Cabo em Fortaleza vai acelerar conexão entre América Latina e Europa

Com seis mil quilômetros de extensão, cabo de fibra óptica da EllaLink instalado na Capital será a primeira conexão direta entre o Brasil e o continente europeu. Estrutura também pode ser usada por países latino-americanos

O primeiro cabo submarino de fibra óptica a ligar Brasil e Europa começou a ser instalado na manhã de ontem (14), na Praia do Futuro, e antes mesmo da finalização do processo - a previsão, até então, é para o fim do primeiro semestre de 2021 - já chega com um objetivo: ser usado também na conectividade de cidades no Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro, além de países como a Argentina, Espanha e Portugal.

"Chegamos aqui a Fortaleza com o cabo, onde já possuímos diversos parceiros para aproveitar essa nova conectividade, mas já temos planos em conjunto com outros locais no País", explica o diretor de Operações (COO) da EllaLink, Diego Matas, que esteve presente durante todo o processo de retirada do cabo do mar para o início da instalação em solo cearense.

A empresa criada na Irlanda é a responsável pela produção da estrutura, que já tem acordos sinalizados de utilização em cidades europeias como Lisboa, em Portugal, Madri e Marselha, na Espanha.

Em extensão, o cabo conta com seis mil quilômetros e promete uma conexão mais rápida que a realizada atualmente entre os continentes.

Para Diego, o avanço fica claro ao analisar o cenário de conectividade atual, no qual um cabo entre Fortaleza e os Estados Unidos também é o responsável pela passagem de dados ao continente europeu.

"Hoje em dia, o tráfego de dados é levado da América do Sul até os Estados Unidos, na América do Norte, em um caminho que é o dobro do que estamos propondo, com 12 mil quilômetros. Só depois de passar por essa distância esse fluxo segue até o continente europeu, o que deve mudar a partir do próximo ano", explica o COO, ao reforçar como a rota direta pode trazer benefícios para o fluxo.

Rapidez

Na prática, a instalação do cabo de fibra óptica, que será utilizado em quatro pares, deve acelerar processos básicos e melhorias para plataformas de telecomunicações, que poderão optar por aderir à tecnologia. Para a companhia, os negócios digitais, serviços da nuvem, bancos eletrônicos, mídia de entretenimento e jogos online podem ser os serviços beneficiados nesse meio.

"O atraso na passagem de informações é muito mais baixo entre essa distância. Com a grande capacidade desse sistema, estamos basicamente criando um corredor completamente novo de dados", expõe Diego Matas. De acordo com ele, a estrutura do cabo representa apenas o início do processo. Quando finalizada a instalação, a conectividade será levada aos data centers, espaços que abrigam servidores e bancos de dados em diversos locais pelo mundo. Com a estrutura, a EllaLink prevê reduzir em 50% o tempo de transmissão de dados (latência) entre a América Latina e a Europa.

Processo

Ainda que a conclusão do processo de instalação seja lenta, visto que o funcionamento oficial só é previsto para o início do terceiro trimestre de 2021, a movimentação nas areias da Praia do Futuro foi intensa na manhã de ontem (14).

Mergulhadores e barcos estiveram a postos para a chegada do cabo, que foi retirado das águas por retroescavadeiras por mais de duas horas. Já em solo, foram as máquinas que fizeram o processo de ancoragem do cabo, que será responsável por oferecer, inicialmente, 72Tbps de capacidade em quatro pares de fibras entre Europa e Brasil.

"Para trazer o cabo até aqui é um processo complicado, feito em várias etapas. Na praia, por exemplo, essa estrutura toda foi para puxá-lo e prendê-lo no local montado aqui, uma espécie de tubo, que vai fazer o armazenamento do cabo. Estando aqui, ele vai ser enterrado, para depois ser retornado ao mar", explicou Marcelo Rehder, porta-voz da EllaLink.

Saindo daqui, o cabo volta ao mar até outro barco, localizado a meio caminho de Sines. Depois disso, outro processo de encaminhamento dos pares de fibra óptica se inicia para levá-los, de fato, até a cidade portuguesa.

Tão logo o processo esteja completamente pronto, ele reitera que será oferecida a tecnologia a outras empresas do ramo. "A EllaLink vai prover esse serviço e qualquer empresa tanto aqui como na Europa vai poder solicitar esse tipo de conexão por meio da gente", continua.

Segundo Rehder, o mercado foi estudado analisando as tendências atuais e visando um panorama diferente do visto hoje na América Latina. "O que nós percebemos é que os últimos anos têm sido de um aumento muito grande no tráfego de dados entre Brasil e Europa, o que ficava prejudicado por conta do cabo obsoleto que temos no meio dessa relação", se estende.

Para Rehder e Matas, a concretização do início da instalação representa um longo momento de estudo, definição e apresentação de um plano. "Foram cerca de cinco anos, ou até seis, para colocar tudo em prática. Muitas variáveis foram analisadas, muitos cuidados tiveram que ser tomados por conta da passagem do cabo pelo mar, mas tudo foi muito bem argumentado e pensado entre nós e as autoridades brasileiras", finalizou Diego Matas.

Infraestrutura

De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Ceará é um dos três estados brasileiros com melhor conexão de banda larga, velocidade e quantidade de fibra ótica instalada. Além disso, 85,9% dos municípios do Estado têm cobertura de fibra óptica e Fortaleza tem 15 cabos submarinos de fibra óptica. Estima-se que, até o fim de 2021, a Capital cearense terá 18 cabos submarinos funcionando, de acordo com a database Telegeography.