Diante das dificuldade de acesso ao mercado de trabalho intensificada pela pandemia de Covid, o Ceará registrou 30,1 mil aberturas de empresas no segundo quadrimestre deste ano e 8,9 mil encerramentos no período, gerando um saldo positivo de 21,1 mil negócios. Os dados fazem parte do Mapa de Empresas do Ministério da Economia.
A presidente da Junta Comercial do Ceará (Jucec), Carolina Monteiro, acredita que o cenário de pandemia com a forte movimentação de desligamentos no primeiro semestre deste ano pode ter motivado as pessoas a empreender, alavancando o saldo de empresas no quadrimestre encerrado em agosto.
“Isso permeia muito o nosso pensamento para justificar esses dados. A gente percebe que essas empresas são, sobretudo, dos setores de serviços e comércio, atividades que conseguiram por meio do delivery sobreviver ao momento difícil”, pontua. “Acreditamos que, com esse momento de pandemia, as pessoas aproveitaram para empreender e criar algum tipo de serviço”, reforça, acrescentando que os negócios do ramo alimentício se destacam.
Monteiro avalia que o grande número de aberturas de novas empresas esteja ligado às pessoas que eram potenciais empreendedores e que, “dentro de um cenário muito crítico, decidiram inovar e apostar no próprio negócio”.
Anual
Quando considerados os últimos 12 meses até agosto, o saldo de empresas no Ceará também é positivo. Foram 88,7 mil aberturas contra 30,8 mil fechamentos, gerando um incremento de 57,9 mil negócios. Comparando com outros estados da região Nordeste, o Ceará é o terceiro do País em saldo de empresas, atrás apenas de Pernambuco (61,7 mil) e Bahia (95,6 mil). No ranking nacional, o Ceará apresenta o décimo maior saldo de empresas – colocações que ocupa tanto no acumulado de 12 meses, como no quadrimestre.
O professor da Faculdade CDL Christian Avesque explica que, entre diversas classificações do empreendedorismo, a “por necessidade” ajuda a explicar o saldo positivo no número de empresas nos últimos meses. O momento difícil no mercado de trabalho associado ao fácil acesso a plataformas digitais de oferta de produtos, como as próprias redes sociais, levaram as pessoas a buscarem essa via.
“Nós também vimos um apoio muito grande do Sebrae e de outros institutos de suporte às pequenas empresas nesse momento, apresentando ferramentas e ensinando como empreender”, detalha o professor.
Além disso, ele também destaca o acesso a serviços bancários de forma virtual como aspecto importante dentro dessa equação. “O acesso a ferramentas bancárias digitais para que o novo empreendedor abra uma conta digital facilita a relação com o consumidor. Então, aí nós temos uma explosão do empreendedorismo por necessidade”, detalha Christian Avesque.
Planejamento
Ele ressalta que os números do Mapa de Empresas mostram o fortalecimento da veia empreendedora brasileira, mas reitera que muitas vezes esse empreendedor acaba não fazendo algumas análises necessárias à manutenção da saúde do negócio, de forma que acaba entrando para a triste estatística de mortalidade de empresas.
“Ele (o empreendedor) não avalia questões como o retorno, capital de giro e acaba entrando para essa triste estatística. É uma questão de fôlego financeiro. A gente não pode fazer uma empresa apenas com sonho”, afirma ele.
Processo de abertura
O Mapa de Empresas do Ministério da Economia revela ainda uma queda no tempo de formalização dos negócios no Estado. Segundo o levantamento, no quadrimestre de maio a agosto, o tempo médio necessário para abrir uma empresa no Ceará caiu 22 horas em relação aos primeiros quatro meses de 2020.
Mas apesar da queda, o Ceará ainda amarga uma posição nada privilegiada em comparação a outros estados – a 20ª colocação. Para abrir um negócio aqui, o empreendedor cearense leva, em média, três dias e três horas entre a viabilidade (um dia e sete horas) e o registro efetivo da empresa (um dia e 20 horas), segundo o levantamento.
A presidente da Jucec, Carolina Monteiro, frisa que o órgão vem evoluindo na digitalização de processos. Ela lembra que a abertura de uma empresa, em 2016, no Ceará, demorava 145 dias, queda considerável em relação ao tempo médio atual. “A nossa ideia é trazer esse prazo para, no máximo, cinco horas. Hoje, é possível fazer todo o processo de formalização pela internet”, explica Monteiro.
Ela ainda acrescenta que a contagem interna da Jucec computa um prazo médio de 36 horas para a legalização de empresas. O órgão continuou operando remotamente durante os meses de isolamento, cenário que, segundo a presidente da Jucec, motivou a elaboração de novas ideias para acelerar a abertura de empresas no Estado.
“Estamos verificando a viabilidade de efetuar mudanças no que se refere à assinatura digital que é feita hoje para abrir uma empresa”, detalha Carolina. Para isso, hoje, o empreendedor deve ter uma certificação digital ou passar uma procuração para alguém que a possui. “Nós estamos avaliando a assinatura por reconhecimento facial. Estamos avaliando a segurança jurídica e a viabilidade disso”.
Já o professor Christian Avesque avalia que o Brasil ainda se encontra muito atrás nesse quesito ante outros países do mundo, mas reforça que já houve “uma grande evolução em relação a dois anos atrás”.
“A burocracia na abertura de uma empresa contribui para o crescimento da informalidade. Aí, com isso, tem carga tributária, que os empreendedores não conhecem. O custo oportunidade ou custo de transação tem que ser menor para possibilitar toda uma inserção desse contingente na formalidade”, arremata.