300 ex-becistas ainda continuam na ativa

Funcionários do BEC foram incorporados aos quadros do Bradesco e tiveram as funções redefinidas

O demorado processo de privatização do Banco do Estado do Ceará (BEC), além de sacrificar finanças e o perfil da instituição como fomentadora do desenvolvimento local, promoveu também a mudança na atuação dos funcionários da instituição, que, ao serem agregados ao Bradesco, passaram a exercer novos cargos e enquadraram-se ao modelo comercial do sistema financeiro global.

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Dez anos depois da efetivação da privatização, após a instauração de planos de demissão voluntárias e processos judiciais movidos pelo Sindicato dos Bancários para garantir os direitos adquiridos como funcionários públicos, aproximadamente 300 becistas - como eram chamados os funcionários do BEC - ainda continuam na ativa, segundo estimativa do Sindicato dos Bancários do Ceará.

"São 108 ex-becistas na caixa de previdência privada do BEC, mas ainda tem outros aposentados que continuam trabalhando, o que deve dar aproximadamente umas 300 pessoas", estima o ex-funcionário do BEC e atual diretor do Sindicato, Robério Ximenes. Ele, no entanto, não contabilizou o pessoal que saiu do banco estatal após a entrega dele para a iniciativa privada, a partir de maio de 2006.

Ximenes acompanhou de perto o processo de privatização que se intensificou no início dos anos 2000, logo depois de o BEC ser federalizado e passar para o controle do Banco Central (BC). Já como diretor do sindicato e associado à Associação dos Funcionários do BEC, ele relembrou a instauração do programa de demissões aplicado pelo governo estadual assim que o anúncio de privatização foi dado, em 1994. Segundo ele, os becistas que permaneceram tiveram de se enquadrar na nova dinâmica.

Mudança de perfil

"Com o fechamento de algumas agências, o Bradesco terceirizou muitos serviços, utilizando-os como correspondentes bancários", explicou Ximenes sobre como o novo controlador aproveitou as agências do BEC instaladas no Interior e também a mão de obras disponível nelas.

Inicialmente, como instituição estadual e, depois, como federal - ao passar a ser controlado pelo Banco Central, no fim dos anos de 1990 -, o BEC teve o perfil de atuação mudado drasticamente após a privatização.

"O BEC sempre foi um banco de fomento, que gerava emprego e renda, fazia diversos tipos de financiamento, inclusive crédito rural e industrial, além de projetos sociais que o governo possuía e era gerido pelo BEC", relembra Ximenes.

Mais que a estrutura, remodelada e modernizada, os funcionários do banco estatal precisaram adaptar-se. Eles saíram de uma instituição que desempenhava uma ação de fomento ao desenvolvimento do Estado para uma rotina intensa de venda de cartas de produtos e metas mensais para cumprir.

A nova dinâmica fez com que alguns desistissem, mesmo com a manutenção dos direitos garantida por lei, e investissem em outros trabalhos ou bancos. No entanto, os cerca de 300 remanescentes persistiram e ainda hoje conservam a função conquistada no BEC no Bradesco. (AOL)