Uma das situações mais triviais no cotidiano de uma cidade grande como Fortaleza é a tentativa de localizar-se na urbe, por meio dos endereços. Ao lembrar das avenidas, ruas e travessas, contudo, não é sempre que se percebe que elas guardam mais que somente os referenciais de posicionamento, mas também ajudam a resgatar a história de personalidades locais e nacionais ou mesmo das relações entre os moradores de determinada região com o espaço urbano.
Para colaborar com quem busca esse tipo de informação, o site Dicionário de Ruas de Fortaleza resgata as biografias dos endereços de Fortaleza, indo além das histórias daqueles que nomeiam as vias públicas, mas também traçando os perfis toponímicos das regiões onde aquelas ruas estão inseridas.
O projeto foi pensado pelo agrônomo Márlio Falcão, que trabalhou como dirigente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Ceará, Piauí e Maranhão. Por lidar com muitos dados, durante esse tempo chegou a publicar nove livros sobre a genealogia e a toponímia dos municípios nordestinos, ou seja, o ramo que estuda as origens dos nomes dos locais.
Só em Fortaleza, foi realizado um trabalho de cerca de 12 anos para catalogar e realizar o levantamento toponímico de mais de 9 mil ruas. Em 2013, o filho de Márlio, o advogado Manoel Falcão, deu a ideia de reunir as informações num banco de dados e montar o site Dicionário de Ruas de Fortaleza, com a ajuda do engenheiro de Computação Flávio Carneiro. "A intenção inicial era fazer um livro, mas foi um trabalho bastante extenso, o que incluiu percorrer as ruas do Cemitério São João Batista, indo nos túmulos checar dados, ligar para os parentes das pessoas que denominavam as ruas e avenidas. Mas quando chegou a hora de publicar, tínhamos mais de 1500 páginas. Por isso surgiu a ideia de fazer o site", conta Manoel Falcão.
Além do site, uma adição recente foi um perfil no aplicativo de compartilhamento de imagens Instagram, onde fotos das ruas são acompanhadas de curiosidades sobre os logradouros.
Para Manoel Falcão, a importância de se ter as informações sobre as ruas vai além do registro histórico ou da nostalgia, mas incluem questões urbanas como localização, endereçamento para correspondências e a questão cartorária.
História jurídica
"As mudanças que ocorrem nos nomes das ruas merecem ser analisadas. Por exemplo, se alguém comprou um imóvel na avenida Dedé Brasil, quando ele decidiu vender já não tinha mais aquele nome, passou a ser avenida Silas Munguba. Então ele pode ter perdido mais de seis meses tentando retificar o registro no cartório. Por isso, no próprio site nós trazemos uma análise sobre a história jurídica e legal das ruas e propomos uma série de medidas que tornem mais efetivas essa denominação".
Além disso, as informações sobre a historicidade das ruas ajuda a entender e a repensar continuamente o ordenamento urbano, tal como opina Manoel Falcão. "Muito se fala em Fortaleza de reordenamento urbano. Fortaleza cresceu muito rápido. E o instrumento essencial, primário de qualquer ordenamento urbano é ter o labirinto da cidade identificado. Se não consegue utilizar isso da maneira adequada, qualquer tipo de planejamento da cidade vai sentir esse problema posteriormente", conclui.
Mais informações
Inst.: @dicionarioderuasfortaleza