A proximidade do cidadão e de agentes de endemia segue como uma das principais tarefas da Prefeitura de Fortaleza no combate às arboviroses. Nesse sentido, o Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor) criou o aplicativo “Xô, Mosquito!”, através do qual a população pode denunciar focos de proliferação do Aedes Aegypti na Capital.
Somente em 2020, o aplicativo reuniu mais de três mil processos de queixas de locais a serem investigados, um número praticamente igual ao do ano anterior. Após a denúncia, um agente de endemia visita o lugar em até 48h, com uma abordagem cuidadosa para não causar desconforto. “O objetivo é estimular não necessariamente a denúncia, mas a identificação e combate deste foco, em prol da saúde coletiva”, explica o gerente da Célula de Vigilância Ambiental e de Riscos Biológicos de Fortaleza, Atualpa Soares.
O aplicativo está disponível para o sistema android. Nele, além das denúncias, o usuário se cadastra e pode escolher "proteger semanalmente minha residência" ou obter dados. Há ainda dados acerca do mosquito, como se proteger dele, bem como informações para gestantes.
Transmissão
De acordo com o primeiro boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) de 2021, houve 20.653 confirmações de dengue em todo o ano de 2020. O mosquito Aedes Aegypti transmite ainda a zika e a chikungunya. Foram, 882 e 142 confirmações de diagnóstico no Ceará em 2020, respectivamente.
De acordo com indicadores da Prefeitura de Fortaleza, 15.201 casos de dengue foram notificados na cidade. Deles, 7.900 foram confirmados, com cinco óbitos. Em 2021, o aplicativo “Xô, Mosquito!” já registrou 108 denúncias. As regionais II, V e IX foram as que mais receberam reclamações, com 19, 14 e 17 ocorrências, respectivamente.
“Em geral, desde 2016 não percebemos muitas distinções de lugares e bairros”, revela o gerente. Antes da reformulação de regionais (que passaram de sete para doze no último janeiro), as V e VI estavam no pódio de maiores registros.
A população também tem feito denúncias através de outros meios, como ligações e canal da ouvidoria e Distritos Técnicos de Endemias. Quase 100% das denúncias são apuradas, com exceção de situações atípicas, quando agentes não localizam os proprietários ou em caso de morte do dono do terreno.
Quadra chuvosa
As ações para a contenção das doenças ocasionadas pelos vetores indesejados no período da quadra chuvosa de 2021 tiveram início ainda em novembro de 2020. Há pelo menos seis anos, segundo Atualpa Soares, as estratégias se iniciam ainda no fim do ano anterior. Neste ano, 1.200 profissionais da Vigilância Ambiental visitarão mais de 538 mil visitas domiciliares.
O próprio boletim epidemiológico da Prefeitura é um aliado nas atividades, indicando as sazonalidades de ocorrências das viroses. “Essa força-tarefa intersetorial envolve as secretarias da Educação, da Conservação. Sempre numa precipitação de comunicação e mobilização social, para quando as chuvas chegarem, a mensagem ainda estar fresca na memória coletiva”, justifica Atualpa.
Em época de chuvas, é preciso redobrar a atenção em casa, pois quase 80% dos focos encontram-se em residências. Outras orientações envolvem lavar a Caixa d’água a cada seis meses, sobretudo com cuidado nas bordas (onde os ovos são, de fato, postos), lavar os locais com produtos à base de sódio, e virar para cima recipientes que possam acumular água.
“Às vezes os ovos com transmissão podem estar onde menos pensamos: numa calha, num vaso de um banheiro desativado, ou até mesmo na água para um animal que não tomou. É preciso muita atenção”, completa o gerente.
Covid-19
Um grande agravante da situação é em relação à combinação das transmissões da Covid-19 com arboviroses. O Diário do Nordeste publicou, no início deste mês, que a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) já se preocupava com a possibilidade de duas epidemias simultâneas.
“Não queria nem pensar num paciente que pega as duas doenças. Imagina um idoso com dengue e coronavírus? Então, por isso, trabalhamos com uma atenção maior, pois o agente pode levar vírus e também ser contaminado ao entrar na casa. É um desafio de muito cuidado”, finaliza Atualpa.