O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), disse que pretende dialogar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aumentar para 15% a taxação de importação para proteger a indústria siderúrgica brasileira e cearense. Com o avanço das importações do aço chinês, o setor nacional afirma encarar uma crise. No Estado, a Gerdau — uma das maiores empresas do ramo e que emprega cerca de 500 de pessoas — ameaça fechar as portas.
Em outubro último, o Governo Federal já havia elevado a tarifa de importação de 12 produtos, retomando as alíquotas de 9,6% a 12,8%. No entanto, segundo o governador, o setor demanda uma taxa de 25%.
“Precisamos intensificar o trabalho junto ao Ministério da Fazenda. Não no patamar que as empresas estão solicitando, mas em outro que permita efetivamente a competitividade às empresas nacionais com as chinesas”, afirmou, em entrevista ao Diário do Nordeste, nesta quarta-feira (20).
Questionado sobre a ameaça de fechamento da Gerdau, Elmano não descartou a possibilidade, mas frisou ser um problema do segmento no Brasil.
É um problema maior para o Ceará, mas o que eles colocaram é de que, se não tomarmos as medidas, o risco existe. Por isso, estou agindo com o Governo Federal para tomarmos as medidas necessárias para a proteção das empresas no País”, afirmou.
Gerdau retoma atividades no Ceará em 2024
Indagada se o percentual de 15% seria o suficiente para a manutenção da empresa no Estado, a Gerdau ponderou que já retomará as operações nas unidades de Maracanaú e Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, a partir de 2 de janeiro de 2024, "com o objetivo de preservar os empregos". No entanto, defendeu uma alíquota de 25%.
A empresa acrescentou que a indústria nacional de aço segue sendo impactada pelo elevado nível de importação de produtos asiáticos.
Nesse contexto, para a Gerdau, "é fundamental a implementação de medidas que tragam competitividade para o setor e evitem a importação desleal de aço como uma tarifa emergencial de importação de 25%, impedindo assim novos ciclos de suspensão de operações e contratos de trabalho, que podem retornar caso a tendência de entrada de aço estrangeiro no País siga em alta".
'15% não é suficiente'
Em nota enviada nesta quinta-feira (21) ao Diário do Nordeste, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) informou que não concorda com o percentual de 15% comentado pelo governador Elmano.
"Atualmente, o mercado mundial se aproveita da situação de taxa do Brasil (aproximadamente 10%) usando o nosso país como local de escoamento de aço excedente e subsidiado, já que em outros grandes países consumidores as taxas de importação impostas são de 25%".
Ainda de acordo com a Fiec, o impacto da não elevação da alíquota de importação do aço já está "materializado em unidades paradas e produção reduzida, que leva também a redução de postos de trabalho e interrupção de investimentos, prejudicando diretamente o desenvolvimento da indústria. Só para ter uma noção de impacto, hoje a maior indústria do Estado é uma siderúrgica que gera mais de 5500 empregos diretos, sem contar com toda uma cadeia de empregos indiretos".
A Federação informou ainda que vem reforçando o papel no apoio e desenvolvimento da indústria no Estado.
"E assim é com a indústria do aço, com potenciais relevantes pra nossa economia: chegada de novas empresas e negócios (a exemplo de aquisições recentes na ordem de 2,2 bilhões de dólares), investimentos feitos pelo setor na região, além da conexão direta como potencial consumidor de Hidrogênio verde. Porém, a forte elevação de produto subsidiado do mercado externo cria uma competição desleal para o segmento siderúrgico nacional, colocando em risco as oportunidades também no nosso Estado", completou a nota.
Crise no setor
O secretário para assuntos jurídicos do Sindicato dos Metalúrgicos do Ceará (Sindmetal-CE), Francisco Silveira, atribuiu a crise das empresas do aço a taxação do material importado, principalmente da China.
"A entrada do aço da China sem taxação de imposto está prejudicando o mercado interno e afetando a nossa base do setor metal-mecânico. Isso é o que a gente vem sentindo na pele e a gente vem buscando parceiros para chegar até ao Governo Federal o repúdio com esse aço da China, que está nos prejudicando".
De janeiro a novembro deste ano, o Estado exportou US$ 1 bilhão em ferro e aço para 24 países, conforme dados do Comex Stat, plataforma do Ministério da Indústria, Comércio e Relações Exteriores. No entanto, também importou US$ 182,4 milhões do produto do mercado chinês.