Pedir um hambúrguer está ao alcance do toque dos dedos na tela do celular. E é possível escolher entre dezenas de opções de variados estabelecimentos. Como se sabe, nem sempre foi assim: há 30 anos, por exemplo, fortalezenses se aglutinavam em um endereço que resiste até hoje na Rua Barão do Rio Branco, à época em frente ao Cine Diogo, próximo à Bunnys e à Marisa, no centro da Cidade, para o que seria um marco no segmento de alimentação fora do lar em Fortaleza: a chegada da primeira unidade do McDonald’s.
Desde a primeira inauguração até hoje, a trajetória da gigante mundial de franquias em solo alencarino ganhou novos contornos: atualmente são 26 unidades em todo o Ceará, presentes, além de Fortaleza, nos municípios de Sobral, Juazeiro do Norte, Crato, Eusébio e Maracanaú, entre formato tradicional de loja, em shoppings e nas ruas e também no modelo Drive-Thru. A marca também conta com 50 quiosques de sorvete.
O diretor da Associação Brasileira de Franchising (ABF) para a região Nordeste, Cândido Espinheira, explica que quando a franquia do McDonald’s chegou ao Ceará, a marca já tinha presença estabelecida no Sul e no Sudeste. Aquele momento foi, portanto, um dos primeiros passos para o que seria nomeado como movimento de espiral das franquias do ramo.
“O que nós observamos é um movimento em espiral: a grande maioria das franqueadoras era no Sudeste e posteriormente elas foram se movimentando para as outras capitais e agora estão interiorizando. Há um crescimento e principalmente a interiorização dessas franquias, sobretudo para as cidades maiores do interior que possuem condições de absorver esses negócios”, explica Espinheira.
Considerando esse contexto, o diretor regional da ABF avalia que ainda há um espaço interessante para crescimento desse ramo no Nordeste. Além do movimento de espiral no franchising relacionado à alimentação fora do lar, ele avalia que também vem sendo observado o que seria o sentido inverso: franquias que nascem nas capitais do Nordeste, por exemplo, e vão crescendo e escoando para o interior e para Sul e Sudeste.
“Temos importantes referências na região Nordeste, como a Bebelu, Camarão e Cia., Grupo Bonaparte, Donatário, Sal e Brasa. Acredito que a alimentação fora do lar ainda não atingiu a sua plenitude em um país como o Brasil, que é cheio de problemas, porém repleto de oportunidades. Não é um mercado que se esgota tão facilmente”, pontua.
Mas o que explica o sucesso do McDonald’s em Fortaleza?
Para entender um pouco do sucesso dos fast foods e especialmente da primeira unidade do McDonald’s em Fortaleza, vale a pena relembrar o momento que a Capital cearense vivenciava no início dos anos 90. O historiador e professor da Universidade Federal do Ceará, Sebastião da Ponte, pontua que o centro da Cidade revigorava naquele momento “sua característica de principal lugar de compra e trabalho”. “‘No centro é mais barato’ é uma máxima que corresponde à verdade”, diz.
Ele acrescenta alguns elementos como a saída das residências, dando lugar às lojas, clínicas e lanchonetes, bem como o novo Mercado Central, a reforma da Praça do Ferreira, em 1991, e o alargamento de vias que corroboram o crescimento comercial do bairro.
Mas a unidade da Barão do Rio Branco não foi a única do McDonald’s em Fortaleza por muito tempo: uma semana depois, o franqueado local, primeiro e único até hoje, Adolfo Bichucher, inaugurava uma nova unidade, no Shopping Iguatemi, que oportunamente na época passava por uma expansão. A explicação de Bichucher para a escolha desses dois primeiros locais é simples: estar aonde as pessoas estão. “E até hoje é a nossa estratégia, estamos aonde tem gente”, diz.
Memória afetiva
Há quem lembre - e saiba cantar até hoje - da música que dizia os ingredientes do clássico BigMac: “dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles no pão com gergelim - é BigMac!”. Ela é apenas uma parte das recordações envolvendo a marca e que marcaram a memória de quem viveu, sobretudo, a infância nos anos 90 e início dos anos 2000.
Mas é quase impossível falar em memória afetiva envolvendo a marca McDonald’s e não lembrar dos icônicos brindes do McLanche Feliz, que fazem parte da rotina dos restaurantes até hoje e incluem brinquedos dos mais variados personagens e temas, como os filmes Toy Story, Procurando Nemo, Os Incríveis e outros.
Criados com o propósito de ser mais um atrativo para o público infantil, os brindes do Mc Lanche Feliz - versão brasileira da norte americana “Happy Meal”, ultrapassaram as barreiras etárias, conquistando adolescentes e adultos, a depender do tema. Os itens se tornaram objeto de colecionadores, que guardam consigo vários pedaços da história da marca na forma de brinquedo.
Uma dessas pessoas é o jornalista Fabrício Girão, cuja coleção conta com cerca de 50 brindes. A paixão pelos brindes começou ainda na infância, mas a decisão de colecionar não foi algo planejado.
“Quando criança, eu gostava de completar as coleções porque isso significava mais brinquedos para brincar, então sempre que eu ia com meus pais e meu irmão no shopping, a gente escolhia os brinquedos que ainda não tínhamos”. Os preferidos dele são a coleção do Cartoon Network. “São personagens de desenhos que eu adorava na infância, assistia todos os dias”.
Apesar também não lembrar exatamente da primeira vez em um dos restaurantes da franquia, o jornalista conta que sempre associa o McDonald’s a momentos em família e de diversão. “Ali pelo começo dos anos 2000, meus pais costumavam levar eu, meu irmão e primos no McDonald’s da Washington Soares, e na época eles colocavam vários brinquedos daqueles de parque, como cama elástica e escorrega gigante, no estacionamento”.
“Ir no shopping pra comprar alguma coisa, ir no cinema ou só passear mesmo significava parada quase que obrigatória no McDonald’s. Então, pra mim, ele tem essa memória afetiva de ter estado presente em muitos momentos da minha vida”, relembra Fabrício.
Mariana Scalzo, diretora de Comunicação da Arcos Dorados - divisão Brasil, pontua que a missão da franquia vai além das refeições, com o objetivo de "proporcionar bons momentos para os clientes ao lado da família e amigos".
"Ficamos extremamente honrados por nossos clientes nos deixarem participar de momentos-chave de sua vida", afirma Mariana.
Impacto no mercado de trabalho
Transversalmente à revolução na alimentação fora do lar, a chegada dos fast-foods a Fortaleza também provocaram mudanças no mercado de trabalho local, demandando um novo perfil de mão de obra. Vladyson Viana, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), destaca que apenas na rede Sine foram disponibilizadas mais de 1,5 mil vagas nos últimos três anos para o McDonald’s.
“A chegada do McDonald’s inaugura um novo modelo de negócio em alimentação fora do lar, com rápido atendimento. Isso acabou pautando uma nova lógica de mercado, com as praças de alimentação, o drive-thru. Logicamente isso demandou mão de obra, gerando novas demandas”, detalha Vladyson.
Ele explica que o perfil dos ocupantes dessas vagas é, sobretudo, de pessoas jovens, no início da trajetória profissional, com alta rotatividade.
Hoje, o McDonald’s no Ceará emprega 1,1 mil pessoas diretamente, mas ao longo de 30 anos cerca de 11 mil já passaram profissionalmente pelo McDonald’s no Ceará. A média de atendimento nas lojas do Estado é de 1,25 milhão de clientes por mês, de acordo com Adolfo Bichucher.
“Hoje, 90% dos cargos de gestão são ocupados por pessoas que começaram como atendentes. Além disso, dentro dos nossos cargos de chefia, temos o orgulho de dizer que 56% são ocupados por mulheres, enquanto em âmbito nacional esse número está em torno de 50%”, arremata o empresário.