os consumidores.
“A concorrência sempre é boa para o consumidor. O ideal é que tenha um processo que permita vários fornecedores, que eles fiquem brigando pela atenção do consumidor, diminuindo os custos e melhorando o serviço para ele. Esse é o ponto fundamental no processo de privatização. Não pode, simplesmente, tirar o monopólio dos Correios e passar para o monopólio de uma outra empresa. Essas regras de competição são fundamentais”, enfatiza Araújo.
“Há uma expectativa de melhora do serviço. A possibilidade de entrar companhias privadas para concorrer de forma equitativa com os Correios traz a possibilidade de redução do custo e, consequentemente, redução do preço do serviço. Nos mercados onde há privatização, há uma boa possibilidade de revisão de preços, seria um fator positivo para o cliente”, reforça Mesquita.
Para as empresas, que já vêm trabalhando com alternativas nos serviços de entrega, a desestatização não teria grandes impactos, pondera Alex Araújo.
“As grandes empresas encontraram uma solução mista de logística através de centros de distribuição regional. Hoje, são poucas delas que utilizam os serviços dos Correios. A maioria usa os CDs e transporte privado de encomendas dentro do País. E apenas o centro de distribuição do consumidor que usa alguma solução que pode ser, eventualmente, os Correios”, explica.
O economista também frisa que o consumidor final ou o profissional liberal, trabalhador por conta própria que vende pela internet pode ser o mais afetado.