Realização do teste do pezinho cai 22% em Fortaleza durante a pandemia

Mesmo com a queda registrada entre março e junho últimos, taxa de cobertura se mantém equiparada à obtida em igual intervalo do ano passado

Obrigatório para recém-nascidos, o Teste do Pezinho identifica precocemente até seis doenças raras no bebê. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS), a taxa de cobertura do exame varia entre 70% e 75%, mesmo com a pandemia de Covid-19, que fez cair a procura pela triagem neonatal. Entre março e o último dia 18 de junho, foram realizados na Capital 7.182 testes contra 9.280 no mesmo período de 2019, uma baixa de 22,6%. Os dados enviados pela Pasta são do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen).

Em março, quando o Ceará confirmou os primeiros pacientes com testes positivos para o SARS-CoV-2, o número de exames decresceu de 2.062 para 1.890, o que representa queda de 8,3%. Nos meses seguintes, a busca registrou reduções mais acentuadas: com 2.077, abril teve 16,1% coletas a menos que o ano passado (2.476). Maio teve a menor busca do período, apresentou queda de 32,5%, já que a quantidade de crianças diminuiu de 2.598 para 1.753 neste ano. Os primeiros 18 dias de junho comparados a igual intervalo de 2019, contabilizaram encolhimento de 31,8%.

Apesar do recuo na demanda por testes do pezinho, a assessora técnica da Saúde da Criança da SMS, Ritemeia Mesquita, ressalta que o alcance atual de exames se equipara ao obtido no ano passado, porque mesmo com o isolamento social para combater o novo coronavírus, o serviço não teve restrições nas unidades. 

“Se comparar 2019 com 2020, a gente está com o percentual praticamente o mesmo, de 70% a 75%, então nem se pode considerar que teve uma queda, porque foi uma das estratégias que nós não tivemos nenhum prejuízo com relação à oferta. Não teve esse impacto negativo, justamente porque o serviço não deixou de ser ofertado”, destaca. 

A única mudança, porém, foi quanto à recomendação direcionada às mães. Elas foram orientadas a procurar maternidades para o exame, já que nas unidades básicas de atendimento, havia maior número de pessoas com suspeita de Covid-19. 

A mãe do pequeno João Gael, de um mês e uma semana, Annya Matins, passou pelo processo da procura do teste recentemente. Para ela o processo atrasou um pouco, fez o teste no oitavo dia, mas foi orientada que o atraso não traria maiores consequências. “Devido a pandemia o posto está tendo todo um cuidado. No começo eles tinham separado o posto para uma área do coronavírus e o outro lado só para pré-natal, vacina e teste do pezinho, então não mistura, e aí eu não tive [tanto] medo ou receio, não”, assegura. 

Ainda segundo Ritameia Mesquita, o que pode pode ter contribuído para a diminuição na realização dos exames foi a procura pelo teste particular. “O que talvez possa estar refletindo em uma diminuição, de repente aquela mãe fez algum esforço e chamou um laboratório particular e fez a coleta em casa”. Sendo assim, os exames pagos não entram na contabilidade do Lacen, a qual a SMS tem acesso. 

“A gente tem uma cobertura em torno de 75% e às vezes até 80%. Justamente esses 20%, a gente associa aqueles partos realizados por planos de saúde, que não fazem parte da rede do Sistema Único de Saúde (SMS). Então as mães acabam fazendo o exame na rede particular”, explica. 

Se analisarmos o cenário em todo o estado, do mês de março até o dia 15 de junho, foram realizado 1.088 testes do pezinho na rede hospitalar estadual, que consiste no Hospital Geral Dr. César (HGCC) e no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), na capital, e no Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral. Comparado ao ano anterior, que foram registrados 1.947, demonstra uma queda de 44% nos testes. 

Importância do teste

De acordo com o Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde, o teste do pezinho consegue diagnosticar, logo nos primeiros dias de vida, pelo menos seis enfermidades: fenilcetonúria (PKU), hipotireoidismo congênito (HC), doenças falciformes (DF) e outras hemoglobinopatias, fibrose cística (FC), hiperplasia adrenal congênita (HAC) e deficiência de biotinidase (DB). 

Para a pediatra Vanuza Chagas, é bastante preocupante essa queda nos números e pode acarretar consequências em um futuro próximo. “É preocupante essa queda, e tem que haver uma conscientização desses pais que não procuraram o exame, que procure com urgência”, frisa. “Ao demorar fazer esses exames, quanto mais essa procura for postergada, maior o risco de se terem consequências sérias no desenvolvimento de crianças e na saúde em geral”, conclui. 

De acordo com a pediatra é muito significativo para a saúde da criança que o teste seja realizado, principalmente nos cinco primeiros dias de vida. “Ele é um exame preventivo, muito importante, e o objetivo principal dele é detectar distúrbios no metabolismo. Doenças importantes que podem causar danos irreversíveis às crianças”,pontua.   

A médica explica que o diagnóstico precoce, pode evitar uma série de problemas mais sérios. “Quando essas doenças não são tratadas de imediato, elas podem causar deficiência mental e o comprometimento intelectual dessas crianças  e pode levar a óbito também”,alerta para as consequências que podem ser geradas.