CE tem saldo de 21,1 mil novas empresas no ano; abertura ainda demora

A criação de novos negócios no Estado superou o de fechamentos de empresas tanto no período de maio a agosto deste ano, como nos últimos 12 meses. Tempo médio para abrir uma empresa diminuiu, mas ainda continua entre os mais altos

Diante das dificuldade de acesso ao mercado de trabalho intensificada pela pandemia de Covid, o Ceará registrou 30,1 mil aberturas de empresas no segundo quadrimestre deste ano e 8,9 mil encerramentos no período, gerando um saldo positivo de 21,1 mil negócios. Os dados fazem parte do Mapa de Empresas do Ministério da Economia.

A presidente da Junta Comercial do Ceará (Jucec), Carolina Monteiro, acredita que o cenário de pandemia com a forte movimentação de desligamentos no primeiro semestre deste ano pode ter motivado as pessoas a empreender, alavancando o saldo de empresas no quadrimestre encerrado em agosto. 

“Isso permeia muito o nosso pensamento para justificar esses dados. A gente percebe que essas empresas são, sobretudo, dos setores de serviços e comércio, atividades que conseguiram por meio do delivery sobreviver ao momento difícil”, pontua. “Acreditamos que, com esse momento de pandemia, as pessoas aproveitaram para empreender e criar algum tipo de serviço”, reforça, acrescentando que os negócios do ramo alimentício se destacam. 

Monteiro avalia que o grande número de aberturas de novas empresas esteja ligado às pessoas que eram potenciais empreendedores e que, “dentro de um cenário muito crítico, decidiram inovar e apostar no próprio negócio”.

Anual

Quando considerados os últimos 12 meses até agosto, o saldo de empresas no Ceará também é positivo. Foram 88,7 mil aberturas contra 30,8 mil fechamentos, gerando um incremento de 57,9 mil negócios. Comparando com outros estados da região Nordeste, o Ceará é o terceiro do País em saldo de empresas, atrás apenas de Pernambuco (61,7 mil) e Bahia (95,6 mil). No ranking nacional, o Ceará apresenta o décimo maior saldo de empresas – colocações que ocupa tanto no acumulado de 12 meses, como no quadrimestre.

O professor da Faculdade CDL Christian Avesque explica que, entre diversas classificações do empreendedorismo, a “por necessidade” ajuda a explicar o saldo positivo no número de empresas nos últimos meses. O momento difícil no mercado de trabalho associado ao fácil acesso a plataformas digitais de oferta de produtos, como as próprias redes sociais, levaram as pessoas a buscarem essa via.

“Nós também vimos um apoio muito grande do Sebrae e de outros institutos de suporte às pequenas empresas nesse momento, apresentando ferramentas e ensinando como empreender”, detalha o professor. 

Além disso, ele também destaca o acesso a serviços bancários de forma virtual como aspecto importante dentro dessa equação. “O acesso a ferramentas bancárias digitais para que o novo empreendedor abra uma conta digital facilita a relação com o consumidor. Então, aí nós temos uma explosão do empreendedorismo por necessidade”, detalha Christian Avesque.

Planejamento

Ele ressalta que os números do Mapa de Empresas mostram o fortalecimento da veia empreendedora brasileira, mas reitera que muitas vezes esse empreendedor acaba não fazendo algumas análises necessárias à manutenção da saúde do negócio, de forma que acaba entrando para a triste estatística de mortalidade de empresas. 

“Ele (o empreendedor) não avalia questões como o retorno, capital de giro e acaba entrando para essa triste estatística. É uma questão de fôlego financeiro. A gente não pode fazer uma empresa apenas com sonho”, afirma ele.

Processo de abertura

O Mapa de Empresas do Ministério da Economia revela ainda uma queda no tempo de formalização dos negócios no Estado. Segundo o levantamento, no quadrimestre de maio a agosto, o tempo médio necessário para abrir uma empresa no Ceará caiu 22 horas em relação aos primeiros quatro meses de 2020.

Mas apesar da queda, o Ceará ainda amarga uma posição nada privilegiada em comparação a outros estados – a 20ª colocação. Para abrir um negócio aqui, o empreendedor cearense leva, em média, três dias e três horas entre a viabilidade (um dia e sete horas) e o registro efetivo da empresa (um dia e 20 horas), segundo o levantamento.

A presidente da Jucec, Carolina Monteiro, frisa que o órgão vem evoluindo na digitalização de processos. Ela lembra que a abertura de uma empresa, em 2016, no Ceará, demorava 145 dias, queda considerável em relação ao tempo médio atual. “A nossa ideia é trazer esse prazo para, no máximo, cinco horas. Hoje, é possível fazer todo o processo de formalização pela internet”, explica Monteiro.

Ela ainda acrescenta que a contagem interna da Jucec computa um prazo médio de 36 horas para a legalização de empresas. O órgão continuou operando remotamente durante os meses de isolamento, cenário que, segundo a presidente da Jucec, motivou a elaboração de novas ideias para acelerar a abertura de empresas no Estado.

“Estamos verificando a viabilidade de efetuar mudanças no que se refere à assinatura digital que é feita hoje para abrir uma empresa”, detalha Carolina. Para isso, hoje, o empreendedor deve ter uma certificação digital ou passar uma procuração para alguém que a possui. “Nós estamos avaliando a assinatura por reconhecimento facial. Estamos avaliando a segurança jurídica e a viabilidade disso”.

Já o professor Christian Avesque avalia que o Brasil ainda se encontra muito atrás nesse quesito ante outros países do mundo, mas reforça que já houve “uma grande evolução em relação a dois anos atrás”. 

“A burocracia na abertura de uma empresa contribui para o crescimento da informalidade. Aí, com isso, tem carga tributária, que os empreendedores não conhecem. O custo oportunidade ou custo de transação tem que ser menor para possibilitar toda uma inserção desse contingente na formalidade”, arremata.