Ceará supera gargalos e se torna mais competitivo em energia renovável

Estado busca modernizar máquina, dando mais dinamismo nas liberações de licenças, além de fortalecer a infraestrutura voltada para o setor

Terceiro maior produtor de energia renovável do País, o Ceará tem na força dos ventos e na alta incidência de radiação solar suas principais vantagens competitivas para atrair investimentos em geração solar e eólica. Pioneiro em ambos os segmentos, com a instalação da primeira usina eólica, no Mucuripe (2002), e a primeira planta fotovoltaica do País, em Tauá (2011), o Estado irá receber, até 2022, mais 18 parques eólicos e dez usinas fotovoltaicas, adicionando 736 megawatts (MW) de potência a sua matriz renovável. Hoje, são 76 parques eólicos e uma usina fotovoltaica que, juntos, somam 1.956 MW em capacidade instalada.

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Apesar do pioneirismo e do potencial para geração de energia limpa, o Ceará acabou ficando para trás na última década. De líder nacional, passou para a terceira posição em capacidade instalada, ficando atrás do Rio Grande do Norte (3.839 MW) e Bahia (3.397 MW). E, mesmo considerando os empreendimentos em construção e os já contratados, o Estado poderá ser ultrapassado pelo Piauí, que nos próximos anos irá adicionar 1.152 MW em potência solar e eólica, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Um dos fatores que fizeram com que o Ceará perdesse espaço no segmento foi a carência de linhas de transmissão, que acabou inviabilizando a instalação de novos empreendimentos. No entanto, com esse gargalo já resolvido, as perspectivas hoje são mais otimistas. Responsável por 14,6% do potencial eólico do País, o Ceará deve recuperar o espaço perdido nos últimos anos, sendo mais competitivo nos leilões de energia.

Concorrentes

"Não adianta ter somente o potencial se não há como explorá-lo. E durante bastante tempo o Ceará teve essa restrição de linhas de transmissão", diz Jurandir Picanço, Presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará (CS Renováveis-CE). "Além disso, embora o Ceará tenha sido pioneiro no setor eólico, outros estados viram essa oportunidade e desenvolveram mecanismos para atrair investidores. Primeiro foi o Rio Grande do Norte, e depois a Bahia e o Piauí", acrescenta.

Outro fator que acabou afastando investidores, segundo Picanço, foi a insegurança jurídica relacionada a licença ambiental. "Nos primeiros parques eólicos houve muitos questionamentos sobre licenças ambientais e se criou uma imagem de que era difícil investir no Ceará. Mas, recentemente, o Coema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) aprovou uma resolução que simplifica o licenciamento. Então, com a melhora do escoamento e maior facilidade para as licenças, temos condições favoráveis para que o Ceará retome o seu protagonismo em energias renováveis", afirma.

Aprovada em julho, a resolução do Coema determina os requisitos para aprovação dos empreendimentos, com regras específicas para projetos eólicos e solares fotovoltaicos. "Ocorre que esses processos não tiveram atualização durante muito tempo. A tecnologia avançou bastante e a resolução estava muito desatualizada", diz Picanço. Pouco intensivo em mão de obra, o setor de energia eólica gera cerca de 10 empregos por cada MW, demandando profissionais qualificados como oficiais de concreto, laboratoristas de concreto, operadores de guindaste e máquinas, dentre outros.

Terceira principal fonte da matriz elétrica do Brasil, responsável por cerca de 11% do total gerado no País, a geração eólica já está consolidada. Agora, a aposta do setor de energias renováveis é a geração solar fotovoltaica, que vem aumentando sua participação tanto nos grandes empreendimentos como em projetos de mini e microgeração. "A solar é hoje o que a eólica era há três ou quatro anos", diz Picanço. "O desenvolvimento está sendo muito rápido no mundo todo. E aqui no Brasil, e no Ceará em particular, as condições são muito boas. E mesmo com o custo das eólicas sendo menor do que da geração solar, essa diferença vem diminuindo constantemente", diz Picanço sobre os avanços tecnológicos do setor.