O Ceará é pioneiro no procedimento de utilização da pele de tilápia para construção do canal vaginal em mulheres portadoras da síndrome de Rokitansky, também conhecida como agenesia vaginal. A disfunção provoca alterações no útero e na vagina, tornando o canal vaginal muito curto ou até mesmo ausente. Uma a cada cinco mil mulheres é portadora.
Inédita no mundo, a técnica consiste na construção do canal vaginal usando a pele de tilápia. Até o momento, quatro mulheres no Estado passaram pelo procedimento de construção vaginal com pele de tilápia.
A estratégia revolucionária foi descoberta pelo médico e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Leonardo Bezerra, seguindo pesquisa liderada pelo professor doutor Manoel Odorico Moraes, do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM). A cada ano, cerca de cinco procedimentos de correção da síndrome têm sido executados somente na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A pesquisa ainda está em caráter clínico-experimental e é executada por uma equipe multidisciplinar da Maternidade Escola Assis Chateaubriand e do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos.
O trabalho é acompanhado e desenvolvido com pacientes do Ambulatório de Adolescente da MEAC, coordenado pela médica Zenilda Bruno. A parte experimental da pesquisa e o processamento da pele de tilápia é realizada no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos, da UFC, coordenado pelo professor Manoel Odorico Moraes.
Procedimento médico
O doutor Leonardo Bezerra explica que a cirurgia é realizada abrindo um espaço entre a vagina e o ânus e forrando-o com a pele de tilápia. "Após o procedimento, é colocado um molde com um formato de vagina, deixando o espaço aberto e impedindo que as paredes da 'nova vagina' se juntem novamente", explica o médico.
A aplicação é diferente do uso da pele da tilápia no tratamento de queimaduras, em que o material é colocado como curativo e depois retirado. Já no caso da agenesia vaginal a pele da tilápia é absorvida e se transforma em tecido.
Bezerra detalha que é a partir desse procedimento, as células dos tecidos da paciente em contato com as células e fatores de crescimento liberados pela pele de tilápia se transformam. "Como as células-tronco, formando, assim, um tecido com células iguais à de uma vagina real. Finalmente, ocorre a total incorporação e biocompatibilidade da pele de tilápia", comenta.
Baixa invasão
Segundo doutor Bezerra, o procedimento cirúrgico é minimamente invasivo com recuperação sem complicações e ausência de cicatrizes visíveis. Além de não ter risco de rejeição e nem de infecções por vírus.
Antes o método, utilizado há mais de 20 anos, era feito com o uso de enxertos, com a utilização da pele localizada na virilha da paciente, que pode facilitar o crescimento de pelos no interior da vagina, diferente do que ocorre no procedimento pioneiro. "É um m processo demorado, doloroso e estigmatizante, deixando cicatrizes e risco de pelos incômodos no tecido vaginal reconstruído", explica o médico Leonardo Bezerra.