Pacientes psiquiátricos reclamam da falta de medicamentos de alto custo em Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) da Regional VI Fortaleza. Os usuários dormiram na fila para receber a medicação que estava prevista para ser entregue na manhã desta sexta-feira (22), no CAPS da Messejana, em Fortaleza. Segundo a secretaria municipal da Saúde, o serviço foi regularizado no período da tarde.
Um dos funcionários chegou a indicar chá de cidreira para usuário acalmar os nervos, de acordo com relatos. "A gente fica aqui de madrugada e mandaram o Sr. Raimundo tomar chá de cidreira e capim santo para acalmar os nervos", disse o acompanhante de um paciente que precisa de três remédios para o tratamento médico.
Familiares de outros pacientes disseram que o problema da falta de medicamento é antigo e, às vezes, precisam comprar para não ver o parente em crise.
"Quem tem paciente na família sabe como é importante essa medicação. A gente chega a ficar doente junto com o paciente. No mês passado, compramos essa medicação, mas fizemos um grande esforço. Porque é muito triste ver minha mãe tendo episódio", disse a filha de uma paciente que sofre de transtorno bipolar.
Falha no sistema do Caps e atendimento manual
A paciente Luciana da Costa está com a data marcada para receber a medicação hoje e se surpreendeu ao ouvir de um funcionário que o motivo é um problema no sistema. " A minha medicação acaba hoje e me disseram aqui que estão sem sistema faz três meses e por isso estão fazendo manualmente", lamentou a paciente.
Há relatos também na mesma unidade da falta de médicos. "Eu vim me consultar, não consigo vaga desde janeiro de 2018, remarcaram para agosto do ano passado, eu vim e remarcaram para hoje novamente. Estou aqui e também não deu certo", disse o paciente Ramon.
Mãe trabalha em aplicativo para pagar remédio
A equipe de reportagem do Sistema Verdes Mares também esteve presente no Caps Pinto Madeira, no bairro Aldeota, e a reclamação dos pacientes é a falta de vagas para consultas. De acordo com familiares e usuário, apenas 10 fichas são entregues por dia. Além disso há também falta de medicamento.
A mãe de um dos pacientes faz trabalho extra como motorista de aplicativo para conseguir comprar a medicação e disse que há dois meses não consegue os remédios no Caps. " Tem muita gente doente precisando do remédio. Não tem médico suficiente para atender todo mundo. A revolta é que a gente precisa de mais consultas e dos remédios. Estou fazendo corridas para conseguir pagar a medicação" lamentou.
Secretaria da Saúde
O coordenador das Redes de Atenção Primária Especializada da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Ruy de Gouveia, explicou que os medicamentos não foram entregues porque precisavam antes ser cadastrados e regularizados em sistema específico ligado ao Ministério da Saúde, acessado por meio da rede de internet da prefeitura que, segundo o coordenador, passa por instabilidade nas últimas três semanas.
"A farmacêutica não estava conseguindo fazer as inserções dos medicamentos no sistema. Existe um prazo pra digitação desses dados. Se perder, a pessoa perde o direito de receber o medicamento. É um controle rigoroso. Com isso, a gestora da unidade pegou um turno da semana, hoje de manhã, pra colocar a farmacêutica pra fazer todas essas inserções", justificou Gouveia.
Sobre a "recomendação" de tomar chá, a resposta de Gouveia foi de que "se o funcionário falou em tom de deboche, ele errou porque não pode tratar paciente dessa forma", mas ele não tinha como afirmar se funcionário disse isso ao acompanhante.