Quase metade das famílias cearenses (46,9%) estiveram em situação de insegurança alimentar entre os anos de 2017 e 2018, o equivalente a 1,3 milhão de pessoas. O Estado é o terceiro maior do Nordeste com famílias nessa situação. Já em relação ao País, o Ceará ocupa o 7º lugar. Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-1018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, nesta quinta-feira (17).
A pesquisa divide a insegurança alimentar em três níveis: leve, moderada e grave. A insegurança consiste na preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos ou qualidade inadequada. Em casos de insegurança alimentar grave, a fome pode ser uma das realidades vivenciada pelas famílias.
Para o economista Alex Araújo, a restrição da renda está diretamente vinculado a quantidade e qualidade dos alimentos ingeridos pelos cearenses.
"A restrição da renda em relação ao consumo de bons alimentos e alimentos naturais têm um impacto muito grande. Os estados do Nordeste sofrem muito com a questão da renda, em especial o Ceará. A nossa renda média é metade da renda brasileira, isso faz com que muitas pessoas que sofram com a situação de pobreza e isso repercute na segurança alimentar", comenta.
Segundo o IBGE, historicamente, as regiões do Norte e Nordeste são as que mais apresentam a situação de insegurança alimentar. " Historicamente, as regiões continuam apresentando as menores proporções de domicílios com segurança alimentar, enquanto o Sul e o Sudeste têm apresentado as maiores prevalências no tempo", pontua o instituto em nota.
Veja situação do CE por categorias:
- Segurança alimentar:4,5 milhões de pessoas
- Insegurança alimentar leve: 2,7 milhões de pessoas
- Insegurança alimentar moderada: 1,3 milhão de pessoas
- Insegurança alimentar grave: 590 mil pessoas
Perspectivas
Araújo ressalta que o número de famílias em situação de insegurança alimentar pode ter resultados mais negativos em curto prazo, já que a pandemia trouxe inúmeros impactos para o cotidiano das pessoas.
"Levando em conta o impacto que a pandemia trouxe para a economia e do grande impacto sobre as famílias mais pobres, é de se esperar que a curto prazo você tenha uma piora dessa situação, com números maiores da insegurança alimentar", pontua.
Apesar disso, o economista comenta que a pandemia trouxe mudanças positivas para os lares cearenses, já que por estarem em isolamento em suas residências, as pessoas se viram na "necessidade de cozinhar" e isso reduziu um pouco o consumo de comidas processadas.
Além das questões orçamentárias, Araújo aponta que os maus hábitos alimentares das pessoas está interligado com a rotina cada vez mais intensa e com a facilidade de acesso à alimentos mais processados.
"A questão da renda, associada à questão cultural e essa pressão que a gente tem da vida moderna de não ter tempo, ele acaba gerando uma repercussão na má qualidade da alimentação", avalia.
Brasil
A pesquisa revela que mais de 25 milhões estavam sofrendo com algum grau de inseguraça alimentar, o equivalente a 36,7%. Cerca de 16,4 milhões estavam com insegurança alimentar leve, 5,6 milhões com insegurança alimentar moderada e 3,1 milhões com insegurança alimentar grave.
De acordo com o IBGE, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil foram as áreas com percentuais mais elevados de domicílios particulares onde a fome esteve presente, com prevalências de insegurança alimentar grave de 10,2%, 7,1% e 4,7%, respectivamente.