Previsto para acontecer no início do próximo ano, o leilão da quinta geração de telefonia no Brasil deve promover maior conexão em áreas afastadas dos centros urbanos e, em estados como o Ceará, a participação dos pequenos provedores de telecomunicações será decisiva, segundo apontam especialistas e o mercado brasileiro de telecom.
A entrada destes prestadores de pequeno porte (PPPs) no certame, com foco nos blocos regionais, deve levar sinal de telefonia - inicialmente os já existentes (4G ou 3G) - para as periferias de cidades do Interior, assim como na cobertura das estradas, segundo aponta os primeiros relatórios da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Dados da Anatel trabalhados pelo Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares, indicam que, hoje, dos 184 municípios do Ceará, 30 não têm 4G ainda. Mas isto não significa que os outros 154 já assistidos pela tecnologia no Estado, estejam plenamente cobertos pelo sinal 4G, uma vez que a lei exige apenas o atendimento nos centros urbanos de cada cidade.
“A ativação (do 5G), que pode ocorrer em 2021, deve ser em capitais, nos bairros com maior poder aquisitivo ou turístico, algo mais isolado. Fortaleza é uma das capitais importantes que devem receber logo o 5G, e com certeza está na lista das prioridades”, aponta o conselheiro administrativo da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Basílio Perez.
Maior acesso à rede
Segundo o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, o objetivo neste primeiro momento é de democratizar o acesso à rede móvel e otimizar onde o fluxo é maior. “O pessoal das grandes cidades vai ter acesso a uma velocidade maior, a uma cota de dados maior, com o mesmo preço, praticamente. E o pessoal das cidades menores, que ainda não tem o 4G, vai ganhar o 4G. Como o 5G, de início, beneficia as cidades maiores, para compensar, a Anatel estabeleceu o compromisso de levar 4G onde não tem”, explica.
O relatório que discute a metodologia de preços para o leilão do 5G propõe, “entre os objetivos da instalação da nova tecnologia, o atendimento de localidades (não sede de municípios) expandindo, pela primeira vez com o serviço móvel, o atendimento da população que não reside nos distritos sede”.
Além disso, há “a ampliação da área de cobertura urbana dos compromissos de 4G, de 80% para 95% da área urbana das sedes municipais”.
“Por fim, impõem a implantação de redes de transporte de banda larga, ampliando a capilaridade das redes de fibra ótica nacionais, que são a base para a prestação dos serviços de internet com capacidade e qualidade adequadas a demanda da sociedade”, diz o documento que se encontra entre as informações abertas para consulta pública.
Para o presidente da provedora regional Brisanet, José Roberto Nogueira, a divisão das áreas a serem abastecidas pela rede é benéfica para as empresas em ascensão e também para as grandes empresas. “Esse modelo permite que um provedor regional entre no bloco, que aumente a cobertura para estados vizinhos. Por isso esse bloco destinado às PPPs acompanha muitos compromissos, como o de atuar em municípios com menos de 30 mil habitantes e em estradas, o que para um grupo maior pode não ser tão rentável”, afirma.
Conexão em movimento
O conselheiro da Abrint, Basílio Perez, reforça a importância de contemplar e priorizar as estradas. “São uma questão de segurança. O 5G vai ter características que vão ajudar quando vierem os carros autônomos. Então, é importante que as estradas estejam todas conectadas. Mas isso é um trabalho longo, não é uma coisa que vai acontecer de um dia para o outro”, observa.
Outro compromisso das provedoras que adquirirem alguns blocos é com região de Backhaul, interseção entre os municípios e as estradas, zona conhecida popularmente como “entrada da cidade”, onde o sinal de internet costuma oscilar. Entre as características as quais Basílio se refere, está a capacidade de manter mais pessoas conectadas ao mesmo tempo, além de uma resposta mais rápida na comunicação entre as máquinas. “Há superioridade também na velocidade de transmissão dos dados, existe uma latência menor, ou seja, o tempo de resposta do 5G é menor do que o do 4G”, exemplifica o conselheiro da Abrint.
A Anatel reforça a ideia de utilização da nova geração de telefonia em diferentes setores produtivos, uma vez que “a utilização das aplicações suportadas por meio do espectro (elegidos para o 5G) tem se estabelecido e integrado importantes partes de inúmeras cadeias de produção, nos diversos setores da economia como serviço, indústria e, inclusive, a agropecuária”.
Smartphones mais caros
Apesar de, segundo o presidente da consultoria Teleco, o preço da nova tecnologia não ser muito discrepante ao que é ofertado atualmente, o que vai pesar no bolso dos consumidores é o preço dos smartphones. “Inicialmente, o preço do smartphone 5G vai ser muito caro. Hoje é muito caro, no ano que vem deve estar mais barato, mas pode levar um tempo para ele chegar no preço dos 4G”.
Sobre o preço do serviço prestado, o presidente da Brisanet avalia que o consumidor não deve sentir diretamente no bolso a otimização do serviço. “A tendência é sempre ser mais barato, ou pelo menos o mesmo preço, entregando cada vez mais banda. O preço da banda larga está estacionado há pelo menos dez anos, nesse período, a velocidade aumentou centenas de vezes e o preço diminuiu”, considera.
Consulta pública
Dentro das discussões para o melhor modelo de 5G no Brasil, a Anatel informou que vai promover um espaço de debate entre prestadoras, fornecedores, indústria e academia em 25 de março, em Brasília. As inscrições devem ser feitas no www.anatel.gov.br.