Por conta da pandemia, exames e testes para diagnóstico de HIV caem 16,7% em Fortaleza

Entre janeiro e outubro de 2020, as redes municipais registraram 53.070 procedimentos realizados, inferior aos 63.709 acumulados durante o mesmo período no ano passado

Em meio à pandemia, cearenses recorreram menos à rede de saúde de Fortaleza para diagnóstico do vírus da imunodeficiência humana (HIV). É que nas estimativas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o número de exames e testes rápidos para identificação do vírus, realizados entre janeiro e outubro, caiu de 63.709 do ano passado para 53.070 no mesmo período de 2020 — uma redução de 16,7%.

 

O serviço com a maior queda foi a testagem rápida. Enquanto, em 2019, as unidades municipais contabilizaram 58.951 testes realizados, no ano corrente, a quantidade caiu para 48.930 procedimentos rápidos, o que indica diferença de 17%. Em paralelo à redução das testagens, os exames laboratoriais para diagnóstico da doença também diminuíram. Foram 4.758 contabilizados nos 10 primeiros meses de 2019 contra 4.140 em igual período deste ano. 

As informações se referem aos atendimentos realizados nos 113 postos de saúde da Capital, além das nove unidades com gerência municipal dos Serviços de Assistência Especializada em HIV/Aids (SAE) e Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA).

Em todo Ceará são 31 centros para atendimento de pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHIV). O Sistema Verdes Mares solicita, desde sexta-feira (27), informações sobre testagem de HIV para a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa). No entanto, até o fechamento desta reportagem, a pasta não retornou com números atualizados.

A Planilha de Notificação Semanal (PNS) mais recente, que compreende os casos cearenses registrados entre janeiro e o último dia 21, indica que 1.153 casos de HIV e 545 de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida(Aids) foram notificados no Estado. 

Dinâmica

Coordenador da área técnica de IST/Aids e Hepatites Virais da Secretaria Municipal, Marcos Paiva indica que a redução já era esperada durante a fase aguda da pandemia. “O próprio Ministério da Saúde recomendou que houvesse uma diminuição de pessoas circulando em serviços especializados. Foi uma redução grande, mas está dentro do esperado para a situação”, complementa. 

Com as medidas sanitárias, os serviços de testagem foram adaptados para garantir que alguns atendimentos fossem priorizados. “Quando era uma testagem de urgência, estava acontecendo normal. A população geral que gostaria de fazer teste de rotina, eram orientados a esperar. A partir de junho, a gente começa uma diminuição nos casos de Covid e as pessoas começaram a se sentir mais seguras a procurar o serviço”, adiciona o coordenador. 

O infectologista Ivo Castelo Branco, médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), alerta que a procura tardia pelo diagnóstico pode prejudicar o tratamento a longo prazo, além de aumentar a possibilidade de transmissão. “É algo que não tem sintoma. Normalmente, a pessoa não tratada vai infectar outra pessoa. Quanto mais precoce você iniciar o tratamento, menos complicações você vai ter ao longo do acompanhamento. Quando você começa a tratar, você zera o vírus no seu sangue. Só em fazer isso você faz com que a imunidade do infectado não caia”, salienta o especialista. 

Por isso, aqueles que estiveram expostos a situações de contágio, como relações sexuais desprotegidas, devem buscar os serviços de saúde. “A pessoa que esteve com mais de três pessoas diferentes nos últimos três meses é uma pessoa de risco. Ela tem que fazer o teste”, exemplifica o infectologista, reforçando que “só recebe a medicação se tiver o diagnóstico. Atualmente, quando você diagnostica o início do tratamento é imediato”.  

Tratamento

O impacto pandêmico também chegou ao Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), em Fortaleza. Referência no suporte para pacientes que convivem com HIV, a unidade é o principal destino das pessoas positivadas para o vírus na rede pública estadual. A consequência foi a redução de novos acompanhados: entre março e novembro de 2020, a rede cadastrou 482 soropositivos — 13,3% a menos do que o mesmo período do ano anterior, quando 556 recorreram ao sistema pela primeira vez.

Durante os meses mais críticos do isolamento social a redução de fluxo também foi percebida na emergência. O HSJ estima que, entre abril e junho, 200 pacientes foram atendimentos mensais, bem menor do que os 330 acompanhados que passavam por mês na rotina pré-pandemia.

De acordo com a unidade, o HSJ voltou aos índices antes da pandemia em julho. Atualmente, 10.796 cearenses soropositivos de todo o Estado são atendidos no centro médico. Neste ano, o Hospital ampliou a oferta na farmácia e passou a permitir a retirada de medicação antirretroviral suficiente para 90 dias de tratamento.