O quanto o seu trabalho lhe coloca em risco de contaminação pelo coronavírus? No Ceará, em, pelo menos, 14 cidades, mais de 40% do total de trabalhadores, devido às atividades exercidas no dia a dia, têm altas chances de contrair a Covid-19. O cálculo que mensura o grau de exposição e a probabilidade de pegar a doença foi feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em Fortaleza, por exemplo, dos 660 mil trabalhadores formais que constam nos dados oficiais usados no estudo, 302 mil, 46%, têm elevado risco de contágio.
No Estado, a proporção de trabalhadores com probabilidade alta de contaminação, além da Capital, supera os 40% nas cidades de Maranguape, Quixadá, Camocim, Barbalha, Itapipoca, Crato, Iguatu, Canindé, Caucaia, Tianguá, Crateús, Juazeiro do Norte e Brejo Santo. Nas quatro últimas cidades, a cada 10 trabalhadores formais, 5 estão em ocupações mais vulneráveis à contaminação pelo vírus.
O levantamento, produzido em 2020, por pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), da UFRJ, mapeou cidades do Brasil inteiro e considerou 2,5 mil ocupações, divididas em 13 grupos, conforme a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho.
Os dados sobre a quantidade de trabalhadores em cada cidade foram extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério da Economia, e são de 2018, mais atualizados disponíveis.
Nos grupos da análise do risco de contágio pelo coronavírus constam, dentre outros, os trabalhadores da saúde, do comércio, da educação, do entretenimento, da agropecuária, da pesca, da computação, da indústria, da construção civil e do setor de transportes. Cada atividade, as características e a quantidade de trabalhadores envolvidos em cada cidade influencia o cálculo.
A pesquisa também projeta os riscos de contaminação de trabalhadores em outras 14 cidades do Ceará. São elas: Aquiraz, Pacajus, Aracati, Morada Nova, Pacatuba, Sobral, Russas, Limoeiro do Norte, Quixeramobim, Cascavel, Maracanaú, Eusébio, São Gonçalo do Amarante e Horizonte.
Nesses municípios, entre 18% e 39% dos trabalhadores formais têm elevadas chances de infecção por Covid.
No levantamento, os pesquisadores consideraram somente cidades com mais de 5 mil trabalhadores formais registrados, pois, segundo eles, localidades com poucos profissionais, devido à baixa variedade de ocupações, podem gerar índices equivocados.
Quais as atividades têm maior risco?
Para chegar às estimativas quanto aos riscos de cada atividade laboral, os pesquisadores utilizaram a metodologia já usada pelo New York Times, nos Estados Unidos, que tem como base dados oficiais do departamento do trabalho americano.
No estudo brasileiro foram tratadas três variáveis, calculadas em escalas. São elas:
- Com que frequência o exercício da ocupação demanda exposição à doenças ou infecções (esse índice vai se “nunca” até “diariamente”);
- Até que ponto o exercício da ocupação exige que o trabalhador realize tarefas em estreita proximidade física com outras pessoas (escala vai de “distante de outras pessoas” - até 30 metros - a “muito próximo”)
- O quanto o exercício da ocupação exige que o trabalhador fique em contato com outras pessoas (vai de “nenhum contato” até “contato constante”)
De acordo com o estudo, no Brasil, 2,6 milhões de profissionais da área de Saúde têm risco de contágio acima de 50%. Dentre eles, os mais vulneráveis são os técnicos em saúde bucal, com 100% de risco de contágio, tanto devido ao ambiente de trabalho quanto à proximidade física com os pacientes.
Na outra ponta, os trabalhadores menos vulneráveis são, conforme as estimativas, os que exercem as atividades laborais de maneira quase isolada, como os operadores de motosserra que, conforme a projeção, têm apenas 18% de chance de contágio.
Aqueles que exercem atividades intelectuais e podem fazer de modo mais solitário, como escritores e roteiristas, também aparecem com as menores probabilidade de contaminação.
O pesquisador Yuri Oliveira de Lima, do Laboratório do Futuro da Coppe/UFRJ, que desenvolveu o estudo, explica que o estudo foi feito no começo da pandemia para “tentar entender o quão em risco estão os trabalhadores brasileiros”.
Ele avalia que o estudo pode contribuir com a sociedade e a gestão pública em três momentos da pandemia:
- No começo, identificar quais as pessoas estão em risco e o que era possível fazer para proteger essas pessoas;
- Nos momentos de redução de casos de Covid, auxiliar na orientação da reabertura das atividades econômicas, indicando, por exemplo, quais atividades estavam em risco maior;
- Na vacinação, após os grupos de idosos e comorbidades serem imunizados, ajudar a identificar quais as atividades de maior risco, apontando quem está mais exposto.
Vacinação inclui categorias profissionais
No Ceará, conforme o Plano Estadual de Vacinação contra a Covid, que segue as orientações do Plano Nacional, após a 3º fase, na qual constam as pessoas com comorbidades e aquelas com deficiência permanente, começará a imunização dos grupos que englobam as categorias profissionais.
Até o momento, estão inclusos os trabalhadores da educação, do transporte coletivo, metroviário e ferroviário, do transporte aéreo e aquaviário, funcionários do sistema de privação de liberdade, caminhoneiros, trabalhadores portuários e industriais.
No início de abril, os profissionais da segurança pública do Ceará que atuam na linha de frente, que já estavam incluídos nos grupos prioritários, tiveram a imunização antecipada no Estado.
Em abril, o governador Camilo Santana voltou a pedir ao Ministério da Saúde a inclusão de professores no grupo prioritário da vacinação.