A Gol Linhas Aéreas acatou recomendação do Procon de São Paulo e suspendeu, às 20 horas de ontem, a operação de todas as sete aeronaves modelo Boeing 737 MAX 8 da companhia, que realiza hoje voos de Fortaleza à Miami e Orlando, ambas nos Estados Unidos. A medida ocorre após a ocorrência de dois acidentes semelhantes envolvendo o modelo da norte-americana Boeing em menos de seis meses - o último, no domingo (10), que caiu entre a Etiópia e o Quênia e deixou 157 mortos.
Após o acidente, países como a China, Indonésia e Etiópia suspenderam os voos programados com as aeronaves, como medida de precaução. Única brasileira que possui o modelo em sua operação, a Gol informou em nota que, desde o início das operações com a aeronave, em junho do ano passado, já realizou 2.933 voos, totalizando mais de 12.700 horas, "com total segurança e eficiência". Atualmente, a frota da Gol é composta por 121 aeronaves Boeing, das quais sete modelos 737 Max 8.
Os clientes com viagens previstas nas aeronaves são, desde ontem, comunicados e reacomodados em voos da empresa ou de outras companhia, como a Delta Air Lines. A central também permanece à disposição pelo telefone 0800 704 0465. A Gol informa ainda que continuará operando os destinos internacionais de longo curso com os aviões de outro modelo, o Boeing 737 NG, sem previsão de cancelamento na malha.
Impacto
Ainda na tarde de ontem, o mercado brasileiro já especulava sobre o impacto da queda das aeronaves sobre a Gol, que tem no Aeroporto Internacional de Fortaleza um dos seus principais focos de atuação. Grande parte do plano de expansão de operações da companhia passaria pelo modelo em questão, que consome 15% menos combustível por assento. As ações da Gol na B3, bolsa de valores brasileira, caiu 2,92% no pregão de ontem
Antes da medida de suspensão tomada pela companhia, o professor Cláudio Jorge Alves, do Departamento de Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), avaliava ser cedo demais para assumir que haverá prejuízos à Gol por conta dos incidentes. A análise leva em consideração a disposição da Boeing em querer reverter o quadro de desconfiança em torno do modelo de aeronaves, explica Alves. No Brasil, a preocupação vem pelo fato de que a Gol já tem pedidos formalizados à Boeing para a compra de pelo menos 133 aeronaves deste modelo, focando parte do plano de expansão de operações internacional.
Alves destaca que ainda não se sabe quais foram as causas dos acidentes e, mesmo com as semelhanças percebidas, é difícil garantir, nesse momento, que as falhas são da aeronave em si. Pode ter havido erros de processos ou até mesmo de operação, explica Jorge.
Repercussão
"A expectativa, agora, é identificar o problema e a Boeing deverá focar em resolver o mais rápido possível. Inicialmente, há um impacto na imagem desse avião, até com questão da China. Mas dizer que vai causar um problema ao hub no Ceará, por conta da Gol, é muito precipitado", pondera Cláudio Jorge.
O professor do ITA ainda comenta que há um certo "nervosismo precipitado" na mídia relacionado ao caso. De acordo com o especialista, a falha em ambos os acidentes é, "provavelmente", de procedimento e não necessariamente do modelo do avião.
Com isso, ele considera que os esforços da Boeing em solucionar o problema já estão todos concentrados e, caso seja necessário, se for identificado um problema mais sério, a própria empresa norte-americana deverá impedir os 737 Max 8 de voar. Ele ainda lembra que houveram casos semelhantes com outros modelos de aeronave, como o Airbus 320.
"A A320 também apresentou problemas, mas foi resolvido e nem se fala mais nisso hoje. A mesma coisa deve acontecer na Boeing. A população fica com um certo medo, claro, mas não é necessário, é preciso ter calma", afirma Jorge. Em nota, a Gol pede desculpas pelos transtornos causados e conta com a compreensão de todos os seus clientes.