Partos de mães adolescentes reduzem, mas cenário ainda preocupa

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 12,6% de todos os nascidos vivos residentes em Fortaleza no ano de 2019 eram filhos de mães adolescentes. Em 2010, no entanto, a porcentagem era de 17,3%

É comum que os termos 'gestação' e 'trabalho de parto' sejam associados a uma fase de transformação e alegria na vida de uma mulher; para uma adolescente, porém, as transformações esperadas são outras. Embora preocupante, a gravidez precoce não é rara no Ceará. Em Fortaleza, no entanto, os índices vêm caindo nos últimos dez anos. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 12,6% de todos os nascidos vivos residentes na Capital em 2019 eram filhos de mães adolescentes. Em 2010, a porcentagem era de 17,3%.

Para a assessora técnica da Saúde da Mulher da SMS, Léa Dias, a maior preocupação se dá no recorte da faixa etária das gestantes. "A gente vê um decréscimo. Mas a adolescência compreende as pessoas de 10 a 19 anos de idade e, dentro desse intervalo, a gente faz um outro extrato, que é de 10 a 14 e de 15 a 19. A gente tem percebido, não só em Fortaleza, mas de uma forma geral, que mesmo com esse porcentual diminuindo, a gente tem um pequeno aumento nessa faixa etária de 10 a 14 anos, que preocupa muito a gente".

No ano passado, ainda conforme dados da Pasta, 4.324 crianças de mães com idade entre 10 e 19 anos nasceram na Capital. "Quando a gente chega com uma menina de 11 anos pra fazer um parto, a equipe toda fica sensibilizada. Onde foi que a gente se perdeu pra chegar nessa situação, de uma criança ter um bebê?", pondera Léa Dias.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, de 2011 a 2018, o estado do Ceará contabilizou 10.168 bebês nascidos vivos cujas mães tinham menos de 15 anos.

A chefe do Ambulatório do Adolescente da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), Maria Tereza Dias, reforça que os casos de adolescentes que engravidam com menos de 14 anos de idade são considerados estupro de vulnerável. "Temos que tomar cuidado, principalmente com esse grupo, porque a gravidez na adolescência é um problema de saúde pública. Isso pode perpetuar a pobreza, porque há uma alta taxa de abandono da escola depois que a adolescente engravida, fazendo com que a futura mãe só tenha acesso a subemprego, e perpetue a baixa renda", diz.

Atendimento

No eixo das ações voltadas para a prevenção da gravidez precoce, Léa Dias afirma que, sem o apoio de outros setores, o sistema de saúde não daria conta de manter o processo. Ela explica que o programa Saúde na Escola oferece o eixo Direitos Sexuais e Reprodutivos, que trabalha a prevenção da gravidez divulgando métodos contraceptivos. Os materiais são recebidos nas unidades de saúde, e informações sobre o uso são transmitidas aos adolescentes.

"A gente também realiza com a Unicef uma atividade que é a Semana do Bebê. Em 2018, 2019 e 2020, o tema foi e é a prevenção da gravidez na adolescência, onde a gente faz esse trabalho de divulgação, alertando sobre os riscos, a questão da volta da menina para a escola, de forma que a gente possa pautar esse tema pra juventude", ressalta.

Em Fortaleza, o atendimento especializado para adolescentes grávidas é oferecido em unidades como o Hospital Distrital Gonzaga Mota (Gonzaguinha) de Messejana, e a Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), no Bairro Rodolfo Teófilo. Foi na Meac que, aos 14 anos, Alice (nome fictício) deu à luz sua primeira filha. Ela foi encaminhada para o local no ano passado, após descobrir a gestação durante o quarto mês.

"A minha irmã mais velha começou a ver que meu corpo 'tava' mudando, aí comprou um teste na farmácia pra eu fazer. No mesmo dia eu levei uma queda, aí a minha mãe me levou logo no posto de saúde, e viram lá que eu 'tava' grávida", conta Alice.

A adolescente receberá alta da unidade ainda neste mês, para retornar à casa no Bairro José Walter, que compartilha com a mãe e duas irmãs. "Agora com a minha filha, minha vida mudou. Mas eu quero voltar logo pra escola. Quero continuar estudando", afirma.

Prevenção

Durante o atendimento às meninas gestantes, os métodos contraceptivos reversíveis de longa duração - conhecidos como LARCs - são apresentados com o objetivo de evitar a reincidência da gravidez na adolescência. "A literatura internacional mostra que esses métodos são mais eficientes para essa prevenção, como o DIU de cobre. Isso é oferecido para elas, mas é uma decisão individual", ressalta Léa Dias.

A chefe do Ambulatório do Adolescente da Meac enfatiza a importância da educação e divulgação de informações para prevenir a gravidez precoce. Maria Tereza descreve que muitas meninas sabem se cuidar, mas não conseguem marcar uma consulta com o médico, principalmente as mais jovens, que precisam das mães para ir ao posto de saúde. "Às vezes, elas nem contam que iniciaram a vida sexual. Por isso, o essencial é dar mais informações, uma educação melhor, e garantir acesso ao serviço médico de postos de saúde, onde podem fazer o planejamento reprodutivo", destaca.