Carteira de cooperativas de crédito salta 26% no CE em meio à pandemia

No contexto dos planos de expansão do Banco Central para esta categoria, Ceará tem grande potencial de crescimento. Cooperativas foram importantes para pessoas físicas e empresas associadas superarem obstáculos na pandemia

Até 2022, o Banco Central pretende dobrar a participação das cooperativas de crédito dentro do sistema financeiro no País, e o Ceará está em um caminho ascendente em direção a esse objetivo. Apesar da queda no número de cooperativas de crédito e de seus cooperados em 2020 na comparação com o ano de 2019, a carteira de crédito do segmento no Estado avançou, em média, considerando pessoa física e jurídica, 26,7% no ano passado.

Foram R$ 678,8 milhões na carteira das cooperativas de crédito em 2020 contra R$ 535,9 milhões no ano de 2019. Considerando apenas Pessoa Jurídica, foram R$ 214 milhões contra R$ 130,2 milhões em 2019, crescimento de 64,3%. Na pessoa física, a carteira de crédito é um pouco maior: R$ 464,9 milhões em 2020 contra R$ 405,6 milhões em 2019, crescimento de 14,6%.

Os valores representam o total emprestado por quatro cooperativas de crédito no Estado - em 2019 eram cinco. De acordo com dados do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Ceará (Sescoop-CE), ligado à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o número de cooperados entre 2019 e 2020 caiu em cerca de 2,5 mil cooperados.

Na avaliação do presidente do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Ceará (Sescoop-CE), ligado à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), João Nicédio Alves, o Ceará pode se destacar dentro desse contexto de pretensões do BC em relação ao cooperativismo de crédito por ainda ter bastante espaço de crescimento.

"Aqui no Ceará ainda é pequena a participação do cooperativismo de crédito no sistema financeiro. É um dos estados que mais têm espaço para crescer. Temos estados bem mais desenvolvidos, a exemplo do Rio Grande do Sul", explica Alves.

Metas

A meta do Banco Central integra a agenda de competição da autoridade monetária, com medidas que objetivam a desconcentração no sistema financeiro. As cooperativas de crédito representam, hoje, cerca de 10% do setor e a meta é que o percentual chegue a 20% no ano de 2022. No Norte e Nordeste, a proposta é ampliar ainda mais a participação, de 13% para 25%, ancorada justamente no potencial que há nessas regiões.

"O Ceará tem crescido bem nos últimos anos. O cooperativismo de crédito vai para esses municípios pouco desenvolvidos, regiões com poucos atrativos econômicos. Depois que essas cidades se desenvolvem é que os bancos maiores querem chegar junto", diz, exemplificando que em Rondônia houve um crescimento fortíssimo do cooperativismo de crédito em decorrência da presença do agronegócio sulista no desenvolvimento da região.

Nicédio avalia a proposta do BC como positiva e explica que a autoridade monetária quer, com isso, aumentar a "bancarização" da população brasileira. "É uma proposta do atual presidente do Banco Central para aumentar a participação da população nos negócios financeiros e o Banco Central entendeu que o cooperativismo de crédito é um caminho para que isso seja feito", explica. Sobre as ações realizadas para que essa participação cresça, Nicédio destacou que a divulgação do cooperativismo, sobretudo nos últimos meses de pandemia, tem sido fundamental.

"Tem muito espaço e isso está sendo feito. Nós estamos trabalhando para divulgar o cooperativismo de crédito com campanhas, mostrando as vantagens de se associar às cooperativas", afirma, lembrando que há cooperativas de crédito que remuneram com 100% da taxa básica de juros, a Selic, o capital integralizado dos associados, que é o valor que o associado deposita ao se associar.

Na cooperativa de crédito podem se associar pessoas físicas ou jurídicas (a depender da cooperativa ser ou não de livre adesão). Para isso, o associado deve integralizar uma cota mensal, que pertencerá ao associado e será corrigida anualmente. Ao fazer isso, ele passa a dispor de soluções financeiras ofertadas pela cooperativa, como produtos com taxas mais competitivas, em alguns casos.

Pandemia

Diante da necessidade de tomada de crédito pelas empresas no período da pandemia e consequente dificuldade de obtenção dos recursos em bancos tradicionais, as cooperativas surgiram como uma alternativa, na avaliação de João Nicédio Alves. "É um dos fatores, mas a confiança nas cooperativas aumentou muito, além do atendimento personalizado e mais próximo. Já existe esse trabalho de ampliação das cooperativas, mas a pandemia ajudou a alavancar isso", detalha.

O cenário de dificuldade para a tomada de crédito junto aos bancos ajudou a alavancar, por exemplo, os números da Sicredi Ceará. Em 2019, a carteira de crédito da cooperativa era de R$ 247 milhões. Em 2020, a cifra passou para R$ 350 milhões, crescimento de 41%. O número de associados à instituição também cresceu 19%, passando de 16,3 mil em 2019 para 19,4 mil em 2020.

Para Marcos Aragão, presidente da Sicredi Ceará, esse cenário contribuiu para a busca ainda maior pelas cooperativas. "Esse momento de pandemia foi o momento no qual o nosso associado mais procurou a gente", diz ele, acrescentando que as cooperativas de crédito foram as instituições de maior sucesso no socorro às pequenas e médias empresas. "Fora as famílias que precisaram de crédito", explica.

Ele também avalia que o Ceará tem muito potencial quando se trata do crescimento do cooperativismo de crédito. "Realmente o Ceará e Nordeste têm muito a crescer", explica. "Nós temos essa vertente de inclusão social e financeira, coisa que os bancos tradicionais não trazem. Temos uma facilidade de trabalhar com a população de baixa renda. A agenda do Banco Central busca muito a inclusão financeira e a educação financeira e, nesses dois pontos, ele encontra muito destaque no sistema cooperativo. No Brasil, 250 municípios têm o Sicredi como a única instituição financeira", acrescenta.

Banco Central pretende dobrar a participação das cooperativas de crédito dentro do sistema financeiro no País

Em meio à dificuldade de tomada de recursos, cooperativas foram alternativa durante a pandemia